Uma eleição surpresa – ou pelo menos uma meia surpresa – era a última cartada de Rishi Sunak e ele a usou. E, no entanto, assim como tantas outras manobras do primeiro-ministro do Reino Unido, essa medida é um produto de sua fraqueza política. É o jogo de um homem que ficou sem ideias, sem opções e não vê nenhuma razão para que suas perspectivas possam melhorar.
Normalmente, um primeiro-ministro que está tão mal nas pesquisas de opinião não sai correndo para fazer campanha. Algumas pessoas próximas de Sunak defendem há muito tempo marcar a eleição para o mais cedo possível, mas o momento lógico seria fazê-la junto com as eleições locais deste mês. E nem os resultados dela podem tê-lo encorajado: eles foram desastrosos de ponta a ponta para seu partido.
Os argumentos para a escolha de julho são todos negativos. Eles têm sua origem no receio de que o país possa punir um líder por se aferrar ao cargo; de que a disciplina interna do partido entre em colapso; e do reconhecimento de que nada do que Sunak tentou levou a alguma mudança perceptível a seu favor. Embora as perspectivas econômicas tenham melhorado, elas ainda não tiveram um impacto na sensação de bem-estar das pessoas. Os trabalhistas desfrutam de uma liderança constante e dominante nas pesquisas sobre quem administraria melhor a economia. Ministros admitem que o país parou de ouvir o governo. Uma eleição repentina vai recobrar sua atenção.
Não há nenhum motivo para achar que essa aposta dará certo. A chuva que encharcou Sunak quando ele anunciou a data da eleição, com dificuldades para se fazer ouvir por causa de um manifestante que tocava uma antiga canção eleitoral trabalhista, parecia um presságio de mau agouro sobre o que está por vir. As coisas só podem ficar mais molhadas. O primeiro-ministro parece estar apressando seus parlamentares na direção das armas. Mas o cálculo é simples. As coisas não vão ficar melhores do que estão. Não há muito o que esperar.
O maior argumento a favor de deixar para depois – para além de um eterno otimismo inato de esperar que algo bom aconteça -, era o de que a melhoria das notícias econômicas mudaria a percepção dos eleitores e permitiria que Sunak lhes dissesse que o Reino Unido virou a página. Ontem, ele teve um daqueles momentos, com os números da inflação que indicavam que o aumento dos preços voltara a estar sob controle. Hoje, ele espera ver melhoria nos números da imigração.
Mas não existem mais momentos como esse no futuro próximo. Parece provável que os esperados cortes nas taxas de juro sejam adiados. A margem para outra rodada de reduções de impostos parece cada vez mais limitada. Também no que diz respeito à migração clandestina, o cenário parecia destinado a piorar antes de melhorar. Um primeiro voo para enviar pessoas em busca de asilo para Ruanda pode partir em julho, mas ele não será mais do que simbólico. Na contramão disso, o verão sempre registra aumentos significativos do número de travessias de pequenas embarcações.
Os eleitores também não percebem nenhuma prova de melhorias expressivas no Serviço Nacional de Saúde (NHS) – em especial nas filas de espera. Mais uma vez, não há nenhuma razão para esperar que essa situação melhore logo. Como um bônus para os conservadores, o Partido Trabalhista perdeu recentemente algum apoio por causa do conflito em Gaza.
A posição do próprio Sunak nas pesquisas continua a cair. Portanto, ele concluiu que é melhor aproveitar as boas notícias sobre a inflação e proclamá-las como prova da sua gestão econômica sensata, ao mesmo tempo em que exorta os eleitores a “permanecerem fiéis ao plano”.
Infelizmente para Sunak, o breve e desastroso mandato de Liz Truss destruiu a reputação de competência econômica dos conservadores. O partido já estava caindo nas pesquisas com Boris Johnson, mas Truss permitiu que seus oponentes culpassem o governo pela crise do custo de vida. O Brexit, o marco político da última década, já não é visto pela maioria como um êxito. E ter três primeiros-ministros em um ano consolidou a impressão de um governo caótico e exausto.
A noção de que Sunak poderia oferecer um período de discreta competência se desfez pela fraqueza de sua posição e por suas deficiências políticas. Seu fracasso em romper de maneira mais direta com seus antecessores significa que os eleitores o veem como uma continuidade e não como uma mudança em relação ao que consideram um governo autocomplacente, ineficaz e fracassado.
A esperança a que os conservadores se agarram é a que foi articulada pelo chefe da campanha de Sunak, Isaac Levido. Ele sempre argumentou que a opinião pública não mudará até que o Reino Unido se depare com uma escolha real, a despeito de uma eleição. O sistema eleitoral britânico incentiva a compressão dos partidos menores e os eleitores continuam inseguros em relação a Keir Starmer.
Levido argumenta que mesmo uma pequena recuperação conservadora pode provocar o pânico entre os estrategistas de Starmer, embora os analistas avaliem que hoje o voto trabalhista está distribuído de forma mais eficiente, de modo que uma liderança menos expressiva nas pesquisas ainda assim ganhará mais vagas no Parlamento e garantirá a maioria.
Levido pode estar certo sobre o estreitamento das pesquisas. Mas os conservadores estarão apreensivos. Eles só conseguem ver um pouso forçado, mas é provável que a aterrissagem fosse a mesma não importa quando ocorresse.
Fonte: Valor Econômico

