Após iniciarem a semana em alta, os ativos americanos tiveram dificuldades para manter o rali na sessão de ontem. Os principais índices de ações de Nova York fecharam em leve alta, enquanto o dólar e os rendimentos dos Treasuries se enfraqueceram após uma nova decepção com a confiança do consumidor americano. Em Wall Street, o índice Dow Jones teve alta de 0,01%; o S&P 500 subiu 0,16%; e o Nasdaq avançou 0,46%.
No momento em que a implementação de novas tarifas pelos Estados Unidos bate à porta, a deterioração das expectativas dos americanos sobre a economia se intensificou e reavivou os temores de recessão entre participantes do mercado. Dados do Conference Board mostraram que, em março, o índice de confiança do consumidor caiu para 92,9 pontos, menor nível desde 2021.
Bancos americanos, como Wells Fargo, J.P. Morgan e Jefferies notam que a implementação de tarifas às importações pelo governo de Donald Trump e as incertezas causadas por elas levaram a uma escalada nas expectativas de inflação, o que também teve impacto no sentimento dos consumidores em relação ao desempenho da economia americana.
Os dados do Conference Board também colocam o temor de recessão mais próximo do retrovisor do governo americano. O subíndice de expectativas dos consumidores caiu para 65,2, o menor nível em 12 anos e bem abaixo do limite de 80 pontos, que costuma ser um sinalizador de uma recessão à frente. A expectativa de inflação média constatada pela pesquisa subiu 0,4 ponto percentual, ao passar de 5,8% para 6,2%.
O mau humor constatado pela pesquisa do Conference Board vai ao encontro de outros dados divulgados recentemente que apontam para um aumento na incerteza na economia americana.
No começo do mês, a Universidade de Michigan, cuja pesquisa é a preferida pelos economistas de mercado para o tema, mostrou o sentimento do consumidor nos EUA no menor nível em mais de dois anos, enquanto as expectativas de inflação de longo prazo tiveram a maior alta desde 1993.
“As expectativas para o mercado de trabalho no próximo ano na pesquisa de Michigan colapsaram para o pior nível desde a Grande Recessão, enquanto na pesquisa do Conference Board estão ‘apenas’ no nível mais baixo desde 2013”, nota o economista Abiel Reinhart, do J.P. Morgan.
Por outro lado, o economista Thomas Simons, do Jefferies, aponta que não necessariamente os dados de confiança do consumidor estão diretamente atrelados ao consumo das pessoas e que outros dados econômicos mostram que o cenário não é tão alarmante.
No caso das vendas no varejo, houve um aumento de 1% do grupo de controle, aquele que mais se assemelha aos dados de consumo presentes no Produto Interno Bruto (PIB), na passagem de janeiro para fevereiro, o que indicou uma forte recuperação após o tombo sofrido pelo comércio varejista americano no início do ano.
“Na maior parte, é justo dizer que a confiança se descolou do gasto real dos consumidores nos últimos anos. Desde a pandemia, a confiança tem oscilado dentro de uma faixa mais baixa do que nos anos que antecederam a covid, mas o gasto tem sido significativamente mais forte”, observa Simons.
O economista ainda aponta que, na visão dele e do Jefferies, as tarifas não são um impulso inflacionário. “Elas causam ajustes pontuais nos níveis de preços dos bens sujeitos à tarifa. Tarifas recíprocas do tipo ‘olho por olho’ têm o potencial de gerar uma inflação mais alta, mas elas são insustentáveis a longo prazo.”
Em nota, o UBS Wealth Management aponta que as últimas notícias sugerindo uma abordagem mais direcionada para as tarifas americanas reduziram parte das preocupações sobre a magnitude da guerra comercial. No entanto, isso ainda precisa ser confirmado pelo governo, que pode mudar de curso rapidamente.
“A ameaça de uma nova escalada tarifária continua sendo uma preocupação central”, dizem os profissionais da casa. Eles esperam maior volatilidade no mercado de ações em abril, mas ainda têm recomendação de compra para as ações americanas. (Colaborou Cristiana Euclydes)
Fonte: Valor Econômico

