Os gestores de recursos de Wall Street estão correndo para levar o boom do crédito alternativo para o grande público. Gigantes como Apollo Global, BlackRock, Capital Group, KKR e State Street estão se acotovelando para lançar fundos negociados em bolsa (ETFs) de crédito de empresas fora da bolsa e outros produtos com esses ativos no varejo. Esses fundos podem permitir que qualquer pessoa participe de um mercado de US$ 1,7 trilhão de empréstimos feitos por instituições não bancárias para empresas e consumidores.
O vencedor será quem puder oferecer um fundo que possa ser facilmente comprado ou vendido com o sinal verde dos reguladores. Seu prêmio: acesso total a investidores individuais no momento em que muitos gestores sofisticados estão se enchendo desses ativos de crédito.
O problema mais difícil é como transformar carteiras raramente negociadas de empréstimos feitos em condições privadas em ativos de fundos, em que os cotistas possam entrar e sair com facilidade. Esse é um requisito fundamental para os reguladores – e uma tarefa que muitos veteranos do mercado são céticos de que possa ser realizada nesse mercado.
Sem negociação pública confiável, esse empréstimos são difíceis de serem precificados. E muitos alertam que tais produtos podem reagir de forma imprevisível às quedas do mercado. Também não está claro se esse tipo de crédito pode continuar gerando altos retornos – cerca de 10% nos últimos anos – à medida que compradores menos sofisticados chegam ao segmento.
“Há uma incompatibilidade em termos de perfil de liquidez entre esse tipo crédito como um ativo subjacente e o resgate diário de um ETF”, disse Aaron Filbeck, diretor da Chartered Alternative Investment Association, grupo que reúne profissionais de gestão de recursos.
Alguns dos maiores gestores de fundos estão se unindo a titãs do crédito privado, e as somas em jogo são enormes. O Capital Group anunciou em maio uma parceria com a KKR para lançar fundos que investem em uma mistura de ativos negociados em bolsa e de empresas fechadas, incluindo dívida. A State Street buscou aprovação da SEC (comissão de valores mobiliários dos EUA) em setembro para um ETF de crédito com a Apollo.
Grandes gestores de fundos passaram a dominar Wall Street em parte vendendo “ativos alternativos”, como dívida de empresas fechadas, private equity e imóveis. Os alternativos tendem a dar retorno maior do que ações e títulos negociados publicamente, mas geralmente exigem que os investidores os mantenham os ativos por anos. Os gestores historicamente vendem produtos de alta taxa para grandes instituições, como seguradoras e fundos de pensão. Agora, muitos investidores institucionais estão até o teto com ativos alternativos, e os gestores partiram para criar produtos voltados para investidores individuais do varejo.
Os ativos alternativos representam menos de 3% dos US$ 150 trilhões que investidores pessoa física aplicam globalmente, disse Eric Mogelof, chefe de soluções globais da KKR. “Prevemos que essas alocações aumentem para 10%.”
Os reguladores buscam definir diretrizes para esse crescente mercado de crédito, que a BlackRock projeta que dobrará de tamanho para US$ 3,5 trilhões até 2028. Os credores não bancários historicamente fizeram empréstimos para empresas de médio porte, mas expandiram o escopo para grandes empréstimos corporativos, depois financiamento de aeronaves, empréstimos ao consumidor e muitos outros setores financeiros, à medida que os bancos se retraíram devido à regulamentação mais rígida.
Um tribunal federal de apelações em junho anulou os esforços da SEC para fazer com que os gestores de fundos fechados divulgassem investimentos e cálculos de taxas de forma mais completa para seus clientes. O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou em abril um relatório pedindo “uma abordagem de supervisão e regulamentação mais intrusiva para fundos de crédito”, para lidar com riscos crescentes.
Fonte: Valor Econômico

