Por Fernanda Guimarães, Valor — São Paulo
02/03/2023 12h18 Atualizado há 3 dias
Os bancos credores da Americanas receberam um novo aceno de capitalização na companhia, desta vez chegando a R$ 10 bilhões. Esse valor abre espaço, pela primeira vez desde o início da crise envolvendo a varejista, para que as instituições financeiras aceitem negociar, apurou o Valor.
A última sinalização havia sido a de um aumento de capital de R$ 8,5 bilhões, considerada insuficiente para sanar a situação financeira da companhia. O valor de R$ 10 bilhões foi informado inicialmente pelo colunista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”.
Segundo fonte que acompanha as negociações, apesar de os R$ 10 bilhões destravarem as conversas com os bancos, ainda não está claro se serão suficientes para recuperar a saúde da empresa. Parte dos credores calcula que a empresa precisa de mais, de cerca de R$ 12 bilhões de capitalização, bancada pelo trio de acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Desde o início da semana, as instituições financeiras começaram a sinalizar à varejista que tinha chegado a hora de as conversas avançarem, depois da reunião tensa no dia 16 de fevereiro, que causou frustração e revolta entre os bancos. A possibilidade de um aporte maior se deu por meio de conversas isoladas e ainda não existe uma nova reunião formal agendada com os credores, quando se espera que a nova proposta seja oficializada. Um novo encontro está sendo esperado para ser agendado nos próximos dias, disse outra fonte.
Inicialmente, os bancos falavam que o aumento de capital mínimo para salvar a varejista estava na ordem de R$ 15 bilhões. Nas últimas semanas, no entanto, já se discutia algo em torno de R$ 13 bilhões e mais recentemente se colocou que em R$ 10 bilhões haveria abertura para diálogo.
Na reunião do dia 16, a Americanas propôs uma capitalização de R$ 7 bilhões (sendo que desse valor, R$ 1 bilhão já havia sido injetado pelo trio no caixa da empresa), uma conversão de R$ 18 bilhões das dívidas em ações e dívidas subordinadas (a que fica no fim da fila para ser quitada) e, ainda, a recompra, com desconto, de dívidas com valor de face de R$ 12 bilhões. O desenho irritou os bancos, sobretudo pelo tamanho do aporte que os acionistas fariam, considerado insuficiente.
A transação, ao final, reduziria muito a dívida da Americanas, que entrou em recuperação judicial em 19 de janeiro, alegando dever R$ 42,5 bilhões, e colocaria os credores como importantes acionistas da Americanas. “Agora é preciso refinar o modelo, que só pode acontecer com conversa construtiva, que esse sinal [de capitalização] permite”, disse uma fonte. Outro executivo envolvido nas discussões vai na mesma linha. Segundo ele, R$ 10 bilhões abrem o diálogo, R$ 12 bilhões seriam uma proposta boa e R$ 13 bilhões deixariam os bancos muito felizes, nessa altura do campeonato.
“A reunião do dia 16 foi caótica, teve dedo em riste, uma oferta muito ruim dos acionistas. Agora acho que eles estão começando a colocar o pé na realidade, mas acredito que seria muito difícil chegar em R$ 15 bilhões”, disse a fonte, que acredita que a Americanas deve manter conversar bilaterais nos próximos dias para depois convocar uma nova reunião com os bancos e apresentar uma proposta “mais redonda”. “Acho que isso ainda não vai acontecer na próxima semana. Se for para ter outra reunião dura como a anterior, não faz sentido. Do jeito que está agora, a chance de um acordo ainda é de menos de 50%”, estima esse executivo. Procurada, Americanas não comentou. (Colaborou Álvaro Campos)
Fonte: Valor Econômico

