Diante da crise de confiança desencadeada pelo uso indevido de recursos de fundos de reserva de certificados de recebíveis imobiliários (CRI) e do agronegócio (CRA) pela Virgo, empresas especializadas em “special situations” (ativos com problemas) e em fusões e aquisições já estão montando propostas pela companhia. Outra solução que está na mesa é um acordo de “aval coletivo” de gestoras, o que na prática significaria o compromisso de que elas não mudariam de securitizadora. Em troca, haveria uma mudança geral no comando da Virgo.
Na sexta-feira, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processo para investigar o caso, a partir de denúncia feita pelo ex-diretor da securitizadora Eduardo Levy. “É uma questão reputacional que demanda solução rápida para tirar a percepção de que há um problema no setor”, diz o sócio de um grande escritório de advocacia que vem acompanhando as discussões. “Se houver uma debandada, a Virgo acaba e é pior para todo mundo”, avalia um gestor de uma grande asset independente.
O gestor participou na semana passada de uma reunião em que estavam 90% das assets que trabalham com a Virgo. Segundo ele, a aquisição por uma gestora está fora de cogitação, já que a ligação entre as duas impediria vários negócios. Há, no entanto, quem aposte em uma compra por alguém de fora da securitização, sendo o nome da Reag um dos cotados, considerando seu apetite por ativos estressados. Procurada, a companhia disse, em nota, que não comenta rumores de mercado. Já a Virgo informou, em fato relevante, que está avaliando propostas, mas que nada foi formalizado ainda.
Uma alternativa seria a entrada de um sócio bem visto no mercado. Além disso, o presidente da companhia, Ivo Kos, foi aconselhado, independentemente da chegada ou não de um sócio, a se afastar do comando pelo menos momentaneamente. O que as gestoras buscam, segundo fontes, são formas de solucionar o caso para que não tenham que fazer a retirada dos papéis que hoje estão sob o guarda-chuva da Virgo – processo que não é simples e que demanda gastos para cobrir custos como o registro de garantias em cartório, além da assessoria jurídica.
Com as dúvidas de investidores sobre o que de fato ocorreu, a Vórtx, que é agente fiduciário em algumas das operações que estão na Virgo, começou a fazer um trabalho de supervisão. A “auditoria” foi iniciada na última semana, deve durar mais alguns dias e, segundo a empresa, tem como objetivo garantir aos investidores a adimplência dos pagamentos previstos, a coleta de dados sobre a situação de saldo de contas, além da checagem da constituição e da qualidade dos investimentos.
Conforme a Vórtx, os investidores estão recebendo diariamente boletins sobre as apurações, assim como eventuais convocações de assembleias. Como informou o Valor, bancos de investimento e gestores também buscaram nas últimas semanas outras securitizadoras para o monitoramento das operações que vão continuar na Virgo. A Opea e a Leverage estariam tocando esses trabalhos, segundo fontes. Ambas não comentaram.
Enquanto não há uma solução para a crise, a BRL Trust, administradora e gestora do Allocation, fechou para resgates o fundo, que está no centro do caso. Nele foram investidos, de forma indevida, recursos de fundos de reserva de CRIs e CRAs usados para compra de um CRI da Cedro. A operação da Cedro foi estruturada pela Virgo, que precisou exercer a garantia firme com o título depois que não houve demanda no mercado.
No comunicado de sexta-feira, a Virgo disse estar tomando “todas as medidas cabíveis para a averiguação e a elucidação dos fatos” e que não vislumbra prejuízo que tenha sido causado a investidores com a operação. Ao Valor, a securitizadora enviou nota em que afirma que “no curso de suas atividades e da operação em questão nenhuma lei e nenhum regulamento de mercado foi violado” e que os fundos de reserva investidos no Allocation estão segregados de forma adequada.
Fonte: Valor Econômico

