Indústria farmacêutica diz que apenas seis remédios para doenças raras e oncológicos foram incorporados sem restrição
PorBeth Koike
— De São Paulo
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Em debate sobre os elevados custos do setor de saúde, que sobem três vezes acima da inflação, o presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Rebello, destacou o impacto dos medicamentos de alto custo no preço do convênio médico.
Há cerca de dois anos houve uma mudança na legislação que passou a permitir que remédios com novas tecnologias aceitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são automaticamente cobertos pelos planos de saúde. É necessário esperar apenas 60 dias e, em geral, não há abatimentos de preço como acontece na rede pública. Além disso, vários dos medicamentos destinados a doenças raras não chegaram à fase 3 de pesquisa clínica (última etapa).
Nesse contexto, Rebello disse, ontem durante Conferência Anual do SantanderCotação de Santander, que o “Brasil é a Disneylândia para indústria farmacêutica na inclusão de novos medicamentos”.
O Brasil é a Disneylândia para a indústria farmacêutica”
— Paulo Rebello
A agência reguladora destacou ainda ser preocupante a falta de previsibilidade para o setor, eventuais riscos à saúde dos pacientes e o impacto dos custos, dificultando que os consumidores mantenham seu poder de pagamento do plano de saúde. “É importante que o Brasil, por meio de seus órgãos competentes, mantenha o padrão seguido pelo mundo no que diz respeito à avaliação de tecnologia em saúde, em especial aquelas de caráter experimental e de altíssimo custo.”
As lideranças da Amil, José Seripieri Filho, mais conhecido como Júnior, e do FleuryCotação de Fleury, Jeane Tsutsui, também falaram dessa preocupação. “A incorporação de tecnologia com cuidado é muito importante”, disse a presidente do Fleury. “Uma operadora pequena quebra se tiver que pagar o Zolgensma [medicamento para atrofia muscular espinhal em crianças que custa R$ 7,6 milhões na rede privada]”, disse Júnior.
O Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) rechaçou a fala do presidente da ANS. “O fato é que as despesas dos planos de saúde com medicamentos são menores do que os recursos desperdiçados com fraudes, como é do conhecimento do senhor presidente da ANS. Comparada a países que têm sistemas de saúde parecidos, a saúde suplementar no Brasil ainda está muito atrasada, tanto na incorporação de novas tecnologias quanto na gestão dos serviços prestados”, informou Nelson Mussolini, presidente Sindusfarma, por meio de comunicado.
Mussolini destacou ainda que “a fala do presidente da ANS é um desserviço para a saúde brasileira, porque deixa transparecer que ele coloca os direitos dos usuários em segundo plano. Uma retórica descabida e totalmente fora da realidade, que nunca poderia ser dita pelo diretor presidente de uma agência regulatória, que não deve ter lado”.
A Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) informou que a fala do presidente da ANS não é “um posicionamento isolado. Têm sido recorrentes os ataques à indústria de inovação por parte do setor de saúde suplementar no último ano e meio, com falas que questionam de maneira leviana, inclusive, a segurança dos medicamentos, que no limite respondem por cerca de 10% dos custos de internação dos pacientes no setor privado”.
Ainda de acordo com comunicado enviado pela associação que representa a indústria farmacêutica “nos últimos dez anos, apenas seis medicamentos para doenças raras e oncológicas estão incorporados sem restrições, de um universo de 104 terapias registradas”. Mais recente Próxima Valor da diária sobe e hotelaria volta a atrair investimentos
Fonte: Valor Economico