Por Larissa Garcia e Alex Ribeiro — De Brasília e São Paulo
27/09/2023 05h01 Atualizado há 9 horas
Em meio à preocupação com as expectativas de inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central pregou, na ata de sua última reunião, divulgada ontem, “uma atuação firme” para reduzir as previsões de agentes econômicos. Além disso, o colegiado reforçou a sinalização de manutenção do ritmo de corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) “nas próximas reuniões”, enfatizando que uma intensificação exigiria “surpresas positivas substanciais” no cenário.
Nos últimos meses, as expectativas de inflação coletadas pelo relatório Focus estão em 3,5% para 2025 e 2026, acima da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. O BC tem chamado essa diferença entre a meta e as projeções do mercado de “reancoragem parcial”, porque as previsões ficaram estacionadas em 4% no primeiro semestre deste ano após debates sobre uma possível elevação do objetivo e caíram para 3,5% quando o CMN manteve o percentual em 3% no longo prazo.
Na última quarta-feira, o BC reduziu os juros em 0,50 ponto percentual pela segunda vez, para 12,75% ao ano. “O comitê avalia que a redução das expectativas virá por meio de uma atuação firme, em consonância com o objetivo de fortalecer a credibilidade e a reputação tanto das instituições como dos arcabouços econômicos.”
O documento mostrou divergência entre os diretores em muitos temas, como cenário externo, impacto do fenômeno El Niño na inflação, expectativas e mercado de trabalho e discutiram hipóteses para a resiliência da atividade econômica. “Alguns membros” se mostraram particularmente preocupados com a possibilidade de projeções desancoradas por um período longo.
“Alguns membros enfatizaram em particular a composição benigna recente da inflação e a queda na inflação de serviços, enquanto outros enfatizaram que os fundamentos subjacentes para a dinâmica da inflação de serviços, em particular a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho, ainda não permitem extrapolar com convicção o comportamento benigno recente”, disse.
Em relação à atividade, foram levantadas quatro possibilidades para o crescimento econômico “mais resiliente” nos últimos trimestres. Uma delas é que o bom resultado da agropecuária tenha afetado indiretamente outros setores da economia, o que não justificaria a magnitude da surpresa; outra é a elevação da renda disponível para consumo. O colegiado levantou a hipótese de um juro neutro mais acima dos 4,5% utilizados atualmente, mas decidiu manter a estimativa e disse que o nível teria menos impacto no curto prazo.
Ata mostrou divergência entre os diretores em temas como o cenário externo
Além disso, o comitê discutiu se o PIB potencial, que é quanto a economia pode crescer sem elevar os preços, estaria mais alto. “Ainda que julgue nesse momento prematuro reavaliar o crescimento potencial, o comitê pondera que a persistência de um crescimento resiliente nos próximos trimestres sem impacto inflacionário pode, no futuro, levar a uma reavaliação do crescimento potencial.”
Segundo o documento, cada uma das quatro possibilidades tem implicações diferentes para a condução da política monetária. O colegiado notou, ainda, um aperto no grau de ociosidade da economia “na margem” em função da maior resiliência da atividade econômica.
A ata reiterou também a mensagem de que a taxa básica precisará permanecer em ambiente contracionista. O BC também reforçou que incertezas nos mercados sobre a política fiscal estão ligadas agora à execução das metas para o atingimento do esperado para o resultado primário do setor público. Antes, essa incerteza era desencadeada pelas discussões sobre o arcabouço fiscal.
“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”, afirmou.
Em relação ao cenário internacional, o Copom chamou atenção para o crescimento global, que tem sido marcado pela resiliência da atividade e do mercado de trabalho nos Estados Unidos, em “contraposição a um menor crescimento projetado para a economia chinesa”.
Fonte: Valor Econômico

