Por Humeyra Pamuk, Reuters, Valor, Com Nikkei Asia — Pequim
19/06/2023 09h49 Atualizado há 12 horas
A China e os EUA aceitaram ontem estabilizar sua intensa rivalidade, para que ela não descambe para o campo do conflito. Não deram, no entanto, nenhum grande salto de qualidade durante a rara visita a Pequim do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.
O presidente chinês, Xi Jinping, saudou o “progresso” após trocar aperto de mãos com Blinken no Grande Salão do Povo, um espaço grandioso normalmente reservado para saudar chefes de Estado.
Tanto o mais graduado diplomata dos EUA quanto Xi enfatizaram a importância de manterem relações mais estáveis, uma vez que qualquer conflito entre as duas maiores economias do mundo representará uma desestabilização global.
No entanto, a China se recusou a contemplar a tentativa de Washington de retomar os canais de comunicação entre militares e mencionou as sanções americanas como obstáculo. Os dois lados pareceram consolidados em suas posições em todos os temas, desde Taiwan a comércio exterior, incluindo os atos dos EUA com relação ao setor de chips, de direitos humanos e a guerra da Rússia contra a Ucrânia no âmbito da China.
A Casa Branca qualificou a reunião de “bom passo à frente”. O recado de Blinken foi enfatizar a importância de manter canais de comunicação abertos a fim de reduzir os riscos, disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.
Em um dos encontros mais significativos entre EUA e China desde que Joe Biden assumiu o poder, não ficou claro de que maneira os dois países superarão suas diferenças, mas eles concordaram em dar continuidade a seus contatos diplomáticos.
Em entrevista à imprensa concedida ao fim da viagem de dois dias a Pequim, a primeira realizada por um secretário de Estado desde 2018, Blinken disse que Washington alcançou seus objetivos, entre os quais levantar diretamente suas preocupações, tentar criar canais de diálogo e prospectar áreas de cooperação. A viagem tinha sido adiada em fevereiro após um suporto balão de espionagem chinês ter sobrevoado o espaço aéreo americano.
“As relações estavam em um ponto de instabilidade, e ambos os lados reconheceram a necessidade de se empenhar em estabilizá-las”, disse Blinken.
Autoridades americanas esperavam que a visita de Blinken abrisse caminho para novos encontros bilaterais, entre os quais possíveis viagens da secretária do Tesouro americana, Janet Yellen, e da secretária do Comércio, Gina Raimondo. A esperança era até mesmo de abrir o caminho para uma reunião de cúpula entre Xi e Biden ainda neste ano.
“Os dois lados também fizeram avanços e chegaram a concordar em torno de algumas questões específicas. Isso é muito bom”, disse Xi a Blinken, do outro lado de uma longa mesa adornada por flores de lótus cor-de-rosa.
Blinken respondeu dizendo que os dois têm a responsabilidade de gerir suas relações. Os encontros do secretário americano em Pequim, que incluíram conversas com o diplomata máximo chinês, Wang Yi, e o ministro das Relações Exteriores, Qin Gang, foram “francos e construtivos”, acrescentou Blinken.
Não ficou claro, a partir das observações de Xi, a que progresso ele se referia, embora ele tenha dito a Blinken que acredita que os dois países “poderão superar várias dificuldades”, de acordo com o relato das conversas divulgado. Ele também conclamou os EUA a não “ferir os direitos e interesses legítimos da China”, um sinal sobre potenciais pontos críticos como Taiwan, a ilha democrática que Pequim reivindica como sua.
Blinken disse ter deixado claro que os EUA precisam de uma cooperação muito maior da China para conter o fluxo de opioide narcótico fentanil, e as partes concordaram em formar um grupo de trabalho sobre a questão.
O secretário de Estado também falou de Taiwan, direitos humanos, provocações da Coreia do Norte e as preocupações dos EUA com as atividades de inteligência realizadas por Pequim em Cuba, disse o Departamento de Estado.
Os comentários de Xi, e a coreografia diplomática da visita, pareceram sinalizar a vontade de avançar, disseram analistas. ”As mensagens emitidas pela China foram bastante positivas”, disse Wu Xinbol professor e diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Fudan em Xangai.
O tom de Pequim sobre Taiwan foi especialmente incisivo por toda a visita. “A China não tem espaço para soluções de compromisso ou concessões”, disse Wang, segundo o relato chinês. Os EUA se aferram há muito a uma política de “ambiguidade estratégica” sobre se reagiriam militarmente ou não a um ataque a Taiwan, hipótese que Pequim não descarta.
Fonte: Valor Econômico

