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A nova manobra de ataque de Donald Trump no comércio exterior ameaça criar um “muro tarifário” em torno de países que são centros industriais no Sudeste Asiático, o que provocaria aumentos nos preços e levaria consumidores e fábricas dos EUA a se depararem com difíceis escolhas, alertam analistas.
Antes do prazo de 90 dias dado por Donald Trump para que os demais países assinassem acordos comerciais com Washington, que terminava anteontem, o presidente dos EUA anunciou uma nova rodada de tarifas sobre produtos de nações do Sudeste Asiático que se tornaram um canal alternativo para fabricantes chineses que tentam escapar das taxas americanas.
Trump ameaçou impor tarifas entre 25% e 40% contra o Camboja, Indonésia, Laos, Malásia e Tailândia, em uma aparente tentativa final de forçá-los ir à mesa de negociações antes de um novo prazo, 1º de agosto.
Na semana passada, Trump anunciou que o Vietnã – maior destino de mercadorias “redirecionadas” da China – aceitou uma tarifa de 20% sobre suas vendas para os EUA, que pode subir para 40% no caso de produtos “reexportados”.
O governo dos EUA prevê que as políticas comerciais arrecadarão mais de US$ 300 bilhões em receitas até o fim de 2025. Anteontem, Trump disse que “o dinheiro grande começará a entrar no dia 1º”.
Segundo economistas, embora seja difícil prever qual será o nível final das tarifas, o que começa a se delinear agora é uma nova muralha tarifária asiática, que distorcerá as cadeias de suprimento regionais e globais.
Essa movimentação tem transformado no último ano o pefil do comércio exterior americano na região, seja pela antecipação de compras – com importadores tentando evitar as tarifas – ou pela reorganização de cadeias, em prevenção às novas taxas.
Entre as cinco economias que mais perderam vendas aos EUA em um ano a partir de abril e maio de 2024, duas são asiáticas – a própria China e a Coreia do Sul. Já entre os cinco países que mais ampliaram suas exportações para o mercado americano, três são da Ásia – Taiwan, Vietnã e Tailândia. As informações são do Escritório do Censo dos EUA.
Alicia García-Herrero, economista-chefe para a região da Ásia-Pacífico do banco de investimentos Natixis, acredita que ainda há tempo para países do Sudeste Asiático como Camboja, Malásia e Tailândia negociarem acordos mais convenientes com Washington.
Ela argumenta que o acordo tarifário de 20% do Vietnã não precisa se tornar o padrão para outros países do Sudeste Asiático, que dependem menos da China para conseguir insumos industriais e são menos culpados por aceitar o redirecionamento de mercadorias para evitar tarifas dos EUA.
No entanto, não importa qual seja o nível final das tarifas, García-Herrero acrescentou que elas forçarão uma alta nos produtos exportados do Sudeste Asiático, que continua sendo um polo de produção de muitos bens de consumo vendidos nos EUA.
“A indústria ficará mais cara na Ásia de forma geral, mas, em princípio, o ‘muro tarifário’ de 20% poderia ser diferente nos países em que há menos insumos da China”, disse García-Herrero.
Escolha nos EUA será pagar mais por um produto que agora tem uma tarifa adicional ou ficar sem ele”
Mark Williams, economista-chefe para a Ásia da firma de consultoria Capital Economics, que monitora o redirecionamento de mercadorias chinesas por outros países asiáticos, segue a mesma linha e diz que ainda poderia haver um “grau considerável de variação” entre as tarifas aplicadas a diferentes países e setores da região.
Ele acrescentou, contudo, que o muro tarifário de Trump teria impactos nas cadeias de suprimento regionais, como uma possível diminuição na transferência da produção chinesa para os dez países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean, na sigla em inglês), algo que se acelerou durante o primeiro mandato de Trump.
“Uma tarifa relativamente alta sobre países que poderiam substituir a China na indústria mundial provavelmente retardaria a saída de empresas da China [porque] haveria menos urgência, se a diferença entre as tarifas aplicadas à China e a outras economias industriais fosse menor”, disse Williams.
Ainda assim, mesmo se as tarifas se estabilizassem em um nível relativamente alto, elas não atingiriam o objetivo declarado do governo de repatriar a indústria para os EUA, argumenta Williams.
“A escolha diante dos consumidores e empresas nos EUA será entre pagar mais por um produto estrangeiro que agora tem uma tarifa adicional ou ficar sem ele. E, em muitos setores, a produção nos EUA não seria competitiva em relação às importações, mesmo se tivessem que ser pagas tarifas”, disse.
A decisão de Trump de impor tarifas punitivas a países que reexportam mercadorias chinesas também representará uma oportunidade enorme para o setor de gestão de cadeias de suprimento, segundo Alex Capri, professor da escola de administração da Universidade Nacional de Singapura.
“As novas tarifas de Trump exigirão que os importadores tenham práticas confiáveis de rastreabilidade para se proteger dessas arbitrárias ‘tarifas por reexportação’. Isso resultará em um mercado aquecido de serviços voltados às tecnologias e processos de verificação necessários”, acrescentou.
Fonte: Valor Econômico

