Por Sergio Lamucci, Valor — São Paulo
05/12/2023 11h35 Atualizado há 3 horas
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O resultado do PIB do terceiro trimestre confirmou a desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira, mas sem entrar no terreno negativo. Houve alta de 0,1% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, número um pouco melhor que o recuo de 0,2% estimado pelos analistas.
Pelo lado da demanda, o consumo das famílias registrou expansão significativa, assim como o setor externo, enquanto o investimento levou um tombo. Pelo lado da oferta, serviços e indústria tiveram um desempenho ainda razoavelmente positivo, enquanto a agropecuária caiu com força, o que era esperado devido ao avanço expressivo do setor na primeira metade do ano, especialmente no primeiro trimestre, embora a queda tenha sido inferior à projetada pelos analistas.
O consumo das famílias cresceu no terceiro trimestre 1,1% em relação aos três meses anteriores, pela terceira vez consecutiva avançando na casa de 1% nessa base de comparação. O mercado de trabalho ainda forte, com desemprego em baixa e renda em alta, ajuda a explicar o desempenho do principal componente do PIB pelo lado da demanda.
Além disso, o volume de transferências de renda, por meio do Bolsa Família, também contribui para esse resultado, num ano em que a inflação de alimentos mostra uma queda expressiva.
O contraponto negativo pelo lado da demanda foi mais uma vez o desempenho do investimento. A chamada formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação) recuou 2,5% em relação ao segundo trimestre, a quarta queda seguida.
Os juros ainda muito altos inibem o investimento das empresas, destacam analistas. Incertezas que permanecem sobre as contas públicas também tornam o quadro indefinido em alguma medida, e podem ter algum peso para explicar esse mau resultado.
A taxa de investimento, nesse cenário, ficou em 16,6% do PIB no terceiro trimestre, bem abaixo dos 18,3% do PIB do mesmo período de 2022. A taxa de poupança também recuou, de 16,3% do PIB no terceiro trimestre do ano passado para 15,7% do PIB no mesmo intervalo deste ano, refletindo em parte “a deterioração visível” do resultado fiscal, diz Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs.
Já o setor externo teve contribuição bastante positiva ao crescimento. As exportações de bens e serviços tiveram alta de 3% em relação ao segundo trimestre, enquanto as importações recuaram 2,1%. Nas contas de Ramos, o setor externo colaborou com 0,89 ponto percentual para a expansão do PIB no terceiro trimestre.
Por fim, ainda pelo lado da demanda, o consumo do governo teve alta no terceiro trimestre de 0,5%, perdendo fôlego em relação ao 1% registrado no trimestre anterior, mas ainda assim uma expansão razoável.
Os serviços, que respondem por dois terços do PIB pelo lado da oferta, tiveram um desempenho mais forte que o esperado. A alta foi de 0,6% em relação ao segundo trimestre, acima do 0,3% do consenso dos analistas ouvidos pelo Valor.
Os destaques foram os segmentos de informação de comunicação (1%), atividades financeiras (1,3%) e atividades imobiliárias (1,3%), enquanto o comércio teve aumento mais modesto, de 0,3%. O setor de transportes, por sua vez, recuou 0,9%.
Na indústria, houve alta no terceiro trimestre de 0,6%, mas o desempenho entre os setores foi marcado por grandes disparidades. Apenas o segmento de eletricidade, gás, água e esgoto teve crescimento forte, de 3,6% na comparação com o trimestre anteriores.
A indústria de transformação, por sua vez, ficou quase estagnada, com alta de 0,1%. A indústria extrativa também teve avanço de apenas 0,1%, mas o segmento vinha de aumentos expressivos nos trimestres anteriores. O pior resultado foi da construção civil, com recuo de 3,8% em relação ao segundo trimestre.
A agropecuária, por fim, caiu 3,3% no terceiro trimestre, depois de crescer 12,5% no primeiro e 0,5% no segundo. Era esperada uma queda considerável, devolvendo parte das altas registradas na primeira metade do ano.
Ainda assim, foi um recuo menor do que o projetado pelos economistas. O consenso dos analistas ouvidos pelo Valor era de uma queda de 4,3%. Na comparação com o mesmo trimestre de 2022, a agropecuária cresceu 8,8%.
Como de costume, a divulgação das contas nacionais do terceiro trimestre trouxe revisões dos resultados anteriores. O crescimento do primeiro trimestre de 2023 foi reduzido de 1,8% para 1,4%, na comparação com os três meses anteriores; a alta do período de abril a junho passou de 0,9% para 1%. O resultado do PIB de 2022 foi alterado de 2,9% para 3%, enquanto o de 2021 caiu de 5% para 4,8%. O PIB está agora 7,2% acima do nível pré-pandemia, lembra Ramos.
O terceiro trimestre evidenciou a perda de fôlego da atividade, que era esperada depois de vários trimestres de juros elevados. A política monetária restritiva tem afetado especialmente o investimento, enquanto o consumo das famílias segue firme, devido à força do mercado de trabalho, às transferências de renda do governo e à desaceleração da inflação.
É uma composição de crescimento que preocupa, uma vez que, investindo pouco, o país terá pouca capacidade de crescer a taxas mais altas de modo sustentado. Do lado positivo, vale lembrar a contribuição do setor externo ao PIB, resultado de exportações robustas, especialmente de commodities.
O PIB do terceiro trimestre deixou uma herança estatística de 3% para este ano. Isso significa que, se a economia brasileira não crescer no quarto trimestre, o PIB de 2023 terá uma expansão de 3%.
Com o resultado divulgado hoje, as projeções para o crescimento neste ano tendem a se concentrar nesse nível. O consenso dos analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) no Boletim Focus aponta um avanço de 2,84% em 2023.
05/12/2023 10:58:35
Fonte: Valor Econômico