Por Adriana Cotias — De São Paulo
12/04/2023 05h03 Atualizado há 5 horas
A Wealth High Governance (WHG) superou no primeiro trimestre a marca dos R$ 30 bilhões sob aconselhamento, um feito para uma gestora de fortunas que está operacional há apenas dois anos. A origem da casa – com um time saído do Credit Suisse, liderado por Marco Abrahão, então executivo-chefe da divisão internacional de gestão de riqueza do grupo suíço no Brasil – está por trás dessa escalada. Foi uma estrutura que já começou robusta, com 60 profissionais e que hoje reúne 90 pessoas, número suficiente para buscar o próximo objetivo, dos R$ 60 bilhões, até 2025, segundo o executivo.
Ao receber a reportagem do Valor no escritório da WHG – no mesmo endereço que um dia foi da Consenso, adquirida pelo UBS em 2017, na Avenida Cidade Jardim, perto da Faria Lima, em São Paulo -, Abrahão evita fazer qualquer relação do crescimento da WHG com a recente crise do Credit Suisse. O banco suíço enfrentava ruídos desde o fim do ano passado e acabou sendo vendido às pressas para o rival UBS em março.
Mas num negócio em que a confiança é a chave para a fidelidade de famílias endinheiradas, que costumam ter baixa mobilidade, o que se diz nos bastidores do segmento de fortunas é que era natural que, pela origem de seus executivos, a casa se beneficiasse de parte dos recursos que saiu do banco para outras instituições – BTG Pactual e Itaú Unibanco têm sido outros nomes citados como destino.
O que Abrahão não esconde é o desejo de reconstruir no mercado brasileiro aquele misto de gestão de fortunas com corretora e asset, que esteve na alma da Hedging Griffo. O executivo começou como estagiário na instituição em 1995 e quando a operação foi vendida para o Credit Suisse, em 2006, e chegou a ser um dos maiores acionistas minoritários. Na liderança do private banking no rebatizado Credit Suisse Hedging-Griffo, entre 2009 e 2020, o volume administrado saiu dos R$ 10 bilhões para ativos da ordem de R$ 250 bilhões. Ele começou tudo de novo.
O número de “bankers” quase dobrou, para 14 pessoas, ganhando reforços desde a vinda de Roberto Cortez Alves, cerca de um ano atrás, ex-diretor da Emerald, braço de fortunas do Safra. Ele lidera a área de alocações, estratégias táticas e fundos exclusivos, ao lado de Andrew Reider, o CIO. Além dos banqueiros, o centro da relação com os clientes, o time de investimentos conta com especialistas que também ficam próximos das famílias.
A jornada na WHG segue ao lado da XP, que patrocinou o projeto de transição do grupo e detém 49% do negócio. A DTVM já recebeu sinal verde do Banco Central e deve estar pronta até o fim do primeiro trimestre. Com ela, Abrahão cumpre o objetivo de ter as três pontas do modelo híbrido que idealizou, com flexibilidade para criar estratégias de investimentos, uma gestora de recursos que vai ter fundos da porta para fora, além da independência na distribuição. Por trás, entra a infraestrutura operacional e tecnológica da XP.
“A gente fez algumas opções, de fazer o que sempre fez e não inventar nada, replicar uma Hedging-Griffo, que foi o maior caso de sucesso do mercado financeiro, sou grato por ter sido sócio lá”, afirma Abrahão. Ele diz que não pretende prestar serviços típicos de banco de investimento, embora possa avaliar, pela proximidade, oportunidades de ajudar empresários a navegar pelo mercado de capitais, numa emissão de dívida, por exemplo. Em resumo, o objetivo é dispor de uma oferta que possibilite ter uma plataforma aberta e independente, com mesas especializadas em renda fixa e variável.
“A ideia da DTVM é para que a gente possa cotar o mercado inteiro, ir atrás do melhor preço para o cliente e participar das ofertas. Se entro com a minha DTVM, não dependo de terceiros. A ideia é ter na mão tudo que possa afetar a entrega para o investidor”, diz o executivo.
Num cenário mais adverso, ele acrescenta que há um movimento para estruturas consideradas mais seguras, o tamanho importa, e as famílias valorizam o aconselhamento independente. “Na asset, o mercado já sabe que é produto próprio, mas não estou vendendo operação de tesouraria, título que o cliente não sabe se está pagando o melhor preço porque é uma venda interna, eu tiro o ruído dessa relação.”
Na asset, a WHG está próxima de alcançar um patrimônio de R$ 3 bilhões. Com a recente revisão das regras de fundos de investimentos, que vão entrar em vigor em novembro, Abrahão diz que as suas carteiras globais, de ações e macro, poderão ser ofertadas para o público qualificado de bancos e plataformas de investimentos.
Com a equipe de Reider, espalhada em centros como Miami e Nova York, Abrahão diz que a gestora tem acesso a muito conteúdo e consegue entregar produtos de fato descorrelacionados da oferta local. E como transita em estratégias com ativos internacionais, mais líquidos, estima poder escalar a asset a R$ 10 bilhões sem perder eficiência.
Fonte: Valor Econômico

