O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (27) que vai impor uma tarifa adicional de 10% sobre as importações da China e seguirá adiante com a adoção de tarifas de 25% sobre produtos do México e do Canadá a partir de 4 de março, elevando o temor de uma guerra comercial mundial.
As tarifas de 25% sobre o México e o Canadá equivaleriam a um aumento total de impostos sobre o consumidor americano de algo entre US$ 120 bilhões e US$ 225 bilhões anualmente, segundo Jacob Jensen, analista de política comercial do American Action Forum, um think tank de centro-direita. As tarifas adicionais da China podem custar até US$ 25 bilhões.
No início deste mês, Trump suspendeu as tarifas que propunha para importações do México e do Canadá poucas horas antes de entrarem em vigor, e deu aos dois maiores parceiros comerciais dos EUA uma prorrogação de um mês.
Mas em um post no Truth Social nesta quinta-feira (27), ele escreveu: “As TARIFAS propostas programadas para entrar em vigor em QUATRO DE MARÇO entrarão, de fato, em vigor, conforme o programado.”
No post, o presidente acrescentou que também planeja golpear a China com uma tarifa adicional de 10% em 4 de março, encima das tarifas de 10% que já impôs este mês.
Trump escreveu que seu plano de tarifas “recíprocas” abrangentes, que foi anunciado este mês e afeta países e produtos ao redor do mundo, seguirá adiante em 2 de abril, como planejado.
Na sequência da nova ameaça de Trump, a cotação do yuan negociado fora da China em relação à moeda americana enfraqueceu 0,3%, para 7,289 yuans por dólar. Já o dólar subiu 0,6% em relação a uma cesta de outras moedas importantes.
Os comentários de Trump são a mais recente rodada de torpedos da política comercial agressiva adotada por seu seu governo desde sua volta à Casa Branca, em janeiro. Eles aumentam o risco de uma guerra comercial generalizada, que pode ocasionar danos significativos à economia mundial.
A embaixada da China em Washington criticou as novas tarifas e advertiu que “não há vencedores” em uma guerra comercial.
“As tarifas unilaterais impostas pelos EUA não resolverão os problemas do país, nem beneficiarão os dois lados ou o mundo”, afirmou o porta-voz da embaixada, Liu Pengyu. “A China pede aos EUA que corrijam seus atos indevidos.”
O premiê do Canadá, Justin Trudeau, disse que seu país responderá a quaisquer “tarifas injustificadas” com uma “resposta forte, imediata e certa”. Ele acrescentou que o Canadá, em resposta, vai impor imediatamente tarifas sobre US$ 30 bilhões em bens importados dos EUA.
Os comentários desta quinta-feira (27) marcam uma reversão dos comentários feitos na quarta-feira (26), quando Trump disse que as tarifas sobre importações do Canadá e do México entrariam em vigor em 2 de abril, o que sugeria um possível adiamento.
É provável que essa última ofensiva para que as tarifas entrem em vigor em 4 de março — o dia em que o presidente deve discursar em uma sessão conjunta do Congresso americano — provoque uma corrida diplomática nos próximos dias para tentar impedir as medidas.
Uma delegação de autoridades mexicanas de alto nível visitará Washington nesta quinta-feira para se encontrar com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e discutir a cooperação na área de segurança.
Os EUA, Canadá e México integraram suas cadeias de suprimentos nas últimas décadas, de automóveis a produtos, e novas tarifas correm o risco de desestabilizar o pacto comercial da América do Norte que Trump assinou durante seu primeiro mandato. O comércio de bens e serviços entre o Canadá e os EUA foi de cerca de US$ 920 bilhões em 2023, enquanto o comércio México-EUA foi de quase US$ 900 bilhões, de acordo com dados do Departamento de Comércio dos EUA.
A nova tarifa sobre as importações da China marca uma escalada com respeito à taxa de 10% anunciada por Trump no mês passado, que tinha como objetivo pressionar Pequim a reprimir grupos que exportam produtos químicos usados para produzir Fentanil.
Ao longo do último mês, Pequim tem tentado averiguar se Trump quer negociar um acordo comercial limitado com a China ou um acordo mais abrangente.
Autoridades chinesas e assessores do governo indicaram, de maneira não oficial, que Pequim estaria disposta a comprar mais produtos dos EUA para reduzir o déficit comercial entre os dois países.
Eles também disseram que as empresas chinesas poderiam fazer investimentos nos EUA para criar até 500 mil empregos, segundo fontes a par do assunto.
Mas os dois lados ainda não tiveram nenhuma discussão substancial sobre comércio.
O anúncio das tarifas adicionais sobre os produtos da China foi feito um dia depois de o Senado confirmar a nomeação de Jamieson Greer como representante comercial dos EUA. A embaixada da China nos EUA foi contatada para comentar. (Colaborou Christine Murray, da Cidade do México — Com Associated Press e Bloomberg)
Fonte: Valor Econômico
