Por Arjun Neil Alim — Financial Times, de Pequim
11/07/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
Em meio a uma onda de novos casos de covid-19, a China está voltando a impor restrições, em vários pontos do país, incluindo em Xangai – onde autoridades anunciaram ontem ter detectado o primeiro caso de infecção pela subvariante BA.5. A cepa, uma mutação da variante ômicron da covid-19, é considerada mais contagiante do que as anteriores.
O caso de BA.5 foi descoberto na sexta-feira, segundo informou ontem Zhao Dandan, vice-chefe da comissão de saúde de Xangai e motivou as autoridades a ampliar os testes em massa na cidade. Centro financeiro da China, Xangai vem encontrando em conter os novos casos – apenas poucas semanas após ter retomado as atividades após dois meses de lockdown. Mais de 70 casos de covid-19 registrados na cidade estariam vinculados a um bar de karaokê, segundo autoridades municipais.
Autoridades começaram a atribuir níveis de risco a subdistritos e até a ruas de Xangai, em um esforço para impor quarentenas pontuais a zonas residenciais e poupar a maior parte dos 26 milhões de habitantes de um lockdown mais rígido.
Apesar disso, as tensões seguem elevadas. Uma habitante de Xangai que pediu para não ser identificada disse ao “Financial Times” que se sentia “frustrada” e “decepcionada” com a volta das restrições. A moradora, que trabalha em uma empresa internacional, passou por lockdown em março e abril. “Pessoalmente acho que esse será o ‘novo normal’”, disse ela. Entre amanhã e quarta-feira, mais nove distritos se somarão aos 20 onde os testes de covid serão obrigatórios.
Com base na estratégia de “covid-zero”, outras partes da China também serão submetidas a restrições em razão do aumento de casos. Macau, que passa pelo pior surto de covid desde o início da pandemia, anunciou no sábado o fechamento, por uma semana, das empresas não essenciais, incluindo os cassinos, a partir de hoje.
Xi’an, cidade de 13 milhões de habitantes que passou por um rígido lockdown neste ano, foi incorporada a uma “operação de quebra de circuito automática” na semana passada também para extirpar a subvariante BA.5.
Hong Kong relatou 3 mil novos casos na quinta-feira, o número diário mais alto desde abril. As autoridades informaram que a cifra dobrou em poucas semanas.
No total, 11 cidades chinesas estão agora em lockdowns totais ou parciais, afetando 114,8 milhões de pessoas, ou 8,1% da população do país, segundo dados divulgados há dias pelo banco de investimentos japonês Nomura.
Analistas disseram que o ciclo de surtos, testes em massa, lockdowns e suspensões de medidas de contenção prosseguirá – como estabelecido pela “covid-zero”, defendida pelo presidente Xi Jinping. As autoridades porém estão tentando impôr medidas mais pontuais, como quarentenas mais breves e lockdowns limitados, segundo análise do Goldman Sachs.
O Cassino Lisboa de Macau, controlado pela SJM Holdings, do falecido magnata dos jogos de azar Stanley Ho, foi temporariamente interditado na terça-feira, com 500 pessoas no seu interior, após ter sido relacionado a um foco responsável por 13 casos. Hotéis, entre os quais o Grand Hyatt, da rede Melco, e o Sheraton, da Sands China, foram transformados em instalações de quarentena.
O ciclo de restrições também continua a afetar a economia da China. Dados divulgados no sábado pelo Departamento Nacional de Estatística mostraram que os preços ao consumidor subiram em junho para 2,5%, comparados ao mesmo mês do ano passado, devido ao aumento dos preços da energia e da carne de porco.
Quase 90% da população chinesa, de 1,4 bilhão de habitantes, receberam duas doses de vacina, segundo a mídia estatal, mas o percentual, para os idosos, é muito mais baixo. As vacinas de produção nacional que usam tecnologia de vírus inativo também têm eficácia menor do que as de RNA mensageiro produzidas por empresas como a BioNTech/Pfizer e a Moderna. Pequim não autorizaram a aplicação de vacinas estrangeiras de RNA mensageiro. (Com agências internacionais)
Fonte: Valor Econômico

