Em questão de alguns meses, os Estados Unidos deixaram de ser o principal fornecedor de ajuda à Ucrânia para se tornar a maior incógnita para Kiev, após disputas internas entre membros dos partidos democratas e republicanos e a possível eleição de Donald Trump terem impedido a aprovação de novos pacotes de ajuda.
Do outro lado do Atlântico, a União Europeia (UE) e o Reino Unido tentam suprir a falta de ajuda americana para uma guerra que provoca cada vez mais impactos no continente. Somente no último mês o bloco europeu um pacote de ajuda financeira de 50 bilhões de euros e um pacote de ajuda humanitária de 75 milhões de euros. Porém, os esforços podem ser em vão sem a ajuda americana.
“A soma de todas as ajudas da Europa é uma fração do que a Ucrânia recebe dos Estados Unidos. A Europa não possui os recursos necessários para isso e, vale ressaltar, com os novos desdobramentos e a preparação para uma possível guerra com a Rússia, os governos europeus também precisam aumentar seus gastos com defesa e repor os seus estoques”, afirma Marina Miron, pesquisador do Departamento de Estudos de Guerra do King’s College.
Segundo estudo do Instituto Kiel, da Alemanha, para substituir completamente a ajuda militar dos Estados Unidos em 2024, os países europeus precisam dobrar o ritmo e o nível atual de ajuda militar.
No centro da disputa por nova ajuda dos EUA à Ucrânia está Trump, atualmente o candidato a presidência favorito a vencer as eleições, que vem dando declarações que preocupam Kiev e chegou a dizer que não iria defender países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que não cumprirem a meta de gastos da entidade e disse que “encorajaria” a Rússia a atacar esses países.
A posição de Trump se espalhou entre republicanos da Câmara dos Deputados dos EUA, especialmente os mais radicais, que enxergam na aprovação de um novo pacote de ajuda à Ucrânia como um desperdício de dinheiro, que seria melhor utilizado se fosse gasto com questões internas, como na proteção da fronteira sul dos EUA.
Apesar da retórica considerada problemática para os apoiadores da Ucrânia, há temores sobre as reais intenções de Trump, que está em campanha e pode estar usando as falas contra a ajuda americana à guerra como maneira de obter votos.
“No caso da eleição de Trump, [a posição americana] vai depender do quão sério ele está [em cortar a ajuda para Kiev]. Ainda não estou convencido do que ele leva realmente a sério. Talvez ele simplesmente aceite [a guerra], mas em vez de fornecer armamento americano como uma forma de ajuda à Ucrânia, ele pode vender o armamento e fazer com que os europeus paguem por eles”, disse Francesco Nicoli, professor de ciência política e pesquisador no Instituto Bruegel.
Fonte: Valor Econômico

