Por Maria Luíza Filgueiras — De São Paulo
08/03/2024 05h03 Atualizado 08/03/2024
A Vinci Partners acaba de fechar uma transação que antecipa em anos sua expansão de volume sob gestão (AUM) e a consolida como gestora regional na América Latina. A firma de origem carioca está fazendo uma combinação de negócios com a nova-iorquina Compass, que fará o volume saltar de cerca de US$ 14 bilhões para pouco mais US$ 50 bilhões – passando o Pátria neste quesito e tornando-se a maior gestora brasileira independente na região em posição de fundos alternativos.
“A companhia se torna um portal para o investimento alternativo na América Latina”, define Alessandro Horta, CEO da Vinci, ao Valor. A expansão regional já era um plano apresentado pela companhia ao mercado desde seu IPO (oferta inicial de ações) em bolsa americana. Essa é a segunda transação recente da firma de Horta, que no fim do ano passado fechou um acordo estratégico com a Ares Management – mas é a mais relevante em magnitude.
A Vinci vai incorporar a Compass, que receberá 11,78 milhões de ações da gestora brasileira e um pagamento em papéis conversíveis no montante de US$ 31,3 milhões (cerca de R$ 154 milhões). Assim, os atuais acionistas da Compass ficarão com 18% da Vinci. A previsão é que a transação seja concluída no terceiro trimestre.
Há baixíssima sobreposição geográfica, de base de investidores e de portfólio entre as companhias. “A transação adiciona de imediato lucro de assessoria e gestão por ação”, aponta Horta.
Os acionistas da Compass têm ainda um “earn-out” (ganho) de 7,5% da Vinci, dependendo do atingimento de metas até 2028. Os sócios-fundadores da empresa, Manuel Balbontín e Jaime de la Barra, que são presidente e vice-presidente da gestora, passam a integrar o conselho de administração da Vinci.
“A Vinci se consolida num modelo ‘local to local’, levantando dinheiro num país e investindo nele, e ‘global to local’, trazendo investidores de outras regiões do mundo para a América Latina”, diz o CEO. Ele emenda que a firma terá ainda atuação ‘local to global’ considerando as possibilidades de investimentos em cada linha de negócio.
“Hoje a exposição de investidores globais à região é muito baixa e também a exposição dos investidores locais a investimentos alternativos, o que abre muita oportunidade”, afirma. Ele destaca que a região soma 600 milhões de habitantes, com um volume de US$ 2,8 trilhões de AUM.
Até agora, a maior firma brasileira na região era o Pátria, que fechou o ano com US$ 27 bilhões sob gestão. A casa também vem diversificando sua atuação geográfica – no final de 2021 comprou a chilena Moneda. A meta é chegar a US$ 50 bilhões ao final de 2025. O Pátria, no entanto, tem uma rentabilidade mais elevada dado o perfil da carteira.
Também há diferença entre a rentabilidade de Vinci e a nova acionista. A Compass traz um volume maior de AUM, mas a brasileira tem maior receita e rentabilidade. A incorporação, portanto, vai reduzir um pouco a margem da Vinci no primeiro momento – de 48% para cerca de 36,4%. As companhias avaliam que essa diferença será reequilibrada com os ganhos de sinergia, bem como com o novo alcance de sua distribuição.
“Tem todo um trabalho a ser feito para a integração, os ganhos de sinergia, a fusão cultural. Mas é uma conversa que vem acontecendo nos últimos dois anos, com muito alinhamento de visão”, diz Horta. As empresas devem contar com consultoria da Bain&Company nesse processo.
Com a combinação dos negócios, a “nova” Vinci passa a ter 45% da receita de taxas no negócio de “private markets”, 37% em IP&S [produtos de investimento e soluções], 13% em “public equities” e 5% em assessoria corporativa.
O AUM total é de US$ 51,4 bilhões considerando os dados fechados do ano passado, com receita de “fees” de US$ 152,4 milhões.
A Compass foi fundada em Nova York há 28 anos, mas sempre com foco na América Latina. A companhia atua principalmente em soluções de investimento – segmento conhecido pela sigla IP&S. A empresa está em sete países na América Latina e tem escritório também no Reino Unido, além dos EUA. A Vinci é conhecida por sua atuação em private equity, crédito privado e real estate.
Segundo Horta, a gestora continuará com fusões e aquisições (M&A) no radar, mas agora em oportunidades de menor porte, em incremento de negócios em verticais específicas – há dois anos, por exemplo, a companhia comprou a SPS Capital no país, criando uma área de “special situations” (crises e reestruturações).
O Goldman Sachs atuou como consultor financeiro da Vinci, com Simpson Thacher & Bartlett como consultor jurídico da transação e o Carey Abogados como consultor jurídico latino-americano. Do lado da Compass, o Morgan Stanley foi o consultor financeiro com o Skadden, Arps Slate, Meagher e Flom como consultor jurídico.
Fonte: Valor Econômico

