Por Demetri Sevastopulo e Joe Leahy, Financial Times — Washington e Pequim
06/11/2023 16h42 Atualizado há 15 horas
A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, deverá se reunir nesta semana em San Francisco com a autoridade chinesa de economia, He Lifeng, como parte dos preparativos para um encontro entre os presidentes Joe Biden e Xi Jinping no Fórum de Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (Apec, na sigla em inglês).
O Departamento do Tesouro informou que Yellen receberá o vice-primeiro-ministro da China, He Lifeng, na quinta e sexta-feira para discutir questões que vão desde as preocupações dos EUA com práticas econômicas desleais da China até possíveis áreas de cooperação, como as mudanças climáticas e o alívio da dívida para países de baixa renda.
A aproximação entre os dois países ocorre quatro meses depois que Yellen viajou a Pequim para reuniões com o primeiro-ministro Li Qiang e com He, que assumiu a responsabilidade pela economia chinesa quando se tornou vice-primeiro-ministro em março.
“Esses dois dias de reuniões fazem parte de um período de intensificação do envolvimento de nosso relacionamento econômico bilateral”, disse um funcionário do Tesouro. “Ambos os lados tiveram a oportunidade de realmente arregaçar as mangas e se aprofundar em questões-chave […] de uma maneira que incrementa as […] reuniões que a secretária Yellen teve com o vice-premiê He em Pequim”.
O funcionário não quis expor quaisquer objetivos para as reuniões em termos de medidas concretas e disse que os EUA estão tentando ser “realistas” em relação a isso. “[Queremos ter] uma compreensão melhor de como o relacionamento [entre os países] funciona, para que possamos garantir uma conexão mais sólida que não seja vulnerável a choques”.
É esperado que o presidente Joe Biden e o líder chinês Xi Jinping façam uma reunião de cúpula na Apec, que seria apenas a segunda reunião presencial deles como líderes. Eles se encontraram no G20 na Indonésia há um ano, mas um acordo para estabilizar as relações foi por água abaixo quando um suposto balão espião chinês sobrevoou os EUA.
As relações entre EUA e China continuam no pior estado desde que os países estabeleceram relações diplomáticas em 1979. Washington está preocupado com a atividade militar de Pequim perto de Taiwan e com as práticas econômicas chinesas, enquanto a China acusa os EUA de tentarem conter seu crescimento por meio de controles de exportação e de esforços para fortalecer alianças de segurança na região do Indo-Pacífico.
O funcionário do Tesouro enfatizou que, embora os EUA desejem uma competição econômica saudável com a China, não irá se abster de abordar questões de segurança nacional.
O funcionário disse não ter conhecimento se Yellen trará a questão da fusão de US$ 69 bilhões entre a fabricante de chips Broadcom e a companhia de softwares na nuvem VMware, que as empresas adiaram na semana passada enquanto aguardam a aprovação das autoridades reguladoras chinesas.
O “Financial Times” disse que Pequim cogita atrasar o negócio, uma retaliação aos EUA após terem endurecido as restrições à exportação para a China de chips de última geração usados em programas de inteligência artificial.
Analistas acreditam que, embora Pequim saiba que as perspectivas de uma trégua em questões de segurança sejam pequenas, deseja aliviar as tensões como um todo, para fortalecer o sentimento de confiança na economia, que passa por dificuldades.
Nos últimos meses, Xi se encontrou com autoridades e líderes empresariais dos EUA, e Pequim vem propagandeando o histórico de colaboração entre governos chineses anteriores e Washington, como as façanhas dos Tigres Voadores, um esquadrão voluntário de pilotos de avião americanos que apoiou as forças nacionalistas chinesas contra o Japão na Segunda Guerra Mundial.
A China não confirmou a presença de Xi na Apec e tem sinalizado que a participação dependerá de como Washington pretende recebê-lo.
Os dois lados precisam “eliminar perturbações, superar obstáculos, fortalecer consensos e acumular conquistas”, destacou o Ministério das Relações Exteriores da China, na semana passada.
Fonte: FT / Valor Econômico

