O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira um bloqueio naval a “navios petroleiros sancionados” que saem ou se dirigem à Venezuela, numa escalada adicional da sua campanha de pressão sobre Caracas. A medida aumenta a pressão sobre o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, uma vez que visa sufocar a economia do país sul-americano, extremamente dependente das exportações de petróleo. Em publicação nas redes sociais, o presidente americano ainda ressaltou que a Venezuela está “completamente cercada” pelo contingente militar dos EUA no Caribe.
“Hoje, estou ordenando um bloqueio total e completo de todos os petroleiros sancionados que entram e saem da Venezuela”, escreveu Trump na sua plataforma Truth Social, dias depois de as forças americanas terem apreendido um petroleiro ao largo da costa venezuelana.
Trump também afirmou que a Venezuela está “completamente cercada pela maior frota já reunida na história da América do Sul” e que o contingente militar americano no Caribe “só vai aumentar” até que a Venezuela devolva “aos Estados Unidos da América todo o petróleo, terras e outros ativos que nos roubaram anteriormente”.
O anúncio acontece um dia após as Forças Armadas dos EUA anunciarem novos ataques contra três embarcações apontadas por Washington como suspeitas de transportar drogas no Pacífico Oriental, deixando oito mortos.
Os ataques do tipo, iniciados em setembro no Caribe, foram precedidos por um deslocamento massivo de ativos militares americanos para o Caribe, próximo à costa venezuelana, em agosto e se expandiram para o Pacífico provocando mais de 90 mortes.
Paralelamente, Washington anunciou sanções contra seis empresas do setor de transporte de petróleo bruto e seis navios-tanque. A inclusão dessas empresas de navegação e embarcações diretamente em uma lista de sanções “é uma escalada muito significativa”, disse Francisco Monaldi, diretor do Programa de Energia da América Latina do Instituto Baker (Texas), à AFP quando o anúncio foi feito. Esses seis navios estavam em portos venezuelanos quando a medida foi anunciada, explicou o especialista. Para Monaldi, o governo americano está esperando que cada navio deixe o país para realizar abordagens e apreensões.
— Isso, combinado com o fato de que alguns navios podem literalmente dizer ‘Não vou voltar para a Venezuela’, poderia levar a uma queda tanto no preço quanto no volume das exportações — explicou. — Se as exportações também caírem, o problema da Venezuela é que ela não tem muita capacidade de armazenamento de petróleo bruto. Portanto, terá que interromper a produção ou fechar parte dela.
Recalculando a rota
A ofensiva contra a economia venezuelana representa, segundo especialistas, uma alternativa para seguir pressionando Maduro a deixar o poder e evitar ações militares em terra no país, ainda que Trump tenha ameaçado realizá-las em mais de uma ocasião. Diante da complexidade e das dificuldades que permeiam uma invasão dos EUA à Venezuela, Washington parece ter recalculado a rota para tentar derrubar o regime chavista por meio de um dos pontos mais sensíveis do governo venezuelano: o agravamento acelerado da crise econômica, que se estende há anos, e se reflete em outros problemas graves no país, como o aumento da fome e da violência e a degradação da situação humanitária.
Os Estados Unidos apreenderam, na última quinta-feira, um navio petroleiro na costa venezuelana, um ato qualificado como “roubo descarado” e “pirataria” por Caracas. Segundo autoridades americanas, o petroleiro Skipper transportava petróleo da Petróleos de Venezuela (PDVSA), estatal venezuelana e estava ligada ao Irã e ao Hezbollah.
Isolada internacionalmente, a Venezuela é obrigada a usar navios “fantasmas”, que carregam petróleo bruto venezuelano a um preço muito abaixo do valor de mercado, para contornar as sanções financeiras. Atualmente, Caracas produz cerca de 930 mil barris por dia, e a maior parte de suas exportações se destina à China.
“O regime ilegítimo de Maduro está usando o petróleo desses campos petrolíferos roubados para financiar a si mesmo, o narcoterrorismo, o tráfico de pessoas, assassinatos e sequestros”, acusou Trump em sua mensagem na Rede Social Truth.
A ação, que aconteceu no início da manhã, partiu do USS Gerald Ford, o maior porta-aviões do mundo, mobilizado no Caribe dentro da estratégia de pressão militar e, agora, econômica do governo de Donald Trump sobre Maduro. Autoridades de Washington ouvidas pelo New York Times afirmam que esperam novas apreensões nas próximas semanas, o que podem ser potencialmente prejudiciais à frágil economia da Venezuela.
Ambas as ações americanas — dos ataques a embarcações à apreensão de petroleiros — fazem parte de uma ofensiva de Washington contra o tráfico internacional de drogas, tópico que assumiu caráter de assunto de segurança nacional no segundo mandato do líder republicano.
A Casa Branca alega que o petróleo venezuelano seria responsável por financiar cartéis de drogas — declarados como organizações terroristas pelo governo Trump. Segundo acusações do presidente americano, essas organizações criminosas são liderados por Maduro e outras autoridades venezuelanas, responsáveis por articular o envio de drogas deliberadamente aos EUA.
— Há um processo legal para confiscar esse petróleo, e ele será levado adiante — declarou a porta-voz, Karoline Leavitt após a apreensão do petroleiro Skipper. — Não vamos ficar parados e ver como navios sancionados navegam com petróleo contrabandeado, cujos lucros servem para alimentar o narcoterrorismo de regimes ilegítimos.
(Com AFP)
Fonte: O Globo


