A Verde Asset Management, de Luis Stuhlberger, deve sucumbir a um movimento de consolidação que já atravessou o caminho de outras gestoras de recursos independentes brasileiras. A casa está em conversas para se unir à Vinci Compass, que atua principalmente no segmento de alternativos e que reunia R$ 232 bilhões ao fim de março. Nenhum acordo foi fechado por ora, segundo fontes a par das conversas. A negociação foi antecipada pelo “Brazil Journal” e confirmada pelo Valor. A Verde e a Vinci não quiseram comentar o assunto.
Como a Vinci Compass tem capital aberto na bolsa americana Nasdaq, um eventual negócio seria feito por meio de troca de ações. Um dos arranjos possíveis é que Stuhlberger fique pelo menos cinco anos na estrutura com outros integrantes de sua equipe da Verde. Daniel Goldberg, da Lumina, que passou a ter uma participação concentrada na Verde, a partir da compra da parte de 25% do Credit Suisse na asset, no fim de 2023, também permaneceria na sociedade por esse período.
A aproximação ocorre após a Verde ver o seu patrimônio diminuir progressivamente nos últimos anos, de cerca de R$ 55 bilhões em 2021 para os R$ 17 bilhões atuais, replicando o movimento que abateu os hedge funds no Brasil. O período de alta acelerada de juros no pós-pandemia coincidiu com mudanças na tributação dos fundos fechados exclusivos e de uma fase de má performance para a indústria.
O multimercado Verde é um dos mais antigos, com cota desde 1997, na antiga Hedging-Griffo, depois adquirida pelo Credit Suisse, até Stuhlberger partir para o voo solo. Os únicos anos com performance negativa foram 2008 (-6,4%), na quebra do Lehman Brothers, e em 2021 (-1,13%), durante a pandemia.
Mas como empreendimento, a Verde não conseguiu se projetar como uma das maiores gestoras de recursos independentes do país, à altura do capital humano de seu fundador, reflete um gestor de fundos de fundos da velha guarda. Um alocador questiona se esse movimento não seria uma forma de Stuhlberger, hoje com 70 anos, organizar a sua sucessão dentro de um grupo maior.
Para a Vinci, a chegada de Stuhlberger traria mais relevância no universo dos fundos líquidos, adicionando um gestor que já foi testado em diversos cenários, observa outro profissional. Diferentemente de pares emblemáticos da gestão independente, como Rogério Xavier, da SPX, e de André Jakurski, da JGP, que atuam mais no estilo de “trader”, em transações de tiro curto, o fundador da Verde é reconhecido pelo seu perfil de alocador, de pensar cenários e estratégia de longo prazo.
Em abril, a JGP selou a venda da sua divisão de gestão de fortunas, então com R$ 18 bilhões, para o BTG Pactual. Em junho, a SPX Capital desativou a área de “investment solutions”, criada em 2023 para captar recursos do público institucional — entre fundações, seguradoras e estrangeiros — e devolveu cerca de R$ 350 milhões para os investidores. Em maio, a Gap, outra pioneira do setor, encerrou atividade de gestão de recursos de terceiros e transferiu seus fundos para a Legacy.
Com o fim do diferimento tributário em fundos exclusivos fechados, usados por famílias ultrarricas para gestão patrimonial desde o ano passado, os multimercados perderam um pouco do seu apelo. Após atravessarem um período longo de performance fraca, o setor encolheu.
De janeiro a junho, a categoria apresentou resgates líquidos de R$ 78,9 bilhões. Desde 2022 há uma sangria de recursos na categoria, com quase R$ 610 bilhões sacados pelo investidor. O segmento também enfrentou a concorrência com os títulos isentos de Imposto de Renda (IR), um bálsamo para o bolso do investidor numa economia que voltou a rodar com a Selic em dois dígitos, hoje em 15% ao ano.
Fonte: Valor Econômico

