A tarifa de 50% sobre as importações do Brasil, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na noite de quarta-feira (9), deve ter impacto direto e mais expressivo sobre companhias de capital aberto que têm no mercado americano parcela significativa de seus resultados. Analistas de mercado citaram companhias de segmentos distintos como Embraer, WEGCotação de WEG, Suzano, TupyCotação de Tupy, Frasle Mobility e Alpargatas entre as potenciais afetadas.
A Embraer foi uma das mais citadas nos relatórios divulgados nesta quinta-feira (10). Os analistas da XP Lucas Laghi, Fernanda Urbano e Guilherme Nippes escreveram que cerca de 23,8% das receitas da fabricante de aviões são diretamente derivadas de exportações para os EUA, principalmente de peças para aeronaves de aviação executiva. Eles calculam impacto negativo de 14% a 15% no lucro da Embraer a cada aumento tarifário de 10 pontos percentuais, dada a montagem final de jatos executivos Praetor e Phenom em suas instalações na Flórida.
No UBS BB, os analistas Alberto Valério, Rafael Simonetti e Andressa Varotto acrescentaram que, a cada 10% de tarifas, os custos da Embraer aumentam cerca de US$ 70 milhões. Segundo eles, o negócio de aeronaves executivas seria o mais afetado, com 75% das vendas para os EUA sendo taxadas pelo governo americano.
Os analistas Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Pedro Tineo, do Itaú BBA, ressaltaram que cerca de 46% das receitas da Embraer poderiam ser diretamente afetadas pelas taxas caso a companhia não aplique nenhuma medida para redução desses impactos.
A Embraer informou, em nota, que ainda avalia os possíveis efeitos da tarifa de importação anunciada pelo presidente Trump. Segundo a empresa, tais impactos serão abordados na conferência de resultados do segundo trimestre, em 5 de agosto. “A empresa está trabalhando com as autoridades competentes visando a restabelecer a alíquota zero dos impostos de importação para o setor aeronáutico”, disse. As ações da companhia fecharam ontem em queda de 3,7%, cotadas a R$ 75,32.
Os analistas do UBS BB também citaram a WEGCotação de WEG. Segundo eles, 25% das vendas da companhia vão para os EUA, mas ponderam que a empresa distribui bem a fabricação nos EUA, México e Brasil, reduzindo o impacto das tarifas. A estimativa é que cada aumento de 10 pontos na alíquota tenha impacto de 3% no lucro líquido da WEGCotação de WEG, sem contar possíveis efeitos cambiais e de juros por causa das incertezas. A WEGCotação de WEG informou que ainda não tem um posicionamento sobre a questão. Suas ações fecharam a R$ 39,90, queda de 0,52%.
Além de Embraer e WEGCotação de WEG, os analistas da XP liderados por Fernando Ferreira dizem que Suzano, TupyCotação de Tupy e Frasle Mobility (do grupo Randoncorp) estariam ente as mais atingidas, já que contam com pelo menos 10% das receitas vindas de exportações para os EUA.
O banco Goldman Sachs destaca a Suzano nesse cenário, considerando sua elevada exposição aos EUA. Como 19% das vendas líquidas da companhia vêm das operações em solo americano, o redirecionamento para outras regiões exigiria um esforço comercial e logístico significativo e poderia significar pressão sobre os preços no processo, afirmaram os analistas Marcio Farid, Henrique Marques e Emerson Vieira. A Suzano disse que ainda está analisando o cenário. Suas ações caíram 0,3% ontem, a R$ 49,85.
Em 2024, os EUA importaram cerca de 2,8 milhões de toneladas de celulose do Brasil. Em relatório, o banco ressalta que a substituição do mercado é grande demais para ocorrer de forma ordenada, o que pode causar desequilíbrios na oferta e na demanda no setor.
Para o J.P. Morgan, os efeitos devem ser sentidos pontualmente por alguns setores e não devem ter impactos macroeconômicos relevantes. As analistas Emy Shayo Cherman e Cinthya Mizuguchi escreveram que companhias dos setores industrial e de materiais básicos são as principais afetadas, uma vez que têm parcela relevante de exportações para os EUA. Elas citaram Embraer, TupyCotação de Tupy, Mahle Metal Leve e WEGCotação de WEG, e também Suzano.
Os profissionais do Bradesco BBI mencionam Embraer e WEGCotação de WEG, além de fabricantes de autopeças, como Iochpe-Maxion, TupyCotação de Tupy, Mahle Metal Leve e Randoncorp – uma vez que, além das tarifas de 50%, Trump já havia imposto taxa global de 25% sobre o setor automotivo.
Segundo relatório liderado por André Ferreira, aproximadamente 5% da receita da Iochpe-Maxion vem dos EUA, mas apenas uma pequena parte é exportada diretamente do Brasil, já que a empresa possui fábricas em diversos países. A empresa foi procurada, mas não quis comentar a decisão do governo Trump.
No caso da TupyCotação de Tupy, a empresa tem exposição de 23% ao mercado americano, sendo que entre 50% e 60% desse volume é exportado a partir do Brasil, ou seja, cerca de 13% da receita total pode ser afetada, com risco de perda de competitividade. Procurada, a empresa não quis se manifestar. Os papéis da TupyCotação de Tupy terminaram o pregão de ontem a R$ 18,42, alta de 2,91%.
De acordo com o banco, cerca de 10% das receitas da Mahle Metal Leve vêm dos EUA, enquanto na Randoncorp o impacto seria sentido principalmente nas operações da Frasle Mobility e da Master, com 4% do faturamento vindo de exportações.
A Randoncorp foi procurada, mas não retornou até o fechamento desta edição. As ações da companhia caíram 1,99% ontem, para R$ 8,38. As ações da Frasle Mobility, controlada da Randoncorp, recuaram 2,79% na B3Cotação de B3, cotadas a R$ 26,15. O Valor não conseguiu contato com a Mahle Metal Leve. As ações da companhia caíram 0,33%, a R$ 29,83.
No segmento de autopeças, onde atuam Frasle Mobility e da Master, os Estados Unidos representam o segundo maior mercado de exportação para a indústria de componentes instalada no Brasil. Os embarques para o mercado americano somaram receita de US$ 1,37 bilhão em 2024.
Em nota, o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças) disse que a elevação do tributo “terá efeitos danosos para toda a economia brasileira”. No ano passado, as vendas da indústria da autopeças para os Estados Unidos representaram 17,5% de toda a exportação do setor.
Os analistas do Itaú BBA, por sua vez, mencionaram que TupyCotação de Tupy e Mahle Metal Leve têm de 10% a 14% do seu faturamento exposto às tarifas, e veem efeitos diretos na redução da demanda por peças das duas companhias. Já a WEGCotação de WEG, segundo eles, tem maior amplitude para contornar as tarifas, por meio da transferência de produção de itens feitos no Brasil para fábricas no México e nos próprios EUA, sendo que somente 7% do faturamento total da empresa está exposto às taxas.
O Bradesco BBI cogita que a Gerdau pode ser afetada de forma ligeiramente positiva, por ter operações nos EUA e a indústria siderúrgica americana ser fortemente dependente das importações brasileiras de aço semiacabado (cerca de 60% do total das importações desse produto). A companhia não quis comentar. As ações da siderúrgica subiram 0,54% ontem na B3Cotação de B3, cotadas a R$ 16,88.
Na área de varejo, Azzas 2154 e Alpargatas seriam as mais afetadas pelas tarifas, de acordo com analistas do Citi, J.P. Morgan e Bradesco BBI. O analista do Citi João Pedro Soares escreveu que as duas companhias têm exposição relevante ao mercado americano, com exportações para os EUA respondendo por 3% das receitas da antiga Arezzo&Co e 4% da dona da Havaianas. Procuradas, as duas companhias não se manifestaram.
O banco destaca que o impacto das tarifas nos resultados da Azzas pode ser de 7% do lucro em 2026, enquanto na Alpargatas as taxas reduziriam a última linha em 4%, mas ponderou que a situação ainda é “fluida”. Na B3Cotação de B3, nesta quinta-feira, os papéis da Azzas caíram 1,38%, para R$ 36,49, enquanto as ações da Alpargatas perderam 1,71%, a R$ 8,61.
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) afirmou em nota que “recebeu com surpresa” o anúncio das tarifas de 50%. A entidade disse que “medidas unilaterais e intempestivas servem aos interesses dos brasileiros ou dos estadunidenses” e que o diálogo deve ser norteado pela diplomacia.
Já para o setor de petróleo e gás, o impacto seria limitado (ver reportagem Decisão deve afetar combustíveis e petroquímica). Para os analistas liderados por Vicente Falanga, do Bradesco BBI, a empresa do setor mais exposta às taxas seria a Prio, com cerca de 13% da receita proveniente do mercado americano. No entanto, eles notam que ainda não é claro se exportações de petróleo estarão ou não isentas da tarifa, uma vez que, no chamado Dia da Liberação, Trump havia deixado de fora a commodity das taxações. A petroleira foi procurada e não retornou até o fechamento. Suas ações terminaram o dia em queda de 1,81%, a R$ 41,80, na bolsa.
Os analistas da XP lembram que o Brasil também importa dos EUA derivados de petróleo, gás natural e químicos, o que pode ser afetado em caso de retaliação. Empresas como a Braskem poderiam se beneficiar positivamente no mercado de resinas brasileiro. A petroquímica não deu retorno até o fechamento da reportagem. Suas ações terminara a quinta-feira cotadas a R$ 9,95, alta de 0,91%. (Colaboraram Ana Luíza Carvalho, Ana Luíza Tieghi, Beatriz Kawai, Carlos Prieto, Cristian Favaro, Helena Benfica, Ma Leri, Marli Olmos e Stella Fontes)
Fonte: Valor Econômico

