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Menezes, da Armor Capital: conservadorismo da ata aumenta credibilidade e torna qualquer ajuste futuro mais fácil — Foto: Silvia Zamboni/Valor
Após uma segunda-feira de pânico em boa parte dos mercados financeiros globais, um sentimento de alívio deu o tom no pregão de ontem e abriu espaço para uma recuperação dos índices acionários ao redor do mundo. Esta recuperação na demanda por ativos de risco deu força ao Ibovespa e à moeda brasileira, que ganhou impulso adicional com a comunicação conservadora utilizada pelo Banco Central (BC) na ata de sua última reunião de política monetária.
Assim, o que se viu no mercado de câmbio local foi uma recuperação do real, que exibiu desempenho bastante superior a seus pares e fechou o dia como a melhor moeda dentre as 33 acompanhadas pelo Valor. No encerramento do dia, o dólar recuou 1,48% frente ao real, negociado a R$ 5,6561 no segmento à vista. Já o euro comercial fechou em baixa de 1,74%, a R$ 6,1824.
O dia, desde o início, já era de alívio nos mercados globais. Após registrar o segundo pior tombo de sua história, ao cair 12,4% na segunda-feira, o Nikkei, principal índice da bolsa do Japão, fechou a sessão com ganhos de 10%, com a recuperação parcial se estendendo para outros índices na Ásia.
Em Wall Street, o Dow Jones subiu 0,76%; o S&P 500 avançou 1,04%; e o Nasdaq saltou 1,03%. O setor de tecnologia, um dos grandes atingidos na liquidação do dia anterior, foi destaque na recuperação e os papéis de “big techs” acabaram impulsionando os índices. A Nvidia avançou 3,78%, enquanto a Meta Platforms subiu 3,86% e a Microsoft teve alta de 1,13%. Já o Vix – índice conhecido como o “termômetro do medo” em Wall Street – recuou 28,16%, terminando o dia aos 27,71 pontos.
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A recuperação impulsionou também o Ibovespa, que avançou 0,80%, aos 126.267 pontos. “A percepção de recessão é bastante exagerada pelos dados que vimos e do ponto de vista de fundamentos, mas o que estava acontecendo no Japão se transformou em pânico, o que a gente não se via desde a pandemia”, afirma o superintendente de renda variável da SulAmérica Investimentos, João Saldanha.
“Em um cenário em que o juro vai começar a cair nos EUA porque a inflação está sendo domada, a percepção de que a economia está desacelerando mais fortemente vem junto. Por isso, investir em juros na margem vai ficar menos atrativo, assim como investir nas bolsas americanas, que são muito caras”, explica.
Para ele, como a bolsa brasileira está muito barata e há surpresa de crescimento econômico no país, ao mesmo tempo em que a economia americana desacelera, os Estados Unidos podem acabar atraindo menos fluxos de capital, abrindo a porta para o Brasil se tornar uma opção viável.
Neste contexto, o dia já se mostrava positivo quando o tom duro da ata do Copom deu força ao já esperado alívio do câmbio local. Alfredo Menezes, sócio e diretor de investimentos da Armor Capital, avalia que o conservadorismo observado na ata foi adequado, já que aumenta a credibilidade e confiança na condução da política monetária e torna qualquer ajuste futuro mais fácil de ser feito.
“Acho que grande parte [da melhora] do câmbio foi por causa da ata”, diz Menezes, sem desconsiderar o efeito positivo do movimento no exterior após uma sessão de amplo estresse.
Ainda que o dia no câmbio e em outros mercados tenha apresentado uma reversão parcial da aversão global a risco, o gestor acredita que ainda não se pode afirmar que o mercado tenha deixado de se preocupar com a ameaça de recessão nos Estados Unidos, uma vez que o enfraquecimento do mercado de trabalho do país acende um “sinal amarelo”.
Para Menezes, ainda que o real tenha se comportado melhor do que pares nos últimos dias, o câmbio deve se deteriorar mais e chegar aos R$ 5,80 no fim do ano, puxado por um período mais fraco de exportações e, portanto, de entrada de dólares no país. Isso, na sua visão, piorará a dinâmica de inflação, o que deve levar o Copom a subir a Selic em 2025.
Na avaliação do profissional da Armor, nem mesmo um início mais agressivo para o ciclo de cortes do Federal Reserve (Fed, banco central americano) seria suficiente para evitar o aumento dos juros por aqui. “Se o Fed cortar 0,5 ponto percentual, aumenta o diferencial de juros [entre EUA e Brasil], mas, por outro lado, se tiver que fazer isso é porque o cenário de recessão é predominante, então pode ser que tenha nova perda dos ativos de risco”, diz. “Eu não consigo fazer essa correlação direta do diferencial de juros” para justificar a manutenção da Selic, completa.
Ainda que concorde que um cenário de recessão americana será negativo para as moedas de países emergentes, incluindo o real, o time de estrategistas do J.P. Morgan ainda não está convencido de uma desaceleração tão brusca da economia dos Estados Unidos e, portanto, não estão posicionados para isso.
“Nossa mentalidade é mais a de procurar atenuar alguns movimentos extremos nos mercados emergentes, reduzindo a amplitude de nossas negociações e cortando as que têm o risco de perda de posição, nas quais não temos convicção suficiente ou que já se moveram muito na direção certa”, dizem os profissionais, em relatório.
Fonte: Valor Econômico

