Temores de um evento sistêmico de crédito estão crescendo entre gestores de fundos à medida que alarmes soam nos mercados imobiliários ao redor do mundo. Cerca de um em cada seis entrevistados consideram este o principal risco de cauda para os mercados, comparado com um a cada 11 em dezembro, de acordo com a última edição da pesquisa “Global Fund Manager”, do Bank of America.
O aprofundamento das preocupações com o setor imobiliário comercial (CRE, na sigla em inglês) dos Estados Unidos e o mercado da China levou os gestores a elencarem um potencial evento sistêmico como terceiro maior risco no momento, atrás apenas da alta inflação e geopolítica.
A esperança de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortasse os juros e aliviasse parte da pressão sobre o setor imobiliário caiu por terra após a divulgação de números de inflação acima do esperado nos Estados Unidos nesta semana. Os investidores agora precificam menos de 0,9 ponto percentual em cortes de juros neste ano – quase metade do que era esperado em janeiro.
Ao mesmo tempo, mais de US$ 900 bilhões em dívidas no CRE e em empreendimentos multifamíliares requerem refinanciamento ou vendas maiores neste ano – um salto de 40% em relação a estimativas preliminares – após bancos estenderem empréstimos e o valor das propriedades cair.
Bancos menores parecem estar em uma trajetória que os levará a taxas de default de 8% a 10%, alertou Bruce Richard, presidente da Marathon Asset Management. Estes credores estão particularmente vulneráveis à crise do CRE após aumentarem a sua exposição em anos recentes. Em contraste, bancos americanos de grande porte “estão tão fortes quanto o Rochedo de Gibraltar”, disse Richards.
Uma taxa de insolvência de 10% nos empréstimos ao CRE resultaria em cerca de US$ 80 bilhões em perdas adicionais aos bancos, de acordo com uma pesquisa sobre fragilidade bancária nos Estados Unidos publicada em dezembro. A pesquisa alerta que a crise do CRE poderia deixar mais de 300 bancos americanos de menor porte sob risco de default.
“Continuaremos a ver níveis crescentes de estresse”, disse Omar Eltorai, diretor de pesquisa do provedor de dados Altus Group. “É uma daquelas variáveis que as pessoas podem chamar de precoce, mas há um atraso antes que ela passe”, afirmou, acrescentando que, às vezes, isso pode ser medido em anos.
Por enquanto, o Fed está coordenando com os credores com exposição concentrada a CRE um plano para lidar com as perdas esperadas. Embora as perdas sejam uma preocupação, os órgãos reguladores dos Estados Unidos estão tentando garantir que as reservas e os níveis de liquidez estejam adequados para lidar com elas, disse a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, no início deste mês.
Fonte: Valor Econômico
