As bolsas de Nova York tiveram queda firme ontem, com investidores reagindo ao alerta de executivos de Wall Street sobre os preços elevados das ações e depois que os resultados trimestrais da Palantir Technologies, considerada um termômetro para inteligência artificial (IA), decepcionaram os investidores. O dia foi marcado por um amplo sentimento de aversão a risco, que levou a uma alta no dólar, enquanto os rendimentos dos Treasuries recuaram, à medida que os títulos da dívida pública americana foram buscados pelos investidores como um porto seguro.
O índice Dow Jones fechou em queda de 0,53%, aos 47.085,24 pontos, o S&P 500 recuou 1,17%, aos 6.771,55 pontos, e o Nasdaq cedeu 2,04%, aos 23.348,637 pontos. Entre os setores, tecnologia (-2,27%) liderou as perdas, com destaque para as ações da Palantir Technologies, que caíram 7,95%, contribuindo para aumentar o mal-estar entre os investidores. Outros nomes importantes ligados ao desenvolvimento de IA, como a Oracle (-3,75%), Nvidia (-3,96%) e a AMD (-3,70%) também tiveram forte queda.
Em um evento realizado em Hong Kong, lideranças de grandes bancos americanos disseram ver a possibilidade de uma forte queda no mercado de ações em breve, após o rali nos últimos meses. Embora eles vejam isso como algo normal, o temor de uma correção foi suficiente para assustar e derrubar as bolsas em Wall Street.
Ted Pick, CEO do Morgan Stanley, disse que os mercados já avançaram bastante, mas ainda há risco político nos EUA. No entanto, ele acredita que correções são saudáveis. “Devemos receber bem a possibilidade de correções de 10% a 15% que não sejam motivadas por algum tipo de choque macroeconômico.”
“Sim, os mercados parecem caros… mas a realidade é que o risco sistêmico provavelmente diminuiu”, afirmou. Haverá mais foco nos lucros das empresas em 2026 e haverá maior dispersão, onde as empresas mais fortes terão um desempenho superior, enquanto as mais fracas ficarão para trás, disse.
David Solomon, do Goldman Sachs, também esteve entre os executivos de Wall Street que participaram do evento e veem que os mercados podem estar prestes a sofrer uma correção nos próximos meses. Ele destacou que os “valuations” do setor de tecnologia estão “esticados”, mas esse não é o caso do mercado como um todo.
Solomon disse que correções de 10% a 15% nas ações também costumam ocorrer durante ciclos positivos, sem alterar a direção geral dos fluxos de capital ou das alocações de longo prazo. “Isso simplesmente significa que os preços sobem, depois recuam um pouco, para que os investidores possam reavaliar”, disse. A recomendação do Goldman Sachs aos clientes tem sido manter os investimentos, revisar a alocação de suas carteiras e evitar tentar prever o mercado.
Após a correção vista com “Dia da Libertação” de Donald Trump, em abril, os principais índices de ações de Nova York engataram uma forte recuperação, com ganhos liderados pelo setor de tecnologia e o Nasdaq acumulando uma valorização de mais de 20% no ano. Com as bolsas sucessivamente atingindo novos recordes, apesar da desaceleração da economia americana, parte do mercado já vinha se questionando sobre a sustentabilidade desse rali e a possibilidade de uma bolha nos investimentos em inteligência artificial.
“Em uma perspectiva de mais longo prazo, observamos que os ativos dos EUA já estão sendo negociados em níveis extremamente elevados, tanto em ‘valuation’ relativo quanto em relação aos lucros”, comentam estrategistas do J.P. Morgan em relatório. “Também estamos preocupados com o nível elevado de posicionamento dos investidores nos EUA, o que não se limita apenas aos investidores institucionais.”
Contribuindo para o sentimento negativo entre os investidores, o balanço trimestral da Palantir Technologies não foi bem recebido. Os lucros da empresa de software registraram um avanço de 63% na receita em relação ao ano passado, para um recorde de US$ 1,8 bilhão. Apesar dos números terem vindo acima do esperado, os participantes do mercado se frustraram com a falta de projeções para o ano que vem.
“Os resultados da empresa foram bons, mas os mercados se mostraram decepcionados com a falta de visibilidade em relação às projeções para todo o ano de 2026”, afirma Jim Reid, do Deutsche Bank, destacando que a empresa acumula uma valorização de mais de 150% nas ações neste ano.
A BlackRock observa que, diante dos “valuations” elevados e de despesas bilionárias das empresas no desenvolvimento de inteligência artificial, o foco dos investidores agora se concentram em “como as empresas estão gerando receitas ligadas a esses investimentos e como estão financiando essa expansão, à medida que se tornam mais intensivas em capital”, escrevem os estrategistas da gestora.
Em nota, os estrategistas citam que Alphabet, Microsoft e Meta juntas investiram cerca de US$ 60 bilhões no último trimestre e todas anunciaram planos de ampliar ainda mais os gastos, direcionando recursos para chips e data centers.
Os títulos da dívida pública americana e o dólar se beneficiaram da atmosfera de aversão a risco. No fim do dia, o índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana frente uma cesta de outras seis moedas fortes, tinha alta de 0,35%, aos 100,21 pontos. O dólar vem se recuperando no exterior nas últimas sessões e retomou a marca de 100 pontos nesta terça, diante da perspectiva de um Federal Reserve (Fed, banco central americano) mais conservador e com a aversão a risco vista no dia.
Os rendimentos dos Treasuries de 2 anos caíam para 3,584%, de 3,617% no fechamento anterior, e os rendimentos dos Treasuries de 10 anos recuavam para 4,089%, ante 4,113% na última sessão. (Com agências internacionais)
Fonte: Valor Econômico

