8 Jan 2024 DANIEL ROCHA
Aalta de 22% do Ibovespa no acumulado de 2023, a maior dos últimos três anos, abriu margem para os investidores esperarem uma continuidade dos ganhos nos primeiros meses de 2024. A perspectiva de queda de juros no exterior e a continuidade dos cortes da Selic no mercado local constroem um ambiente mais favorável para os ativos de renda variável.
No entanto, essa perspectiva positiva pode não refletir em retornos elevados. A avaliação é de Mário Felisberto, CIO do Santander Asset Management (SAM), que diz que os prêmios da bolsa devem ser limitados em 2024 em razão dos ganhos dos últimos dois meses.
Por outro lado, ele acredita que os títulos prefixados podem oferecer ganhos mais atrativos aos investidores do que os ativos de bolsa, mesmo com um cenário mais favorável para os ativos de risco.
Qual é a visão do Santander Asset para o Ibovespa em 2024?
Estamos relativamente otimistas porque enxergamos um crescimento econômico moderado e inflação convergindo cada vez mais para a meta, o que permite que os principais bancos centrais iniciem o corte de juros. No Brasil, temos também uma perspectiva construtiva. O crescimento econômico deve ficar moderado; a inflação convergindo cada vez mais para as metas e o Banco Central já está reduzindo a taxa de juros. Imaginamos que esse movimento segue ao longo do ano e pode dar suporte para uma tendência positiva.
Qual é o principal ponto de preocupação?
O cenário fiscal. Precisamos acompanhar como está a atuação do governo frente às despesas e como ele está trabalhando para alcançar a meta fiscal. Outro ponto de atenção em relação à perspectiva para o Ibovespa é o seu preço. Vimos nos últimos dois meses uma alta significativa do índice, justificada pelo cenário convergindo para uma alternativa mais otimista. Os mercados já anteciparam esse movimento, o que reduz o potencial de alta para os próximos meses. Temos um cenário otimista, mas os investidores precisam monitorar os patamares de preço porque, no preço atual, temos uma alocação mais perto do neutro em investimentos em bolsa do que uma alocação muito otimista.
Como está a alocação dos fundos do Santander Asset?
Estamos focados nas ações que se beneficiam do movimento de cortes de juros, estamos favorecendo as ações do consumo doméstico, mas fazemos constantemente o rebalanceamento da carteira porque, em alguns momentos, o potencial de alta desses papéis pode estar esgotado. Por isso, podemos migrar para ações um pouco mais defensivas.
Como está a posição dos investidores em fundos de investimentos com esse cenário otimista para a bolsa?
O fluxo estava negativo ao longo de 2023. Vimos uma melhora, mas ainda não dá para dizer que trata-se de um retorno robusto ou que podemos esperar esse retorno. Com a continuidade da queda dos juros, esperamos que 2024 seja um ano com um fluxo um pouco mais positivo para mercados de risco.
Quais são os fundos que podem surpreender?
O produto que deve se favorecer com esse cenário é o fundo multimercado, porque conseguimos capturar o retorno de várias classes de ativos e conseguimos rebalancear o portfólio com ativos mais defensivos em um momento de cenário mais negativo.
Em relação ao mercado de renda fixa, há alguns ativos que devem oferecer melhores retornos em 2024 e priorizados na alocação?
Estamos com um posicionamento otimista tanto em ativos prefixados quanto em ativos atrelados à inflação. Acreditamos que, à medida que for se consolidando uma trajetória de queda de juros, esses títulos podem se beneficiar. A bolsa de valores subiu bastante em novembro e dezembro e tirou uma parte do potencial de ganho. Nesse meio tempo, os ativos prefixados e os papéis atrelados à inflação também subiram. Então, a essa altura o prêmio que esses ativos têm é menor do que há dois meses. Se compararmos renda fixa prefixado e bolsa, consideramos que tem mais prêmio nesse momento em renda fixa prefixado do que na bolsa.
Os ativos de renda fixa dos Estados Unidos também oferecem um prêmio interessante?
Estamos mais neutros porque tivemos uma queda muito acentuada nas taxas de juros nos Estados Unidos ao longo dos últimos dois meses. Por isso, não avaliamos o potencial de ganhos e, comparando todos esses diferentes mercados, vemos mais um prêmio na renda fixa local do que na renda fixa global e bolsa.
Na bolsa americana, a perspectiva é a mesma em relação ao Brasil para 2024?
Avaliamos que as ações da bolsa americana estão com um preço relativamente caro e vemos um prêmio menor ainda.
Fonte: O Estado de S. Paulo

