O “Nikkei Asia” analisou o comércio internacional de empresas, indivíduos e investidores com base na moeda, usando dados estatísticos da Administração Estatal de Câmbio da China. A compilação do “Nikkei Asia” não inclui acordos baseados em yuan para negócios e transações de capital que não envolvam a China como contraparte.
A Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Internacionais, mais conhecida como Swift, informa que em junho a participação do dólar é a maior do mundo em 42,02%, incluindo negócios entre outros países além da China. O yuan representou 2,77% e ficou em quinto lugar geral, depois do euro, da libra esterlina e do iene japonês.
A participação do yuan nos pagamentos globais continua pequena em comparação com o tamanho da economia da China, mas subiu de 1,81% há cerca de cinco anos. Os pagamentos bilaterais, apoiados pela influência econômica da China, gradualmente expandiram sua posição.
Os acordos transfronteiriços na moeda chinesa totalizaram 42,1 trilhões de yuans (US$ 5,85 trilhões) em 2022, informou o Banco do Povo da China (PBoC, o banco central). As transações de capital representaram 31,6 trilhões de yuans, ou cerca de 75%, com transações em conta corrente, como comércio, compondo o restante.
Os pagamentos internacionais denominados em yuan no último trimestre cresceram 11% no ano, para US$ 1,51 trilhão, enquanto os pagamentos em dólares encolheram 14%, para US$ 1,4 trilhão, o primeiro trimestre em que a moeda chinesa avançou em dados desde 2010.
A China permitiu pela primeira vez que os pagamentos comerciais fossem liquidados em yuan em 2009. Isso incluía acordos de frete, serviços e transferências de conta corrente, bem como acordos de transações de capital, inclusive para ações e títulos.
Ao abrir os mercados de capitais e se afastar do dólar no comércio, a China criou dois fatores-chave na mudança para o yuan.
O governo chinês abriu as portas para investidores estrangeiros negociarem ações e títulos denominados em yuan via Hong Kong, com o programa Stock Connect, lançado em 2014, seguido pelo Bond Connect em 2017. Links semelhantes para fundos negociados em bolsa e swaps de taxa de juros estrearam em 2022 e este ano, respectivamente.
No lado comercial, a Rússia tem usado mais o yuan – inclusive para compras chinesas de seu petróleo – desde que as sanções ocidentais impostas em resposta à invasão de Moscou à Ucrânia no ano passado cortaram as redes de pagamento em dólares e euros. A moeda chinesa representou um recorde de 39% do volume total no mercado de câmbio da Rússia em março, disse o banco central russo.
Pequim sinalizou que pretende pressionar mais para expandir o papel do yuan nos pagamentos transfronteiriços.
Os esforços para encorajar o uso internacional da moeda pararam depois que uma desvalorização de 2015 involuntariamente agitou os mercados. Mas o presidente chinês, Xi Jinping, disse no congresso do Partido Comunista em outubro passado que a internacionalização do yuan seria promovida “de maneira ordenada”, anunciando uma abordagem mais proativa do que a frase anterior “firme e prudente”.
Pequim está assinando acordos bilaterais para esse fim. A China e o Brasil, que conta com o país asiático como um importante mercado de soja, chegaram a um acordo em março, permitindo trocas diretas entre o yuan e o real brasileiro sem usar o dólar americano como intermediário. A Argentina disse em abril que mudaria de dólares para yuans para pagar as importações da China.
Muitas economias emergentes buscam reduzir sua dependência do dólar, e a alavancagem de Washington do domínio do dólar para sanções contra a Rússia forneceu motivação adicional. O yuan deve se beneficiar dessa mudança.
Isso poderia estimular o desacoplamento da moeda ou a formação de blocos monetários, com grandes democracias continuando a usar o dólar, enquanto a China e os países com laços políticos ou econômicos estreitos com Pequim se movem em direção ao yuan.
A China também procura usar seu imenso poder de compra para diminuir o domínio do dólar sobre os mercados de commodities. A estatal China National Offshore Oil Corp. (CNOOC) e a francesa TotalEnergies concluíram em março a primeira compra de gás natural liquefeito da China denominada em yuan.
O uso internacional mais amplo do yuan foi prejudicado por controles rígidos sobre a troca da moeda e sua movimentação para dentro ou para fora do país, com o objetivo de evitar grandes oscilações do mercado. Alguns observadores esperam que Pequim alivie gradualmente essas restrições para encontrar um equilíbrio entre estabilidade e usabilidade.
Fonte: Valor Econômico

