O Reino Unido está em busca de novos parceiros comerciais após a saída da União Europeia, e o Brasil pode aproveitar a oportunidade para ampliar sua presença no comércio internacional. Para isso, no entanto, terá de fazer a ?lição de casa? em relação a temas como ambiente, reforma tributária e melhoria do ambiente de negócios. Nesse último ponto, dando continuidade, por exemplo, ao processo de adesão à OCDE.
As afirmações são de Ana Paula Vitelli, presidente da Britcham (Câmara Britânica de Comércio e Indústria) Brasil desde 2020.
Reeleita para mais um mandato de dois anos à frente da Câmara, Vitelli diz que o momento é propício para uma reaproximação entre os países, cuja corrente de comércio encolheu nos últimos dez anos.
Além da questão comercial, que vem sendo tratada por meio de propostas enviadas ao Brasil e de uma série de visitas de representantes britânicos ao país, o Reino Unido quer ser uma base para empresas brasileiras que queiram atuar internacionalmente como se fossem britânicas. Já há um grupo do governo local assessorando empresas brasileiras nesse sentido.
Em dez anos, a corrente de comércio entre os dois países recuou de US$ 8,5 bilhões para menos de US$ 5 bilhões, com queda tanto nas exportações como nas importações. Com isso, os britânicos não figuram entre os principais parceiros comerciais do Brasil.
?Há um espaço enorme de oportunidade de ter mais trocas entre Brasil e Reino Unido?, afirma Vitelli.
O Reino Unido importa 50% dos alimentos e bebidas consumidos. Esses produtos tinham como origem, principalmente, a União Europeia. Com o brexit, podem vir de outros mercados.
Mas o objetivo é ir além das commodities, e já foram mapeadas oportunidades nos segmentos de higiene, cosméticos, calçados e tecnologia.
?Com o brexit, a necessidade de buscar outros fornecedores ficou iminente, e o Reino Unido tem mostrado o interesse de o Brasil ser um parceiro nessa nova fase, de buscar esses fornecedores aqui no Brasil?, afirma Renata Sucupira, presidente do comitê de comércio e investimentos internacionais da Britcham.
Vitelli cita uma série de questões vistas como fundamentais pelos britânicos para que seja possível avançar na relação entre os dois países. Uma é a ambiental, que também tem sido um entrave para a concretização do acordo entre Mercosul e UE.
Ela ainda o avanço da agenda ligada à adesão do Brasil à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O ingresso do Brasil no grupo tem o apoio do Reino Unido e tem avançado na gestão do ministro Paulo Guedes (Economia), que visitou a sede da entidade na semana passada.
Para aderir ao grupo, o país precisa alterar uma série de normas. Duas medidas nesse sentido foram a redução gradual do IOF sobre operações de câmbio e do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante, de 25% para 8%.
As negociações com a entidade ficaram paradas durante os governos Lula e Dilma Rousseff e ainda sofrem resistência por parte de algumas lideranças ligadas ao PT.
Vitelli afirma que o ingresso na OCDE daria ao país um selo de qualidade em relação ao ambiente de negócios e segurança jurídica.?Não vejo muito espaço para voltar atrás, e não seria algo benéfico para o Brasil.?
Fonte: Folha de S.Paulo
