Por Adriana Cotias — De São Paulo
15/07/2022 05h03 Atualizado há 4 horas
Com 17 anos de Brasil e R$ 47 bilhões sob gestão, a Western Asset tem atravessado relativamente bem o “inverno” que provocou saída de recursos dos fundos globais. Com uma grade mais diversificada em comparação aos pares estrangeiros, a gestora que figura entre as maiores independentes no país está em modo investimento, segundo Marc Forster, executivo herdado do Citi e à frente da operação local desde 2015.
A casa se prepara para estrear no segmento de fundos imobiliários e de infraestrutura, com veículos listados em bolsa. Costura ainda a reativação de carteiras originadas no Citi e que ficaram adormecidas na plataforma do Itaú. É um conjunto que reúne cerca de R$ 2 bilhões.
Mesmo após a venda das operações globais da Legg Mason, dona da Western e de outras oito companhias, para a Franklin Templeton, em 2020, a decisão foi manter a marca e a operação independente. A única mudança foi sair debaixo da holding da Legg Mason para a Franklin Templeton Resources. “Somos concorrentes como antes, só que agora dentro da mesma família”, diz Forster.
No Brasil, a Western chegou pela via de um outro movimento de consolidação, em 2005, após a aquisição das operações de gestão de recursos do Citigroup no mundo pela Legg Mason. Foi na distribuição local do Citi, praticamente um dos únicos a ter a oferta aberta para produtos de terceiros, que tinha a sua porção de clientes pessoas físicas. Quando o banco americano vendeu a sua operação de varejo para o Itaú Unibanco, no fim de 2017, aqueles fundos foram parar na grade da instituição.
Na época foi um baque, lembra Forster, porque a proporção do varejo era mais relevante do que hoje no bolo de gestão. Mas a saída do Citi coincidiu com o período de aceleração das plataformas de investimentos independentes e uma flexibilização dos próprios bancos na oferta de produtos de gestores externos. E, como nunca atuou em distribuição, o executivo diz que as portas ficaram abertas em todos os canais, sem nenhuma fricção.
Lá atrás, ele conta que a decisão do banco foi não vender os portfólios ativamente, mas, com a evolução da distribuição por conta e ordem dentro do próprio Itaú, essas carteiras voltarão a ser distribuídas. “Potencialmente é uma fonte de crescimento quando transferir esse legado para a estrutura ativa com fundos de diversos gestores.”
Com mais canais de distribuição disponíveis no mercado brasileiro, o executivo diz que hoje o passivo está mais equilibrado entre o público institucional e o varejo. Na, grade há cerca de uma dezena de fundos ativos de crédito privado, há carteiras de ações, multimercados e alternativas globais. É nesta última caixa que gestoras estrangeiras em geral redirecionaram seus esforços no Brasil.
Agora, a ideia é modelar fundos imobiliário e de infraestrutura. “É um plano que se desenrola nos próximos seis, 12 meses, para colocar o primeiro produto na rua.” Sob o comando do executivo-chefe de investimentos, Paulo Clini, Caio Magano, analista de crédito e ações há mais de 16 anos, foi promovido para assumir a gestão de infraestrutura. Em imobiliário, a Western trouxe, em março, Bruno Condino, vindo de operações estruturadas e novos negócios da VBI Real Estate.
Forster diz que a expansão vem do diagnóstico de que o Brasil não aguenta uma Selic de 13,25% por muito tempo. “Se for verdade que o país vai caminhar em algum momento para juros mais civilizados, é inevitável que os investimentos em infraestrutura e em ativos imobiliários sejam mais demandados”, diz. “O BNDES não tem condições, sozinho, de financiar a infraestrutura, e as empresas vão precisar do mercado de capitais. A casa tem um histórico grande de crédito, é natural que atue nos dois segmentos, se mantém relevante.”
Por conta dessa especialização, a ideia é fazer fundos de “papel”, ou seja, com títulos lastreados ao financiamento do setor, e não portfólios com ativos físicos. “Esse é um plano desenhado há algum tempo, e no meio do temporal não dá para abortar”, diz o executivo, acrescentando que lá fora a Western é muito ativa nos Real Estate Investment Trust (REIT), o equivalente aos fundos imobiliários listados em bolsa.
A Western tem cerca de R$ 2 bilhões relativos a uma base de pessoas físicas do Japão, que para Forster é um termômetro do interesse do estrangeiro pelo Brasil. “Claramente houve resgates líquidos nesses produtos, diferentemente de quando o Cristo Redentor estampava a capa da ‘Economist’ decolando e o país era ‘investment grade’ [o selo de baixo risco]. A situação fiscal hoje é considerada mais delicada, o crescimento tem sido prejudicado e tem mais uma eleição polarizada”, lista Forster. “O varejo depende de boas histórias para contar.” No pico, em 2012, essas carteiras chegaram a reunir R$ 8 bilhões.
Para Forster, o fator eleição ainda não está refletido nos preços dos ativos brasileiros porque os programas dos candidatos não são conhecidos. E lá fora o cenário inflacionário e de aumento de juros liderado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não deixa a vida fácil nem para o gestor nem para o investidor. Já o brasileiro que partiu para a internacionalização mais recentemente se machucou.
Pelos dados da Anbima, as carteiras que investem mais de 67% do patrimônio no exterior encolheram de R$ 70,2 bilhões para R$ 40,2 bilhões de dezembro até o fim de junho, afetadas pela má performance e por resgates de R$ 18,3 bilhões no semestre.
Fonte: Valor Econômico