Com a proximidade do fim do prazo de 9 de julho para que fechem acordos comerciais com os EUA e evitem tarifas mais altas, parceiros de Washington começam a dar sinais sobre o que podem oferecer à Casa Branca. O prazo foi imposto pelo presidente Donald Trump, para quem as tarifas pagas por exportadores dos EUA para “todos os países” é “injusta”.
Enquanto o Canadá fazia concessões para retomar as discussões para um acordo, fontes da União Europeia (UE) deram a entender ontem que poderiam concordar com uma tarifa básica de 10%, desde que os americanos se comprometam a reduzir as alíquotas em setores-chave para o bloco.
Em abril, o presidente suspendeu temporariamente as tarifas recíprocas por país para dar espaço às negociações. Desde então, ele e sua equipe têm repetido que vários acordos estão prestes a ser fechados. Até agora, no entanto, apenas dois foram anunciados – esboços amplos de entendimento com a China e o Reino Unido. Na semana passada, o secretário de Comércio, Howard Lutnick, afirmou que ao menos 10 acordos estavam engatilhados. Autoridades americanas têm sugerido ter conversas avançadas com a Índia.
Trump terá uma reunião com sua equipe de comércio ainda nesta semana para definir se as chamadas tarifas recíprocas serão restabelecidas ou se dará mais tempo às negociações. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse ontem que o risco de as alíquotas voltarem a subir após o fim do prazo de 9 de julho é real.
“Temos países que negociam de boa-fé, mas eles devem estar cientes de que, se não conseguirmos chegar a um acordo porque eles estão sendo recalcitrantes, poderemos voltar aos níveis de 2 de abril”, disse à Bloomberg TV. “Espero que isso não precise acontecer.”
As ameaças de Trump têm surtido efeito, levando parceiros comerciais a recuarem em políticas que o desagradam. Depois de o presidente americano anunciar que encerraria o diálogo com o Canadá por causa de um imposto sobre serviços digitais, o primeiro-ministro do país, Mark Carney, ligou para Trump para dizer que recuaria da medida, que impactaria sobre as empresas de tecnologia.
Ontem, Trump foi às redes sociais para ameaçar impor tarifas mais altas sobre o Japão, um dos principais parceiros comerciais dos EUA. “Eles não querem o nosso ARROZ e mesmo assim estão com uma escassez enorme de arroz”, postou Trump na plataforma Truth Social. “Em outras palavras, vamos apenas enviar uma carta para eles, e adoraríamos tê-los como parceiros comerciais por muitos anos.”
O Japão vem pressionando pelo alívio das tarifas automotivas de 25% impostas por Trump, afirmando que elas estão prejudicando um setor crucial. Mas o presidente dos EUA afirmou que o Japão não importa um número significativo de automóveis americanos. O país enfrenta uma “tarifa recíproca” de 24% sobre todas as exportações para os EUA, reduzidas para 10% durante o período de negociação.
Barreiras e tarifas são usadas como instrumento de chantagem”
A UE também tem pressionado os EUA para conseguir isenções e o estabelecimento de cotas de forma a reduzir, na prática, a tarifa de 25% imposta por Washington sobre automóveis e autopeças, assim como sua tarifa de 50% sobre aço e alumínio. A Comissão Europeia considera que aceitar a tarifa universal de 10% favorece ligeiramente os EUA, mas ainda é algo com que poderia concordar, segundo fontes com conhecimento das negociações. O bloco, porém, quer isenções em setores como produtos farmacêuticos, bebidas alcoólicas, semicondutores e aeronaves comerciais.
Enquanto uma delegação liderada pelo comissário do Comércio da UE, Maros Sefcovic, viajará a Washington ainda nesta semana para dar sequência ao diálogo, o presidente da França, Emmanuel Macron, fez duras críticas à política comercial de Trump, embora sem citar o americano ou os EUA.
“Precisamos restaurar a liberdade e a equidade no comércio internacional, muito mais do que barreiras e tarifas, que são criadas pelos mais fortes e que muitas vezes são usadas como instrumentos de chantagem, e não como instrumentos de reequilíbrio”, disse.
A UE estima que as tarifas americanas hoje incidem sobre produtos equivalentes a € 380 bilhões, ou cerca de 70% de suas exportações para os EUA. Apesar de esperar um desfecho positivo, o bloco já aprovou taxas sobre o equivalente a € 21 bilhões em mercadorias americanas, que podem ser implementadas rapidamente. Elas têm como alvo Estados sensíveis do ponto de vista político e incluem produtos como a soja, da Louisiana, de onde vem o presidente da Câmara dos EUA, Mike Johnson.
O bloco preparou ainda uma lista adicional de tarifas equivalentes a € 95 bilhões. Os alvos seriam produtos industriais, como aeronaves da Boeing e carros fabricados nos EUA. A UE também busca identificar áreas estratégicas em que os EUA dependem do bloco e outras medidas possíveis que vão além das tarifas, como controles de exportação e restrições a contratos de fornecimento.
Fonte: Valor Econômico
