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Os mercados globais viveram mais um dia de pânico na sessão de ontem diante dos receios de que a economia dos Estados Unidos caminha para uma recessão. O movimento de aversão a ativos de risco teve início ainda na madrugada, com a bolsa do Japão registrando o segundo pior dia de sua história, e se estendeu ao longo do dia, especialmente nos mercados acionários. No Brasil, a cautela levou o dólar a encerrar em seu nível mais alto desde março de 2021 e o Ibovespa caiu, ainda que as perdas nos ativos locais tenham sido menores que as observadas em seus pares.
O pregão foi de tensão elevada desde os minutos iniciais. Durante a madrugada, bolsas asiáticas sofreram fortes perdas, com receios de desaceleração econômica dos EUA e temores relacionados à euforia com empresas de tecnologia. O Nikkei, principal índice do mercado japonês, caiu 12,4% – maior queda desde 1987 – e o índice Kospi, da Coreia do Sul, encerrou em baixa de 8,7%.
Os mercados americanos seguiram a tendência ao longo de toda a sessão e tiveram perdas fortes. Em Wall Street, o Dow Jones caiu 2,60%; o S&P 500 recuou 3,00%; e o Nasdaq cedeu 3,43%. O Nasdaq chegou a cair mais de 6% nas mínimas da sessão, enquanto o S&P 500 teve seu pior dia desde setembro de 2022. O índice VIX, que mede a volatilidade e é conhecido como o “termômetro do medo” de Wall Street, disparou 65%, fechando aos 38,57 pontos.
Em nota enviada a clientes, estrategistas do Citi dizem que apostas que vinham sendo muito utilizadas por investidores têm se mostrado fracas agora. “Métricas de posicionamento explicam alguns dos retornos recentes em classes de ativos, o que é útil para entender vulnerabilidades em regimes de alta volatilidade. Ações do Japão eram um consenso […] e ações na Europa, EUA e emergentes (ex-China) ainda estão sobrealocadas”, afirmam.
O Citi diz ainda que posições de “carry trade” – estratégia de tomar empréstimos em países de juros baixos e investir em países de juros elevados – também estão vulneráveis, afetando moedas como o real, a lira turca e a libra esterlina.
Nesse contexto, o clima nos mercados locais era de ampla aversão a risco. Nas máximas do dia, o dólar chegou a avançar 2,71% frente ao real, tocando os R$ 5,8641. O Ibovespa, por sua vez, marcou 123.073 pontos nas mínimas, caindo 2,20%.
No entanto, dados do setor de serviços nos EUA superaram expectativas e ajudaram a esfriar a narrativa de recessão iminente na maior economia do mundo. A partir daí, houve melhora nos ativos locais, que se afastaram dos piores níveis do dia. O dólar subiu 0,56% no fim da sessão, negociado a R$ 5,7412, acumulando uma depreciação de 18,31% em 2024. O Ibovespa caiu 0,46%, a 125.270 pontos.
Para Ruy Alves, gestor macro global da Kinea, ainda não há razão para crer em uma recessão nos EUA e tampouco em uma desaceleração mais brusca da economia. Na sua avaliação, as reuniões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e do Banco do Japão (BoJ) provocaram uma readequação da percepção de risco de algumas operações mais alavancadas, o que causou a correção vista nas últimas sessões. “É errado pensar que mercado fala com os fundamentos constantemente. O mercado é movido por oferta e demanda, que, por vezes, bate com fundamento.”
O executivo aposta na apreciação do real em relação aos níveis atuais. “O real tem um caminho para devolver parte do movimento anormal que teve em relação aos pares nos últimos meses”, diz Alves. Segundo ele, a moeda se comportou bem até agora em meio à turbulência e mostrou-se resiliente quando comparada aos pares.
Opinião semelhante é a do estrategista-chefe da Warren Investimentos, Sérgio Goldenstein. Segundo ele, a princípio, a perspectiva de que o Fed irá cortar os juros em 0,5 ponto percentual é favorável a ativos de emergentes, especialmente moedas, mas há a pressão oriunda do desmonte das operações de “carry trade”.
“O iene se valoriza cerca de 10% em um mês. A notícia boa é que parece que isso é um movimento conjuntural e hoje [ontem] o real conseguiu se descolar de outras moedas emergentes. Se esse desmonte de posições estiver no fim, é sinal de que o real tem potencial para caminhar para um patamar melhor. A moeda está muito acima de sua taxa de equilíbrio”, diz.
Para ele uma eventual melhora do câmbio poderia ajudar a aliviar as projeções de inflação do Banco Central. “Em se confirmando o início dos cortes de juros pelo Fed em setembro e com o fim do desmonte das posições de ‘carry trade’, há espaço para valorização do real e isso ajudaria numa queda das projeções. E assim, o BC poderia seguir seu plano de voo de manter a Selic estável por um período longo.”
Fonte: Valor Econômico

