Por Valentina Romei, Valor — Financial Times, de Londres
22/01/2023 19h37 Atualizado há 14 horas
A zona do euro escapará de uma recessão este ano, de acordo com uma pesquisa feita com economistas que é acompanhada com muita atenção e mostra a forte virada no sentimento econômico mundial nas últimas duas semanas.
Ainda em dezembro, analistas ouvidos pela Consensus Economics previam que o bloco afundaria em uma recessão em 2023. Mas a pesquisa deste mês verificou que agora sua expectativa é de que registre um crescimento de 0,1% ao longo do ano. Isso se deve aos preços mais baixos da energia, ao auxílio enorme dos governos e à reabertura da economia chinesa antes do que se previa.
A mudança se deu depois que autoridades e líderes empresariais que participaram do Fórum Econômico Mundial anual de Davos, na semana passada, também adotaram uma perspectiva mais otimista, e o Fundo Monetário Internacional (FMI) indicou que em breve revisará para cima as previsões para o crescimento mundial.
Economistas temiam que este ano a Europa ficaria entre as áreas mais prejudicadas da economia mundial, em razão da sua exposição às consequências econômicas da guerra na Ucrânia. Há só algumas semanas, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, dissera que “metade da União Europeia” estaria em recessão em 2023.
Carsten Brzeski, chefe de pesquisa macro do banco ING, descreveu a reviravolta nas previsões dos economistas como “uma recessão que nunca veio”.
Para Susannah Streeter, analista da Hargreaves Lansdown, “a ameaça da temida crise energética [está] recuando e a inflação cai mais rapidamente do que se esperava”.
“Nossas percepções mudaram de forma bastante radical desde outubro”, disse Andrew Kenningham, economista-chefe para a Europa da Capital Economics. Ele afirmou que o auxílio governamental foi mais generoso do que o esperado, ao mesmo tempo que a recuperação do setor automotivo foi mais forte do que a prevista.
De acordo com Anna Titareva, economista do UBS, hoje a chance de uma recessão é de menos de 30%, quando no verão passado a estimativa era de 90%. Ela disse que a redução dos transtornos nas cadeias de fornecimento, um mercado de trabalho forte e um excedente de poupança explicam a resiliência econômica da zona do euro, e a Europa conseguiu completar suas reservas de gás nos últimos meses, o que reduziu bastante os temores de um racionamento.
A forte queda recente dos preços do gás no atacado, que os levaram de volta aos níveis em que estavam antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, também ajudou a impulsionar as perspectivas econômicas. Na semana passada, o JPMorgan elevou para 0,5% sua previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro em 2023, depois de avaliar que os preços do gás natural ficariam em torno de 76 euros por megawatt-hora, e não nos 155 euros de seu cenário anterior.
Ao falar em Davos na semana passada, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que o prognóstico econômico parece “muito melhor” do que o quadro que se temia. A vice-diretora-gerente do FMI, Gita Gopinath, afirmou que a decisão tomada pela China no mês passado de relaxar as restrições de combate à covid-19 foi uma das razões que levaram o fundo a ficar mais otimista.
Sven Jari Stehn, economista do Goldman Sachs, avaliou que uma demanda mais firme na China “impulsionaria o comércio europeu de maneira significativa, especialmente na Alemanha”.
O primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, disse na semana passada que estava “convencido” de que a maior economia da Europa não entraria em recessão. O presidente do banco central francês, François Villeroy de Galhau, foi na mesma linha: “Para a Europa, devemos escapar de uma recessão este ano, o que eu não teria afirmado com tanta confiança três meses atrás.”
Alguns economistas ainda esperam uma recessão. Silvia Ardagna, economista do Barclays Bank, disse que, mesmo que a desaceleração não seja tão profunda como se acreditava, a economia da zona do euro ainda se contrairá por dois trimestres consecutivos – o que atende à definição técnica de recessão.
Kenningham alertou para o risco de que elevações agressivas das taxas de juro pelo BCE possam levar a uma recuperação fraca.
Em Davos, Lagarde indicou que o BCE elevaria as taxas em 50 pontos-base nas suas reuniões de fevereiro e março. A taxa de depósito já aumentou em 2,5 pontos porcentuais, para 2%, desde junho do ano passado, um ritmo de aperto que as economias da zona do euro nunca tinham registrado.
“A economia da zona do euro pode escapar de uma recessão, mas talvez seja necessário manter as taxas de juro altas por um período prolongado”, disse Kenningham. “Parece que podemos ter – na pior das hipóteses – uma recessão leve, mas ela será seguida por uma recuperação fraca.”
Fonte: Valor Econômico

