- O Estado de S. Paulo.
- 28 Sep 2022
- ANDRÉ JULIÃO
Estudo publicado na revista Science Advances sugere que um tipo de tratamento conhecido como inibidor de checkpoint imunológico – já usado contra certos tipos de câncer – pode ser benéfico em alguns casos graves de covid-19. Os criadores desse tipo de terapia, que tem a capacidade de reativar o sistema imune, ganharam o Prêmio Nobel de Medicina em 2018.
As conclusões do artigo se baseiam em experimentos feitos com células de pacientes que precisaram ser internados em unidades de terapia intensiva (UTSI) após contrair o SARSCOV-2, além de camundongos infectados por outro betacoronavírus, o MHV-A59 (hepatite murina A59).
“Um dos checkpoints imunológicos conhecidos e com o qual trabalhamos no estudo é o PD-1. Ele indica para os linfócitos T (um tipo de leucócito) que devem parar de responder à infecção depois de um tempo, para que não haja uma resposta exacerbada. Num contexto de câncer, sepse ou covid-19 grave, porém, o PD-1 faz com que os linfócitos T parem de funcionar, antes mesmo de resolvida a doença. Por isso, é preciso bloqueá-lo”, explica Pedro Moraes-vieira, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Ib-unicamp), apoiado pela Fapesp e um dos coordenadores do estudo. O trabalho ainda tem como um dos autores Gustavo Gastão Davanzo, doutorando no Ib-unicamp e bolsista da Fapesp. “Ainda que sejam tratamentos de custo muito elevado, o fato de não haver mais tantos pacientes graves como no começo da pandemia nos faz acreditar que seria uma das opções viáveis, caso novos estudos mostrem que a terapia é segura em pacientes com covid” , afirma Moraes-vieira.
CUIDADOS. Os pesquisadores alertam, no entanto, que os resultados ainda precisam ser vistos com cautela. Estudos com pacientes de câncer que já faziam uso da terapia antes de contraírem a covid-19 não mostraram benefício ou mesmo resultaram em uma associação negativa.
Em um deles, a administração da terapia antes da infecção viral não levou à melhora no quadro. Em outro trabalho, com 423 pacientes, houve mais casos de hospitalização e severidade da doença entre aqueles que haviam recebido o inibidor. Por outro lado, um estudo clínico com inibidores de PD-1 em pacientes com sepse mostrou que a terapia é segura. Novos estudos, portanto, serão necessários para conhecer melhor os efeitos desse tratamento no contexto da doença. •
Fonte: O Estado de S. Paulo