Por Alex Ribeiro, Valor — Brasília
27/09/2023 12h55 Atualizado há 44 minutos
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sofreu ataques de membros da base governista durante o seu depoimento na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, horas antes de seu encontro com o presidente Lula.
O vice-líder da maioria na Câmara dos Deputados e vice-líder do governo Lula no Congresso Nacional, deputado Lindbergh Faria (PT-RJ), questionou Campos Neto por supostamente participar da campanha eleitoral de Bolsonaro e também por aplicações financeiras mantidas no exterior em fundos exclusivos.
O deputado Jilmar Tatto (PT-SP) perguntou se Campos Neto aplicava em fundos indexados pela taxa Selic, o que, segundo ele, poderia configurar uma situação de conflito de interesse que – afirmou – deveria ser submetida à comissão de ética pública.
Os ataques são costumeiros nas apresentações de Campos Neto na Câmara, mas nessa manhã o clima ficou mais exaltado e envolveu mais temas pessoais, com foco menor na política de juros. O presidente do Banco Central terá uma reunião hoje no Palácio do Planalto, às 17h30, com o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a primeira desde dezembro do ano passado.
“Vossa Excelência não respondeu se tem aplicações em fundos exclusivos”, disse Lindbergh, depois de Campos Neto explicou que todas as aplicações que fez no exterior foram informadas ao Congresso e avaliadas pelos órgãos de controle. Ele também negou ter participado ativamente na campanha de Bolsonaro e disse ser um defensor de uma taxação com alíquota mais alta de recursos aplicados no exterior.
Deputados de outros partidos da base também atacaram Campos Neto. O vice-líder do governo na Câmara, Emanuel Pinheiro Neto (MDB-MT), disse inicialmente que iria restringir os questionamentos à política monetária, mas cobrou Campos Neto por vestir a camisa da seleção brasileira no dia da eleição presidencial e por participar de grupo de Whattsapp de antigos ministros de Bolsonaro.
Campos Neto foi quem pediu a audiência com Lula, formalizado por escrito, depois de ser criticado várias vezes pelo próprio presidente da República. “Se o presidente Lula me chamar a qualquer momento, para falar antes ou depois da reunião do Copom, eu irei”, disse Campos Neto, quando questionado sobre uma reunião feita com Bolsonaro num dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. “Inclusive hoje eu tenho uma reunião com o presidente Lula.”
Na sua apresentação, Campos Neto fez declarações em temas caros ao presidente Lula. Disse que um destaques dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre foi a expansão do consumo, que, segundo ele, foi puxado pela melhora na confiança do consumidor provocada pela queda da inflação. “O BC tem trabalhado nesse sentido para manter essa recuperação de forma sustentável e inclusiva”, disse o presidente do BC.
Campos Neto também fez afagos em Haddad, reconhecendo que a manutenção da meta de inflação em 3% permitiu, em parte, que o Copom começasse um ciclo de afrouxamento de juro em agosto. Haddad foi decisivo para evitar a adoção de uma meta maior na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) de junho, obtendo carta branca do presidente Lula para fixar o objetivo.
Campos Neto também foi compreensível sobre os percalços da execução da política fiscal. Disse que o mercado está descrente sobre o cumprimento da meta fiscal, mas reconheceu a importância do esforço da área econômica para persegui-la.
“Apesar de todo mundo entender a dificuldade de atingir a meta, e ser muito difícil cortar gastos, não só agora nesse governo, é muito importante persistir”, disse Campos Neto. “Então aqui a nossa mensagem está bem alinhada com o que o ministro Haddad tem dito. A gente acha que esse é um caminho bem promissor. E mesmo que a meta não seja cumprida exatamente, os agentes econômicos vão ver qual foi o esforço que teve na direção de cumprir a meta.”
Fonte: Valor Econômico

