Por Larissa Garcia — De Brasília
01/06/2022 05h03 Atualizado há 10 horas
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, destacou ontem os desafios regulatórios em relação aos criptoativos e afirmou que a autoridade monetária vai regular as corretoras do segmento. “Gostamos do projeto da Câmara e do Senado, teremos um terceiro [projeto] para melhorar”, disse durante audiência pública na Câmara dos Deputados.
Campos ressaltou que os “criptoativos vieram com o blockchain” e que espera obter “grande ganho advindo dessa tecnologia”.
O Banco Central trabalha no desenvolvimento de sua própria moeda digital com tecnologia criptografada, que poderá associar funcionalidades parecidas com as das criptomoedas. O projeto do real digital está em fase inicial de testes. Antes da nova versão da moeda brasileira ser emitida, a autoridade monetária espera ter uma autorização formal para uso da nova tecnologia.
Em relação à política monetária, o presidente do Banco Central afirmou que “subir juros é sempre ruim” e “acaba tendo que frear a economia e afeta parte importante da produtividade”, mas ponderou que conviver com inflação alta pode gerar uma dose maior de aperto monetário depois.
“Nosso trabalho é sempre fazer o máximo possível para levar a inflação à meta, mas com o mínimo de destruição no tecido produtivo da economia”, pontuou. Campos ressaltou que a autoridade monetária pode cometer dois erros, subir demais ou de menos. No segundo caso, segundo ele, a inflação tende a sair do controle, o que depois precisa ser corrigido. “Nas últimas duas vezes que isso aconteceu, o Brasil teve que entrar em recessão para corrigir isso”, afirmou.
O titular do BC falou ainda sobre discussões em relação à possível mudança na meta de inflação no Brasil, mas enfatizou que o mandato da autoridade monetária é perseguir o percentual definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). “Há uma provocação no sentido de que a inflação no mundo é maior, será que não teria que mudar a meta [no país]? É um tema do CMN, BC é um voto de três, nosso mandato é seguir a meta.”
Segundo ele, o regime atual traz credibilidade para a política monetária. “A meta é decidida no CMN, quando a gente vê a meta do próximo ano, o Brasil está mais próximo que outros países. Um elemento da formação de preços é baseado em expectativas”, destacou. Antes, ele havia citado uma “nova literatura” sobre o tema, mas não quis comentar.
Em sua apresentação, Campos reforçou que produtos mais voláteis, como alimentos e combustíveis, que são menos sensíveis à política monetária, acabaram contaminando outros itens dentro da inflação, o que levou o BC a responder de forma mais contundente, elevando mais os juros. “No núcleo [de inflação] a gente tira o que é volátil e quando está alto significa que os itens voláteis contaminaram de forma ampla. Hoje os núcleos rodam a 10%, vemos várias cadeias com contaminação.”
O presidente da autoridade ressaltou ainda que o choque de alimentos e de commodities, agravado pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, é positivo para o país, que é exportador desses produtos, mas cria um problema social. Sobre atividade econômica, Campos disse esperar que as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano sejam revistas para cima.
Fonte: Valor Econômico