Gestora Bain e os empresários José Seripieri Júnior e Nelson Tanure estão na disputa pelo ativo, que tem passivos da ordem de R$ 10 bilhões
Por Beth Koike e Mônica Scaramuzzo — De São Paulo
A UnitedHealthGroup (UHG) pretende definir até o fim desta semana o potencial comprador da sua operação no Brasil – formada pela operadora de planos de saúde e dental Amil com 5 milhões de usuários e uma rede com 31 hospitais e 28 clínicas médicas. Neste momento, estão entre os interessados os empresários José Seripieri Júnior (ex- Qualicorp e Qsaúde) e Nelson Tanure (controlador da Alliança), além da gestora Bain Capital, segundo fontes ouvidas pelo Valor.
Todo o negócio é avaliado entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões (o que o mercado chama de “entreprise value”), sem incluir a carteira de planos individuais que é deficitária, segundo avaliação do BofA. No entanto, quem comprar a Amil vai desembolsar entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões, uma vez que a operadora tem um passivo na casa dos R$ 10 bilhões. Desse passivo, cerca de 60% são oriundos de dívidas tributárias e o restante responde por contingências provenientes de atendimento médico, segundo fontes.
É esse ponto sensível que os potenciais compradores estão se atendo para calcular o valor da transação. Caso o vencedor do processo, assuma tais passivos, o valor efetivamente desembolsado tende a ser muito menor do que o “enterprise value” da companhia.
Pela gigante americana, o negócio seria concluído já neste ano para que as operações brasileiras, consideradas pequenas em relação ao tamanho do grupo, saíssem totalmente do balanço da multinacional. Para efeitos de comparação, no acumulado dos nove primeiros meses, a receita da divisão de planos de saúde da UHG somou US$ 210 bilhões, enquanto a Amil teve faturamento de R$ 15,2 bilhões. Contudo, diante da complexidade do negócio, com enorme passivo, as conversas podem se arrastar ainda para o início de 2024.
O Valor apurou que o BTG Pactual, que assessora a UHG, intensificou, nos últimos dias, as conversas com os interessados. Júnior contratou o BR Partners para conduzir as negociações e Tanure está com o banco Master e participando das negociações por meio da Alliança (ex-Alliar), empresa de medicina diagnóstica do qual se tornou controlador neste ano.
Apontada como principal competidora devido ao seu fôlego financeiro e experiência na área de saúde, a gestora Bain Capital estaria em conversas com o executivo Irlau Machado, ex- NotreDame Intermédica, para comandar o negócio. Machado encerrou, na semana passada, seu contrato de ‘non compete’ com a Hapvida, operadora que fez fusão com a Intermédica.
Outros competidores como Advent, Coruja Capital, além da Dasa, que tem como controladora a família Bueno – fundadora da Amil- não avançaram com suas propostas, segundo fontes.
Um dos grandes entraves da operação é a carteira de planos individuais, cuja taxa de sinistralidade ultrapassa os 100%, ou seja, é deficitária. No ano passado, a UHG tentou vender separadamente a carteira de planos individuais, mas a transação foi vetada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o que acabou motivando o grupo americano a se desfazer de todo o negócio no Brasil.
No acumulado dos nove meses, a Amil amargou um prejuízo operacional de R$ 2,6 bilhões, piora de 8% em relação a igual período de 2022. O desempenho vai na contramão do setor, cujos indicadores melhoraram.
Os ativos que geram ganhos são as redes de hospitais e clínicas médicas que são negócios complementares ao plano de saúde. A operadora pode aumentar sua verticalização para melhorar rentabilidade.
Procurada, a ANS informou que, até o momento, não há nenhuma formalização sobre a venda da Amil e que a “mudança do controle precisará ser autorizada pela agência reguladora.” A UHG, Bain, os empresários Junior e Tanure, BR Partners, BTG, Master e Alliança não comentaram. Irlau Machado não retornou aos pedidos de entrevista.
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Fonte: Valor Econômico