Por Cristiana Euclydes, Felipe Laurence, Matheus Prado, Ana Luiza Tieghi e Beth Koike* — De São Paulo e de Coimbra (Portugal)
01/11/2022 05h02 Atualizado há 5 horas
A vitória do candidato do PT nas eleições presidenciais teve impacto positivo nas ações do chamado “kit Lula”. Ações de empresas de saúde, educação, varejo e construção, especialmente de empresas voltadas à baixa renda, subiram ontem na B3 com a expectativa de que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, reative programas que adotou em seus dois mandatos anteriores.
As maiores altas na sessão ficaram por conta de empresas ligadas à economia doméstica, como a operadora de turismo CVC, que subiu 9,63%. A Yduqs, de educação, avançou 5,56%, a Qualicorp, de saúde, teve ganho de 4,66%, e as preferenciais da Azul tiveram ganho de 8,91%. A construtora MRV saltou 3,47% num dia em que o Ibovespa subiu 1,31%.
“Embora o atual governo de Jair Bolsonaro tenha sido mais generoso do que o inicialmente esperado em termos de política fiscal e gastos sociais, a campanha de Lula mencionou potenciais propostas de políticas que poderiam impulsionar o consumo de curto prazo”, afirmou o Goldman Sachs em relatório.
Executivos da área de educação disseram ver boas perspectivas para o ensino superior. Lula já declarou que pretende reativar programas como o Fies (crédito estudantil) e Prouni (bolsas de estudo). “Entre os dois candidatos, o do PT foi o que se posicionou publicamente a favor do Fies e Prouni. Portanto, saudamos com alegria sua vitória para aumentar a oferta de instrumentos que dão mais acesso aos alunos carentes”, disse Celso Niskier, presidente da Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes).
“Olhando para o passado dos candidatos, estou vendo o futuro. Acredito que o Lula teve uma proximidade maior com o setor de educação e acaba sendo uma opção melhor”, disse Fábio Fossen, presidente da Cruzeiro do Sul Educacional. “Há mais clareza e estabilidade para o setor, o ambiente tende a ser mais positivo”, acrescentou, ponderando que os desafios serão macroeconômicos.
Para o BTG Pactual, a vitória de Lula é “claramente” positiva para o mercado privado de estudantes de graduação. Os analistas Samuel Alves, Yan Cesquim e Pedro Lima disseram que os negócios com ações do setor serão correlacionadas com o fluxo de notícias pós-eleitorais. Apesar disso, destacaram que uma recuperação em “V” não deve ocorrer tão cedo.
Entretanto, o BTG disse preferir por enquanto o setor de saúde. Embora seja um segmento regulado, os principais temas dessa pauta não estiveram em foco na campanha. “Não vemos implicações diretas para os atores privados, principalmente ante empresas estatais e outros setores.”
As ações das incorporadoras também reagiram bem à eleição de Lula. Num primeiro momento, subiram mais os papéis de empresas do segmento de baixa renda, mas ao longo da tarde os voltados a projetos de médio e alto padrão se valorizaram. Para Daniel Gasparete, analista do Itaú BBA, as sinalizações de que a transição de governo será “suave” trouxeram dinheiro estrangeiro e reforçaram a expectativa de queda de curva de juros, que deve chegar à taxa de financiamento imobiliário.
Gustavo Caetano, analista do Inter, diz ser visão geral do mercado que setores mais cíclicos, como a construção, foram beneficiados pela entrada de capital. Além disso, o histórico de Lula com o segmento é bem-visto.
Na baixa renda, a Plano&Plano teve a maior valorização no dia, de 9,35%, cotada a R$ 4,56. “É uma ação que sofreu pós-IPO, perdeu liquidez e saiu do radar dos investidores, mas não tinha motivo para estar tão baixa”, disse Gasparete.
Para Alexandre Cancherini, sócio e gestor de renda variável da Frontier Capital, a consolidação da performance do “kit Lula” depende da indicação de um coordenador da equipe de transição e, mais à frente, do próximo ministro da Economia. “Não havendo surpresas nesse front, ações dos setores relacionados a varejo (consumo), educação (mobilidade social) e construção civil/infraestrutura (temas ligados a baixa renda e investimento em infraestrutura) devem ter uma performance positiva.”
Em relatório, o J.P. Morgan mostrou visão parecida. No ramo de construção civil, citou MRV, Direcional e Tenda como possíveis beneficiárias de programas para baixa renda; em educação, apontou a Yduqs como provável vencedora em uma expansão do Fies; no setor de bens de consumo, disse que M Dias Branco, Camil e Ambev podem se beneficiar do foco inicial do governo de lidar com a insegurança alimentar; na área de consumo discricionário, vê espaço para valorização de Magalu e Renner.
*A repórter viajou a convite da Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior
Fonte: Valor Econômico

