O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou na manhã desta quinta-feira o projeto que prorroga o financiamento do governo federal, encerrando assim o mais longo “shutdown” (paralisação do governo) da história americana, com 43 dias.
A assinatura de Trump ocorreu na Casa Branca, horas após a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos ter aprovado o projeto.
Por 222 votos a favor e 209 contrários, os deputados concordaram com um financiamento provisório de partes do governo federal – como o pagamento de veteranos e de auxílios de alimentação. Todo o restante do orçamento será prorrogado até o fim de janeiro, dando ao Congresso mais dois meses para concluir o projeto de lei orçamentária para o atual ano fiscal.
Mas o acordo gerou frustrações em ambos os partidos. Os democratas não conseguiram incluir cláusulas sobre seguro de saúde que vinham exigindo. E os republicanos, que controlam Washington, também não saíram ilesos, segundo pesquisas e os resultados negativos de seus candidatos nas recentes eleições.
As consequências da paralisação do governo, o chamado “shutdown”, recaíram sobre milhões de pessoas, entre elas servidores federais que ficaram sem salários e passageiros de companhias aéreas que tiveram seus voos atrasados ou cancelados. A interrupção em programas de assistência alimentar causou longas filas em bancos de alimentos e aumentou o estresse emocional às vésperas do Dia de Ação de Graças.
Sem a principal exigência dos democratas — a prorrogação de um crédito tributário que reduz os custos dos planos de saúde adquiridos por meio da Lei de Cuidados Acessíveis (ACA), o “Obamacare” — os preços devem mais do que dobrar para milhões de americanos. Outras 2 milhões de pessoas devem perder totalmente a cobertura de seus planos no próximo ano, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO).
O líder da maioria republicana no Senado, John Thune, prometeu votar a questão em dezembro, numa tentativa de resolver o impasse, e acabou convencendo oito senadores democratas a aprovarem o pacote. O apoio rachou o partido, com a ala mais progressista acusando os colegas de “traição”.
O líder democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, afirmou que o partido lutará pela extensão dos subsídios de saúde. “Ou os republicanos finalmente decidem estender o ACA ou os americanos vão tirá-los de seus cargos no ano que vem”, disse ele em referência as eleições legislativas de 2016.
As implicações do “shutdown” foram imensas, motivo pelo qual os líderes partidários realizaram entrevistas coletivas quase diárias, na tentativa de moldar a opinião pública. No entanto, cerca 60% dos americanos disseram que Trump e os republicanos no Congresso têm “grande” ou “considerável” responsabilidade pela paralisação, enquanto 54% afirmaram o mesmo sobre os democratas, segundo uma pesquisa da Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research.
Os partidos usaram as eleições nos Estados da Virgínia, de Nova Jersey e na cidade de Nova York para buscar sinais sobre como a paralisação estava influenciando a opinião pública. Os democratas se animaram com seus resultados expressivos. Trump, por sua vez, classificou o episódio como um “grande fator negativo para os republicanos”.
Mas foram a hipótese de os americanos não conseguirem viajar no Dia de Ação de Graças e a falta de pagamentos dos auxílios de alimentação que destravaram as negociações.
O CBO afirma que o impacto negativo sobre a economia será em grande parte recuperado assim que a paralisação terminar, mas não totalmente. A perda econômica permanente foi estimada em cerca de US$ 11 bilhões para uma paralisação de seis semanas.
“Essa disfunção já causou prejuízo suficiente aos eleitores e à economia. E também passou a mensagem de que não conseguimos trabalhar juntos nem para cumprir as responsabilidades mais básicas do Congresso”, disse o senador republicano Jerry Moran.
Fonte: Valor Econômico

