Ainda que o tom emitido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na ata de sua última reunião tenha sido bastante conservador, o J.P. Morgan revisou hoje seu cenário para a trajetória dos juros no Brasil e passou a incorporar quatro cortes de 0,25 ponto na Selic em 2025.
“Embora reconheçamos que os fatores internos sejam preponderantes à flexibilização monetária global, não podemos subestimar a importância das perspectivas globais para os mercados emergentes, especialmente para aqueles que são tão integrados financeiramente, como o Brasil”, afirmam os economistas do banco americano.
Nesse contexto, diante da perspectiva de que o Federal Reserve (Fed) irá reduzir os juros de maneira mais agressiva nos Estados Unidos — cortes de 0,5 ponto nas duas próximas reuniões e cortes sequenciais de 0,25 ponto ao longo de 2025, levando os Fed Funds para perto dos 3% —, o J.P. Morgan alterou sua projeção de que a Selic encerraria o ano de 2025 estável aos 10,5%.
“As consequências dessa mudança [de política monetária nos EUA] são duas. Em primeiro lugar, ela aumenta nossa convicção por taxas estáveis no curto prazo — o que contrasta com a precificação do mercado de um aumento de mais de 1,2 ponto percentual nos próximos doze meses. Em segundo lugar, abre espaço para discutir a postura relativa de política monetária e um ciclo de flexibilização à frente”, afirmam os economistas Cassiana Fernandez, Vinicius Moreira e Mirella Sampaio.
Para avaliar quanto e quando o Banco Central poderia cortar os juros, os economistas levam em conta o comportamento do real, entendido como uma proxy para o sentimento em relação aos desenvolvimentos globais e locais, e as expectativas em torno da combinação de políticas econômicas, especialmente da política fiscal.
Assim, com o tempo e sem mais nenhuma deterioração significativa na gestão da política fiscal, supondo também estímulos fiscais mais brandos e um crescimento menor no próximo ano, o J.P. Morgan espera um ciclo de flexibilização moderado em 2025.
“Considerando tudo isso, estamos trabalhando agora com uma flexibilização de 1 ponto percentual a partir de junho, levando a taxa de juros para 9,5% até o fim de 2025”, dizem. Os economistas, contudo, ponderam que “o caminho da flexibilização não é simples e o nível de incerteza é alto”.
“Com base em uma falta de credibilidade, o Copom terá de navegar pelas incertezas globais com prudência e se destacar na comunicação da vigilância e do compromisso com sua meta de inflação de 3% nos próximos trimestres. É importante ressaltar que ainda vemos a necessidade de manter a taxa de política monetária em níveis restritivos até o fim de 2025, já que se espera que as incertezas fiscais permaneçam ao longo do processo orçamentário de 2026 e que a atividade desacelere apenas gradualmente. Porém, o grau necessário de restrição deve ser reduzido em meio ao que esperamos ser condições financeiras globais mais frouxas”, concluem.
Fonte: Valor Econômico

