Se Elon Musk conseguir o que quer, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, presidiria uma reforma econômica condizente com um ícone dos anos 1980: Margaret Thatcher.
Em sua rápida ofensiva contra o papel do governo nos EUA, Musk almejou US$ 1 trilhão em cortes no próximo ano — um montante que muitos economistas e especialistas em orçamento veem como altamente improvável. Isso se deve em parte à dificuldade de cortar tantos gastos sem eliminar programas sociais como o Medicare e Previdência Social, que Trump prometeu proteger.
Entretanto, o valor de US$ 1 trilhão mostra a escala de sua ambição e a disposição de implementar o que efetivamente equivale a uma terapia de choque econômico. Na verdade, como uma parcela do Produto Interno Bruto (PIB), o ritmo anual de cortes que Musk prevê ultrapassaria o de Thatcher na década de 1980, quando a Dama de Ferro cortou drasticamente os gastos do governo do Reino Unido para fechar déficits orçamentários e combater a inflação, o que acabou desencadeando uma recessão da qual ela não se arrependeu.
Os gastos federais representam cerca de um quarto do PIB dos EUA, então, mesmo cortes de uma fração tão grande quanto Musk apregoou ameaçam prejudicar a economia justamente quando os mercados já estão apreensivos com o risco de desaceleração.
Os esforços do governo Trump também têm objetivos ideológicos semelhantes aos de Thatcher: reduzir substancialmente o envolvimento do governo em tudo, desde infraestrutura até inovação, na crença de que isso impulsionará a iniciativa privada.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, falou sobre a necessidade de reduzir rapidamente o déficit orçamentário para 3% do PIB, menos da metade do que é agora, e tirar o governo do caminho das empresas. “Nosso objetivo é reprivatizar a economia”, disse Bessent em um discurso no mês passado.
Os mercados fizeram uma avaliação sombria de comentários como esses. Contudo, essa visão do governo como um fardo menos produtivo é compartilhada por Stephen Miran, o novo presidente do Conselho de Assessores Econômicos de Trump, e pelo Secretário de Comércio Howard Lutnick, que também apresentou planos para arrecadar US$ 1 trilhão em receitas adicionais, em grande parte por meio de novas tarifas.
Em sete semanas no cargo, a administração de Trump já apresentou planos para eliminar mais de 100 mil empregos federais, enquanto economistas preveem que até 500 mil funcionários federais ficarão sem trabalho este ano. A perspectiva de cortes profundos já está desencadeando um ajuste fiscal para governos locais, universidades e outras instituições em todo o país, que contam com fundos federais para várias áreas, desde pesquisa científica a serviços sociais e projetos de transporte público.
“O governo federal é uma parte importante da economia dos Estados Unidos, e se você retirar uma grande parte disso, terá efeitos cascata”, disse Martha Gimbel, diretora executiva do Budget Lab, em Yale. “Mesmo se você estiver fazendo essas coisas de uma forma que dê tempo para as pessoas se ajustarem, ainda assim será muito doloroso.”
Esse impacto pode ter consequências políticas para um presidente que retornou ao poder prometendo prosperidade, não austeridade — e que há muito tempo havia tirado o controle de seu partido dos conservadores fiscalistas.
Trump disse que pretende apenas acabar com pagamentos indevidos em programas de seguridade social, e Musk identificou, na segunda-feira, o que ele classificou como fraude generalizada na Previdência Social como um alvo potencial para cortes.
De acordo com a Bloomberg Economics, se uma redução de US$ 1 trilhão nos gastos federais atingisse a economia este ano, os EUA entrariam em recessão, com o PIB se contraindo a cada trimestre e a economia terminando o ano 3,3% menor do que o esperado.
Isso também resultaria em um aumento de 1,5 ponto percentual no desemprego, o que levaria a taxa de desemprego para 5,7% até o fim do ano, disse Anna Wong, economista-chefe dos EUA. A boa notícia para os republicanos, talvez, é que, nesse cenário “haverá uma forte recuperação no crescimento” no próximo ano, bem a tempo para a eleição legislativa de meio de mandato.
Os cálculos da Bloomberg Economics não levam em conta outras políticas que poderiam prejudicar a economia, como tarifas ou uma repressão à imigração. Eles também não levam em consideração o potencial impacto positivo que o governo Trump diz que viria de cortes de impostos e desregulamentação.
Fonte: Valor Econômico

