Grupo controlador faz movimentações para evitar oferta hostil de dono da EMS
A Votorantim SA dobrou sua participação acionária na HyperaCotação de Hypera Pharma, para 11%, em mais um movimento de compra de ações para evitar ofertas de aquisição consideradas hostis, como a feita pela controladora da EMS em outubro do ano passado. A estratégia foi a mesma adotada pelo empresário João Alves de Queiroz Filho, conhecido como Junior, fundador do grupo, que também aumentou participação no negócio.
De acordo com o último formulário de referência da farmacêutica, divulgado em 27 de fevereiro, a Votorantim detinha 5,11% dos papéis ordinários. A carta do conglomerado industrial afirma que a companhia planeja “iniciar um diálogo com os atuais acionistas controladores da HyperaCotação de Hypera sobre seu eventual papel na governança”, com possibilidade de participação no acordo de acionistas e indicação de candidatos ao conselho de administração. Procurada pelo Valor, a HyperaCotação de Hypera não comentou a operação.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já havia questionado a HyperaCotação de Hypera sobre o acordo na última quinta-feira (7), após reportagens indicarem as negociações para um possível aumento de participação da Votorantim. A HyperaCotação de Hypera respondeu que não tinha “qualquer informação” sobre o assunto, após solicitar dados aos signatários do acordo de acionistas sobre “contatos preliminares com a Votorantim”.
O aumento de participação acionária anunciado ao mercado na noite de ontem (10) segue uma série de movimentações dos controladores da HyperaCotação de Hypera contra ofertas de aquisição, desencadeadas pela proposta de fusão da NC Farma Participações, controladora da EMS.
A companhia de Carlos Sanchez fez, em 22 de outubro de 2024, uma oferta pública de aquisição (OPA) de até 20% da HyperaCotação de Hypera, ao preço de R$ 30 por ação, o que à época representava prêmio de 39% sobre a cotação dos papéis. O conselho de administração da HyperaCotação de Hypera rejeitou por unanimidade a proposta, classificada como hostil, três dias depois.
De acordo com a HyperaCotação de Hypera, o portfólio da EMS focado em medicamentos genéricos não estaria “alinhado com os segmentos que a companhia avalia como estratégicos”. A cultura organizacional e as práticas de governança corporativa também seriam “absolutamente distintas”, na avaliação do conselho de administração da HyperaCotação de Hypera, considerando que a EMS é uma empresa familiar de capital fechado. O comunicado ao mercado que rejeitou a aquisição destaca ainda que a proposta da NC Farma Participações foi feita “de forma não solicitada ou previamente discutida” e que subestimava “significativamente o valor da HyperaCotação de Hypera”.
O Pipeline, site de negócios do Valor, apurou que as duas farmacêuticas negociavam a combinação de negócios há meses, com o BTG Pactual assessorando a EMS. O bloco de controle também é formado pela gestora mexicana Maiorem, com 14,74% de participação acionária. A queda no preço das ações da HyperaCotação de Hypera no decorrer de 2024, porém, levou o empresário Carlos Sanchez a acelerar a proposta. “Acreditamos que a união das forças da HyperaCotação de Hypera e da EMS representa uma oportunidade estratégica única e com potencial de criação de valor transformacional para todos os seus acionistas”, dizia a proposta, destacando que o negócio criaria a maior empresa farmacêutica da América Latina.
Desde a negativa do conselho de administração da HyperaCotação de Hypera, o fundador da companhia aumentou sua participação acionária duas vezes. A primeira, de 21,38% para 26,4%, foi realizada no fim de dezembro. Já a movimentação mais recente elevou a fatia de Junior, para 27% no fim de fevereiro. Sanchez detém cerca de 5% da companhia.