Por Marcelo Osakabe — De São Paulo
08/04/2022 05h01 Atualizado 08/04/2022
A antecipação em 15 dias da mudança da bandeira tarifária de escassez hídrica para verde não deve ter impacto relevante sobre a perspectiva para o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) no ano, na opinião de economistas consultados pelo Valor. Embora o anúncio tenha surpreendido, eles entendem que o efeito se concentrará principalmente nos meses de abril e maio.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, a medida anunciada na noite da quarta-feira resultará em uma redução de cerca de 20% sobre a tarifa de energia. A bandeira escassez hídrica está em vigor desde setembro do ano passado, para cobrir custos de medidas excepcionais tomadas durante a estiagem do ano passado para evitar problemas com o fornecimento de energia.
Muitos economistas já trabalhavam com a hipótese de que a mudança ocorresse em maio, mas para a bandeira amarela. No entanto, por causa da forte melhora do regime de chuvas e das projeções hídricas, também estava no radar a possibilidade de uma troca direta para a verde, diz a economista da MCM Consultores Basiliki Litvac.
“O que surpreendeu foi o timing”, diz Basiliki. Ela pondera, por outro lado, que reajustes maiores que o esperado das concessionárias devem reduzir o impacto sobre a conta de energia, que deve cair pouco menos que os 20% divulgados pelo governo.
A MCM contava com um reajuste de até 10% das tarifas, mas, com base em decisões recentes feitas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), acredita que esse percentual possa ficar em até 13%. “Ao trocar essas premissas, o efeito sobre o IPCA no ano acaba se anulando”, diz a profissional, que manteve inalterada sua projeção para inflação em 2022 em 6,8%.
Por outro lado, diz Basiliki, caso esse reajuste maior por parte das concessionárias não se concretize, o efeito da troca da bandeira amarela pela verde pode significar um alívio de 0,15 ponto na projeção do IPCA ao fim do ano.
Dessa forma, o impacto da antecipação sobre a inflação deve ficar concentrado nos primeiros meses de vigência da medida. “O que muda é o desenho mensal da inflação. Essa antecipação para meados de abril acarreta queda importante para este mês, que saiu de 1,17% para 0,85%. Por outro lado, saímos de uma pequena deflação em maio, de -0,05%, e passamos a prever uma pequena aceleração, de 0,17%, por causa dessa antecipação”, diz o economista da LCA Consultores Fábio Romão.
A casa, no entanto, manteve sua estimativa de IPCA em 7,48% no fim do ano. Nas contas de Romão, caso a bandeira de escassez hídrica fosse mantida até o fim do ano, o IPCA terminaria o ano em 8,33% – 0,85 ponto porcentual acima da atual projeção.
“Talvez o impacto fosse até maior, uma vez que a energia entra indiretamente na composição de outros preços”, lembra.
Para economistas do Citi, ainda é cedo para saber se a antecipação da redução da bandeira terá impacto sobre a inflação cheia de 2022. “A medida deve derrubar em 19,2% os preços de energia – o que, ajustado pelo seu peso no IPCA, deve resultar em uma queda de aproximadamente um ponto porcentual no indicador cheio”, dizem economistas. Eles ponderam que o impacto deve ser dividido entre os meses de abril e maio.
Assim, a projeção do banco para a inflação em 12 meses caiu de 11,7% para 11,1% em abril e de 10,5% para 10,3% em maio.
Apesar do alívio, a expectativa para a inflação no ano segue em 7,6%. “É importante salientar que estamos entrando na estação seca, e o que realmente importa para a inflação no fim do ano é a bandeira de dezembro, que vai depender do quão severa será a estiagem. Permanecemos confortáveis com nossa projeção neste momento”, escrevem.
Fonte: Valor Econômico

