Por Rafael Vazquez e Alessandra Saraiva — De São Paulo e Rio
11/08/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
O volume de vendas no varejo voltou a cair em junho. Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo IBGE, varejo restrito teve queda de 1,4% em junho, ante maio, na série com ajuste sazonal. O resultado veio pior que a mediana estimada pelo Valor Data, apurada junto a 30 consultorias e instituições financeiras, que era de queda de 1,2%. É a mais intensa queda desde dezembro de 2021, quando caiu 2,9%. Em maio, frente a abril, o comércio tinha caído 0,4% – dado revisado após divulgação de 0,1%.
Na comparação com junho de 2021, o varejo restrito caiu 0,3% e acumula queda de 0,9% no resultado em 12 meses até junho. Segundo o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, foi a primeira vez que a taxa em 12 meses do volume de vendas do varejo restrito fica negativa por dois meses seguidos desde 2017, o que comprova perda de fôlego do comércio varejista.
As principais influências vieram dos segmentos de tecidos, vestuário e calçados, que recuou 5,4%, e de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com -0,5% em junho.
“A atividade de hiper e supermercados teve uma influência importante da inflação ao longo do primeiro semestre do ano. Entre abril e maio, houve variação de 4% na receita e de 1% no volume de vendas, indicador em que a pesquisa já desconta a inflação”, comentou Santos. “De maio para junho, essa atividade teve queda de 0,5% no volume, mas variou 0,3% em receita. Isso significa que há amplitude menor da inflação, mas o suficiente para que o volume tivesse variação negativa, apesar de a receita ficar no campo positivo.”
O efeito da inflação também chamou a atenção do economista da CM Capital Matheus Pizzani.
“Sete dos oito grupos [do varejo] apresentaram recuo no mês, com a única exceção vindo do grupo de artigos farmacêuticos. Comportamento distinto, entretanto, apresentou o volume de receitas nominais destes grupos, em que apenas três grupos apresentaram recuo. A explicação para tal diferença se deve em grande medida aos efeitos da inflação sobre a capacidade de consumo da população, fazendo com o crescimento das receitas não se traduza em uma maior quantidade de bens consumidos por parte da população.”
No varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, e material de construção, o volume de vendas caiu 2,3% na passagem entre maio e junho, já descontados os efeitos sazonais. O número ficou abaixo do piso das projeções de 29 bancos e consultorias ouvidos pelo Valor Data, que iam de -2,1% a +1%, com mediana de -0,7%.
Na comparação com junho de 2021, o volume de vendas do varejo ampliado caiu 3,1%. A expectativa mediana, pelo Valor Data, era de aumento de 0,1%. Já a receita nominal do varejo ampliado recuou 0,9% em junho, frente a maio, na série com ajuste sazonal. Na comparação com junho de 2021, houve alta de 13,6%
“Os dados um pouco piores que as medianas são explicados por dois pontos. Primeiro pela inflação, que realmente acelerou bastante no primeiro semestre, e a composição do endividamento da população”, disse Gustavo Cruz, economista da RB Investimentos.
Cristiano Santos destacou que houve uma chamada “perda de fôlego” no impacto das rendas adicionais extraordinárias providas por ações do governo. No primeiro semestre, o governo permitiu saque extraordinário de FGTS e antecipou o 13º salário para aposentados e pensionistas do INSS.
Para o economista da Rio Bravo Investimentos Luca Mercadante, o resultado não chega a alterar a perspectiva econômica, visto que a desaceleração da atividade já era esperada para o segundo semestre.
Fonte: Valor Econômico

