Estratégia de internacionalização e a aposta em novas terapias, com destaque para os análogos de GLP-1, foram movimentos importantes na manutenção do crescimento da empresa
Investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), na produção local de insumos e em aquisições garantiram a liderança da EMS, do grupo NC, no setor farmacêutica e de cosméticos do anuário Valor 1000. A estratégia de internacionalização e a aposta em novas terapias, com destaque para os análogos de GLP-1, para tratamento de obesidade e diabetes tipo 2, foram movimentos importantes em 2024 na manutenção do crescimento, afirma Marcus Sanches, vice-presidente da EMS.
Um novo ciclo de investimentos no valor de R$ 1 bilhão para os próximos dois anos está previsto e será destinado à contratação de mão de obra qualificada — que vai passar de 800 para 900 pesquisadores até o fim de 2025 — e também à modernização e à abertura de novas fábricas. “Ainda neste ano, a ampliação da unidade de Manaus (AM), por exemplo, vai aumentar em 30% a capacidade de produção de medicamentos”, diz Sanchez.
Além de Hortolândia (SP), que abriga o complexo industrial e o centro de P&D, e Manaus por meio da Novamed, a EMS conta com unidades produtivas em Jaguariúna (SP), São Bernardo do Campo (SP) e Brasília (DF).
Um dos marcos de 2024 foi a inauguração da fábrica de peptídeos em Hortolândia, iniciando a produção nacional de análogos de GLP-1, com o lançamento no mercado brasileiro das canetas de liraglutida Olire, para controle de peso, e Lirux para diabetes, em agosto deste ano. “A fábrica, inaugurada em agosto de 2024, tem capacidade para produzir 20 milhões de canetas injetáveis anuais, sendo a primeira da América Latina a produzir essas moléculas localmente e para o mercado global”, destaca Sanchez.
Alinhada à estratégia de investir em produtos de alta complexidade e diminuir a dependência da importação de insumos, a EMS firmou em agosto dois acordos com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para a produção de liraglutida e de semaglutida, princípios ativos de medicamentos GLP-1. A parceria garante a transferência de tecnologia da síntese do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) e do medicamento final para o instituto Farmanguinhos, unidade técnico-científica da Fiocruz.
Inicialmente, a produção será na fábrica da EMS em Hortolândia até que toda a tecnologia de produção seja transferida para o Complexo Tecnológico de Medicamentos de Farmanguinhos, no Rio de Janeiro. “Esse movimento começou com a inauguração da fábrica de peptídeos em 2024, ampliando a capacidade produtiva e nossa autonomia em insumos”, diz Sanchez.
Como indústria farmacêutica nacional com presença internacional — tem negócios em 56 países —, a EMS diversificou a linha de produtos para hospitais e instituições de saúde com a aquisição do portfólio da área de P&D e da operação fabril de Anápolis (GO) da multinacional alemã Fresenius Kabi, fornecedora de medicamentos injetáveis — o negócio ainda depende da aprovação dos órgãos reguladores como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A EMS está presente na Itália com o laboratório Monteresearch, nos Estados Unidos com as empresas Brace Pharma e Vero Biotech, localizadas em Atlanta, e na Sérvia com a farmacêutica Galenika, adquirida em 2017.
As aquisições da Dermacyd e da startup Vitamine-se em 2023 garantiram o crescimento no mercado over-the-counter (OTC), ou medicamentos sem receita médica. A companhia tem ainda operações no México e, segundo Sanchez, a estratégia é ampliar vendas para o Leste Europeu, diminuindo a exposição às tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil.
A empresa atua nos segmentos de prescrição médica, genéricos, medicamentos de marca, OTC e hospitalar, com produtos para praticamente todas as áreas da medicina. Além dos itens de alta complexidade, a EMS continua ampliando a linha de genéricos com prescrição médica, produtos oncológicos e anestésicos. “Com isso mantemos nossa posição de líderes em genéricos há mais de dez anos e exportações para mais de 40 países”, afirma o executivo.
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A projeção de crescimento de 15% neste ano se apoia na diversificação da linha de produtos, inovação, aquisições e expansão internacional, somadas ao lançamento de produtos como Olire e Lirux. Em 2024, a empresa anunciou um investimento de R$ 400 milhões em P&D, a serem alocados ao longo de três anos. O aporte será destinado à contratação de pesquisadores e à modernização do principal laboratório de inovação, localizado em Hortolândia.
Nos últimos dois anos, a EMS avançou na agenda ESG com gestão ambiental focada na redução da geração de resíduos por unidades produzidas. A fábrica de Hortolândia dispõe de uma central de recolhimento, triagem e envio ao descarte final e aderiu a um acordo setorial para o atendimento à Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Pelo acordo, o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) contrata uma terceirizada que operacionaliza a logística de recolhimento e destinação dos resíduos farmacêuticos. Para embalagens, a EMS faz parte do Programa Mãos para o Futuro, junto à Associação Brasileira da Indústria de Produtos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). A companhia também mede e controla diretamente o consumo de água, energia, geração de resíduos e efluentes em suas instalações.
Segundo Bruno Porto, sócio e líder do setor de saúde na consultoria PwC, a indústria farmacêutica tem apresentado crescimento superior ao Produto Interno Bruto (PIB), impulsionado pelas vendas para o governo e hospitais e vem investindo no desenvolvimento de biossimilares e moléculas próprias para superar a dependência de insumos. Entre os principais desafios, diz ele, está a reforma tributária, que pode afetar a logística e os contratos de importação. A mudança no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), explica, vai exigir maior esforço financeiro das empresas, demandando mais caixa.
No sistema atual, as empresas recebem o valor total de uma venda e, em um momento posterior, pagam o ICMS ao governo, utilizando o valor correspondente ao imposto como capital de giro durante o período entre a venda e o recolhimento. “Com a reforma, o novo modelo de cobrança do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), o valor do imposto será retido e recolhido automaticamente no momento da liquidação financeira da transação e, ao receber o pagamento por um produto, não terá mais acesso a essa parcela do dinheiro”, afirma Porto.
Para Sanchez, a EMS está bem posicionada para enfrentar o desafio logístico da reforma tributária, com unidades de produção em diferentes Estados do país e fábrica na Zona Franca de Manaus, além das unidades de produção em Atlanta, nos Estados Unidos.
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Fonte: Valor Econômico