Um desaquecimento no indicador de inflação preferido do Federal Reserve (Fed, banco central americano) no mês passado, juntamente com uma recuperação nos gastos das famílias, não serviu para mudar o consenso de Wall Street que levou as ações a níveis recordes no primeiro trimestre.
Os indicadores, divulgados com os mercados fechados na sexta-feira, sustentam a avaliação de que, embora a inflação tenha arrefecido, permanece mais elevada do que o Fed gostaria, limitando a margem para cortes nos juros. Ao mesmo tempo, tranquilizam os analistas de que a economia continua indo bem após a campanha de alta dos juros.
“Resumindo: não vejo isso fazendo nada para mudar a narrativa do Fed ou do mercado neste momento”, disse Steve Sosnick, estrategista-chefe da Interactive Brokers.
O presidente do Fed, Jerome Powell, disse que os dados de sexta vieram conforme esperava, embora tenha reconhecido que a leitura não foi tão boa quanto a de 2023. “Fevereiro veio mais baixo, mas não tão baixo quanto a maioria das boas leituras que obtivemos no segundo semestre do ano passado; mas é mais parecido com o que queremos.”
Os dados surgem após um trimestre excelente para as ações, conforme os investidores apostaram que o Fed conseguiria fazer um “pouso suave” na economia. Com uma alta de 10% no trimestre, o índice S&P 500 quebrou recorde 22 vezes este ano, levando os preços das ações dos EUA até US$ 4 trilhões. O boom fez alguns analistas se preocuparem com o aquecimento excessivo do mercado. Na sexta, os rendimentos dos Treasuries de dois anos, mais sensíveis à política monetária, subiram cinco pontos para 4,62%.
Uma parte preocupante do relatório de sexta foi a incompatibilidade entre gastos e receitas, disse Sosnick. Embora o aumento dos gastos impulsione a economia no curto prazo, é insustentável gastar mais e ganhar menos. Os gastos pessoais reais aumentaram 0,4% no mês passado, acima das estimativas de 0,1%.
Para Dan Suzuki, vice-diretor de investimentos da Richard Bernstein Advisors, os dados vieram mistos, por isso ele não espera uma mudança significativa na narrativa sobre a inflação e o Fed. “A história continua a ser a de que a moderação constante da inflação estagnou”, disse.
Já para Marvin Loh, macroestrategista da State Street, as leituras da inflação parecem alinhadas. “Os números não são suficientemente baixos para dar ao Fed o conforto de que a meta de 2% será alcançada confortavelmente, mas existe um limiar baixo para iniciar o processo de normalização neste verão.”
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Wall Street: novos dados não mudam rumo de apostas — Foto: Wall Street (crédito: lo lo/Unsplash)
Fonte: Valor Econômico

