Por Viktoria Dendrinou e Enda Curran, Bloomberg
05/07/2023 12h38 Atualizado há 20 horas
A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, visita a China nesta semana com o objetivo de encontrar pontos em comum na área econômica e abrir canais de comunicação, em meio a uma relação cada vez mais turbulenta entre as duas maiores economias do mundo.
Será o primeiro grande teste de uma política traçada por ela em abril que consiste em defender e garantir a segurança nacional dos EUA, mas sem tentar frear a economia da China.
A chegada de Yellen na quinta-feira se dá dias depois de a China ter imposto restrições à exportação de dois metais cruciais para importantes empresas de tecnologia, na mais nova escalada da guerra comercial que já havia recrudescido em 2022 com os controles impostos pelos EUA às exportações americanas de semicondutores e equipamentos de fabricação de chips.
Ela chega a Pequim exatos cinco anos após o governo Trump impor a primeira leva de tarifas de importação sobre mais de US$ 300 bilhões em mercadorias da China – tarifas mantidas pelo presidente Joe Biden, apesar de criticadas por Yellen.
“As relações não têm melhorado, mas EUA e Europa têm percebido cada vez mais que o grau de interdependência econômica com a China é tal, que uma separação é impossível”, disse Alicia García-Herrero, economista-chefe para a região da Ásia-Pacífico do Natixis. “Em outras palavras, não há saída pela porta dos fundos: é necessário diálogo.”
A viagem de Yellen segue-se à do Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em junho e se soma a um esforço mais amplo do governo Biden para voltar a envolver-se com o maior rival geopolítico em meio às perspectivas econômicas mundiais incertas, que também poderiam ser abaladas pela ruptura.
Yellen tinha há meses a esperança de visitar a capital chinesa, mas uma escalada nas tensões decorrente da visita da então presidente da Câmara dos Deputados americana, Nancy Pelosi, em 2022 a Taiwan (que Pequim reivindica como parte da China) e do voo de um balão chinês sobre os EUA deixaram os planos no limbo.
Eficácia das Tarifas
No campo do comércio exterior, Yellen já questionou no passado a eficácia das tarifas dos EUA, ao dizer que elas alimentam a inflação e sugerir que poderiam ser revertidas. Há um ano Biden criou uma breve expectativa de que as tarifas poderiam ser removidas, quando disse estar analisando seu impacto nos preços ao consumidor, à medida que a inflação aumentava, mas isso não resultou em nada.
A pressão econômica para removê-las diminuiu quando inflação cedeu, mas a pressão política para mantê-las aumentou à medida que as tensões com Pequim se intensificaram. Dessa forma, o cenário mais provável é a manutenção das tarifas, segundo analistas.
Ainda assim, enquanto estiver em Pequim, Yellen buscará encontrar pontos em comum em outras frentes. Ela se reunirá com altas autoridades chinesas para discutir a importância de que a relação EUA-China seja tratada de forma responsável e de que haja uma comunicação direta sobre temas de preocupação e um trabalho conjunto para enfrentar desafios mundiais, como as mudanças climáticas e a insustentabilidade da dívida de países mais pobres.
Uma prioridade para o Tesouro tem sido pressionar Pequim a aumentar o alívio da dívida para países em desenvolvimento, dos quais a China se tornou um dos maiores credores. A visita de Yellen também se segue a um recente acordo preliminar com a Zâmbia, que foi elogiado por ela.
Pouca chance de grandes avanços
Embora um funcionário do Tesouro tenha tentado abrandar as expectativas, considerando improvável um avanço significativo, o departamento espera que a viagem ajude a construir canais de comunicação de longo prazo com a nova equipe econômica do governo chinês.
David Loevinger, diretor-gerente da equipe de mercados emergentes da gestora de recursos TCW, disse que é chocante como os governos dos EUA e da China pouco se falam em todas as esferas, destacando o fato de que autoridades econômicas-chave em ambos os países não se conhecem.
A retomada desse diálogo é fundamental tendo em vista as recentes nuvens escuras pairando sobre as perspectivas econômicas chinesas. As autoridades do país reduziram as taxas de juros e adotaram medidas para fortalecer o mercado imobiliário, que tem sofrido com o excesso de endividamento e de construções. Também estão cada vez mais preocupadas com questões demográficas, como a população em declínio e a alta taxa de desemprego entre os jovens.
“É vital que as autoridades econômicas entendam o que está acontecendo no outro país”, disse Loevinger, ex-coordenador sênior de assuntos relacionados à China no Tesouro.
Mais tensões
Entre outros possíveis problemas nas próximas negociações estão a recente ofensiva da China quanto ao acesso a informações sobre suas empresas e questões pendentes sobre as perspectivas de abertura de capital de empresas chinesas em bolsas americanas. Por sua vez, os líderes chineses têm enfatizado de forma reiterada que seu país recebe bem empresas estrangeiras.
Outra provável fonte de tensão é um iminente decreto executivo do governo Biden limitando os investimentos americanos na China, que pode ser emitido até o fim de julho e incluiria tecnologias sensíveis, como as de semicondutores, inteligência artificial e computação quântica.
Mesmo que as expectativas para esta viagem sejam baixas, a visita de Yellen é importante, pois as relações continuam instáveis, de acordo com Deborah Elms, diretora-executiva do Centro de Comércio Exterior Asiático.
“O primeiro passo para resolver qualquer problema é ter canais de comunicação abertos”, disse Elms. “Isso ajuda a reduzir o risco e a incerteza, mesmo que o resultado de qualquer reunião pareça modesto.”
Importantes acadêmicos chineses têm reiterado recentemente a mesma opinião, de que a visita de Yellen não mudaria fundamentalmente as relações bilaterais nem resolveria problemas importantes, mas poderia melhorar o clima e lançar bases para novas negociações.
“Mesmo que a visita dela não resolva problemas específicos, isso pode melhorar o clima e permitir que surjam vozes mais racionais no governo”, disse Wu Xinbo, reitor do Instituto de Estudos Internacionais, da Universidade Fudan, em Xangai, que falou nos corredores de um fórum sobre a paz, em Pequim, na segunda-feira. (Colaboraram Lucille Liu e Eric Martin).
Fonte: Valor Econômico

