Enquanto a maior parte do mercado se divide entre janeiro e março nas apostas sobre quando o Banco Central dará início a um ciclo de cortes de juros, algumas poucas casas mantêm alguma expectativa de que a autoridade monetária ainda possa reduzir a Selic em dezembro.
Isso mesmo após o tom mais conservador adotado pelo BC na quarta-feira.
O motivo: a aposta de que o enfraquecimento da atividade econômica daqui até a reunião de dezembro irá sensibilizar o Copom e abrir espaço para uma mudança na comunicação entre as reuniões e, consequentemente, para uma redução no juro básico.
O Bank of America, com a equipe liderada por David Beker, é uma das casas cuja projeção no cenário básico continua a ser um corte em dezembro.
Eles notam que a próxima reunião será em 10 de dezembro, poucos dias depois da divulgação do PIB do terceiro trimestre, que deve consolidar o cenário de desaceleração econômica, no momento em que indicadores de alta frequência já têm apresentado um desempenho fraco em julho e agosto.
“Esse cenário deve levar o BC a realizar um corte na reunião de dezembro de 2025, em linha com nossas expectativas. Depois disso, o ciclo de afrouxamento deve continuar, com a Selic terminando 2026 em 11,25%.”
No mercado de opções, há cerca de 93% de chance de manutenção da taxa básica no encontro de dezembro. E, agora, a probabilidade de a Selic continuar em 15% também na reunião de janeiro passou a ser majoritária (59%).
Algumas casas abandonaram esse “call” logo após a decisão de juros. O J.P. Morgan migrou para um início dos cortes em março e elevou sua projeção para a Selic no fim do próximo ano de 10,75% para 11,5%. Já a consultoria VVC, do economista Vitor Vidal, passou de dezembro para janeiro a sua expectativa para o começo do ciclo. “Não tem como brigar com o BC”, diz.
No caso da Galapagos Capital, a economista-chefe, Tatiana Pinheiro, acredita que o comunicado do Copom da última quarta-feira foi menos conservador que os anteriores e não exclui a possibilidade de um corte em dezembro.
“Vai ter um momento em que os juros de 15% vão continuar suficientes [para a convergência da inflação à meta de 3%], mas não mais necessários. E eu acho que esse momento está muito próximo”, diz Pinheiro.
“É importante ressaltar que a taxa de juro real [medida obtida a partir do nível da Selic descontada da inflação] está em 9,6% e acima de 9% desde janeiro. É um grau de aperto monetário bastante grande.”
É um apontamento semelhante ao feito pelo economista-chefe e CEO do BRP, Nelson Rocha Augusto, que também manteve a expectativa de corte em dezembro. Ele elogia o trabalho do BC, diante da “convicção para dobrar as expectativas”, mas avalia que a atividade irá surpreender para baixo.
“Estamos vendo dados de queda de vendas dessazonalizado, um comportamento cambial que dá uma janela de oportunidade muito boa… É uma situação que criará, no nosso entender e com o conhecimento dos dados até a reunião de janeiro, condições para que seja feito um corte na Selic sem haver uma postura mais leniente ou menos dura por parte do BC.”
Fonte: Valor Econômico

