A rotatividade de CEOs nas principais empresas brasileiras está em alta. É o que indica levantamento realizado pela consultoria de recrutamento Flow Executive Finders.
O mapeamento mostra que 30 entre as 82 empresas listadas no índice Ibovespa B3Cotação de B3 trocaram de liderança nos últimos dois anos, número que representa 37% do total. Entre 2021 e 2022, foram 21 trocas de presidência e, entre 2018 e 2019, 16 CEOs deixaram o posto.
Para Luiz Gustavo Mariano, sócio da consultoria responsável pelo estudo, a renovação e o processo de sucessão são naturais e podem trazer benefícios para a gestão das companhias. “No entanto, quando as trocas dos executivos C-level acontecem de maneira frequente, é sinal de que alguma coisa pode estar errada”, diz.
Segundo Mariano, o período adequado para deixar um legado na companhia gira em torno de seis a sete anos e a alta rotatividade pode fazer a empresa perder clientes, acionistas e investidores. “Além disso, os times que estavam na empresa antes da troca do executivo geralmente têm queda de performance com a mudança de ecossistema no qual a empresa estava operando”, analisa.
Já Tatyana Freitas, sócia-diretora da empresa de busca de executivos Kingsley Gate, atribui a rotatividade de CEOs a diversos fatores interligados. “No caso de empresas de capital aberto, um dos principais motivos é a crescente pressão de investidores, cada vez mais ativistas e exigindo mudanças mais eficazes e retornos quase que imediatos nas empresas”, observa. “Os conselheiros também estão mais próximos e atuantes na gestão, reagindo prontamente ao identificar desalinhamentos, seja no estilo de liderança do CEO, na adequação cultural ou na velocidade de entrega de resultados.”
Ela explica que, embora existam casos em que o próprio executivo sinaliza o desejo de mudança, a maior parte das movimentações é iniciada pelas empresas, impulsionadas pela pressão de atender às novas demandas do mercado. “Nesse cenário, substituir o CEO muitas vezes é a maneira mais rápida de sinalizar ao mercado que mudanças estão em curso, mesmo que a transformação estrutural de um negócio leve mais tempo. No fim das contas, o que mudou foi o tempo de tolerância: antes se falava em ciclos de três a cinco anos para um CEO mostrar resultado. Agora, muitas vezes, a cobrança começa já no primeiro ou no segundo ano”, afirma.
Para Adriana Prates, CEO da consultoria Dasein Executive Search, o movimento é resultado das mudanças rápidas no mercado, que exigem líderes com habilidades específicas para enfrentar desafios tecnológicos e novos modelos de negócios. Ela cita ainda a pressão por resultados e questões de governança corporativa como fatores que influenciam essa dinâmica. “As empresas estão mais rigorosas quanto às práticas éticas e de conformidade, levando à substituição de líderes que não seguem os padrões esperados”, comenta. “Outro fator relevante são as fusões e aquisições, que frequentemente resultam na reestruturação da liderança e na saída de executivos.”
Freitas cita um estudo da Equilar, empresa de dados e remuneração executiva, que aponta que a média dos mandatos de CEOs das empresas que compõem o índice S&P 500, nos Estados Unidos, diminuiu em 20% – de 6 anos em 2013 para 4,8 anos em 2022. “Os dados mostram que 39% desses CEOs estavam na posição entre um e cinco anos, e outros 28% entre cinco e dez anos. Isso indica mandatos menores que dez anos em quase 70% dos casos”, pontua.
O levantamento da Flow revela ainda que somente 3 dos 82 CEOs das empresas listadas no Ibovespa B3Cotação de B3 têm mais de duas décadas no comando das companhias. O mais longevo é Jorge Pinheiro Koren de Lima, filho do fundador do Grupo Hapvida, Candido Pinheiro Koren de Lima, CEO da empresa desde 2001.
Quem também ocupa a posição há mais de 20 anos são os executivos Benjamin Steinbruch e Sérgio Zimerman, que comandam a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Petz, respectivamente, desde 2002. Zimerman é o fundador da Petz. Em seguida, estão Fábio Venturelli (São Martinho) e Fernando Galletti de Queiroz (Minerva), no cargo desde 2007.
Nos Estados Unidos a situação não é muito diferente. De acordo com os dados da Equilar, apenas 8% dos CEOs americanos têm mandatos que excedem 20 anos.
Para prosperar em um mundo de alta e constante pressão e prolongar seu tempo no cargo, Freitas defende que os CEOs equilibrem alta performance profissional com cuidado pessoal contínuo, tal como fazem atletas de alto rendimento. “Eles priorizam não só a saúde física como também a saúde mental e emocional, adotando uma postura flexível e estratégica para manter o foco mesmo sob pressão”, argumenta.
Mariano, por sua vez, acredita que os líderes que passam mais tempo no cargo são pessoas que têm um propósito maior do que o financeiro, querem continuar implementando mudanças e não se acomodam achando que “o jogo está ganho”. “Ouvir e atuar rápido, junto com uma capacidade ímpar de sistematicamente escolher as pessoas certas e tomar decisões difíceis, são os principais fatores que levam a um maior ciclo do executivo”, aposta.
Por fim, Freitas chama a atenção para a importância de haver um plano de sucessão proativo, que seja continuamente revisitado e ajustado. “Ouso dizer que, em alguns casos, planejar a sucessão leva a um entendimento tão profundo da organização que pode resultar, inclusive, na maior longevidade do mandato do atual CEO”, destaca.
Na visão de Mariano, da Flow Executive Finders, um turnover elevado pode ser resultado de um processo de seleção impreciso. “As empresas se acostumaram com a subjetividade das escolhas e passaram a tolerar um percentual muito elevado de erros na seleção do executivo. Escolher um CEO, CFO ou outro cargo do topo da pirâmide é uma jornada estratégica que exige precisão, método e visão de futuro”, pontua.
Fonte: Valor Econômico