Sob uma justificativa política, a imposição de tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos elevou os receios do mercado sobre os efeitos primários na economia brasileira. Porém, são os impactos secundários sobre a corrida eleitoral de 2026 que poderão exigir maior atenção dos investidores, segundo o gestor de renda variável da XP Asset, Marcos Peixoto.
“As tarifas voltaram a embaralhar um pouco o cenário político. Não que não estivesse embaralhado antes, mas deu uma sobrevida boa para o PT e para a esquerda”, diz o executivo. “O mercado estava vindo numa dinâmica de que a probabilidade de mudança de poder era grande. A gente estava vendo uma popularidade do governo com dificuldade de melhorar e vimos uma melhora de popularidade [nas pesquisas recentes]”, afirmou em entrevista concedida ao Valor na quarta-feira.
De acordo com Peixoto, o impacto sobre os ativos, em termos diretos, é “baixo” – já que há poucas empresas na bolsa que exportam muito para os Estados Unidos. A mais relevante, segundo ele, pode ser a Embraer. A fabricante de aeronaves poderia ter uma dificuldade maior de deslocar a exportação que companhias de outros setores, como o commodities.
“Para as empresas da bolsa, o que acontece se continuar com as tarifas de 50% para o Brasil? Nada. Não tem revisão de lucro para baixo. Vai ter na Embraer e em algumas poucas. Vai ter na Suzano, que exporta papel e celulose e que vai ter que arrumar um comprador em outro lugar, mas não é o fim do mundo.”
Na avaliação de Peixoto, a tarifação é “pior para o Brasil do que é para a bolsa brasileira”. O gestor calcula que poderia ser necessário depreciar o câmbio em 5% para compensar as perdas com as exportações. Já no campo empresarial como um todo, segundo ele, as companhias que mais poderão ser afetadas são as menores, menos capitalizadas e as dos setores de café e laranja. Ou seja, o impacto maior seria para empresas que não têm atividade na bolsa.
Na leitura do executivo, a piora recente nos preços dos ativos locais desde a imposição do “tarifaço” de 50% sobre produtos importados brasileiros foi ditada pela saída de investidores estrangeiros e não pelo fator eleitoral.
“A euforia do mercado [com as eleições] é muito mais no discurso do que na prática. Eu pessoalmente, como gestor, acho inviável ficar 13 a 14 meses num ‘trade’ eleitoral, sendo que nas últimas duas eleições vimos queda de avião [que matou o candidato Eduardo Campos em 2014] e facada [em Jair Bolsonaro na campanha de 2018]. É muita volatilidade para você ficar assim e com outras coisas acontecendo no mundo”, disse.
Para o gestor, o Brasil era visto como um país que estava “navegando de forma mais tranquila” nos últimos meses pelo fato de que, inicialmente, o governo Trump impôs tarifa de apenas 10% aos produtos do país, bem menor que a de outros mercados. Agora, a situação mudou: “o estrangeiro olha e pensa que não vai botar dinheiro em um país que está ‘brigando’ com os Estados Unidos”.
Ainda que o curto prazo ainda seja de fluxos contidos ou até de vendas por parte de estrangeiros, o capital externo deve continuar vindo para a bolsa local no médio e longo prazos, segundo Peixoto. Contribuem para isso o enfraquecimento global do dólar e a diversificação para além dos EUA – e não as peculiaridades do Brasil.
Após forte avanço de ações de concessões públicas neste ano, o gestor disse que optou por “colocar um pouco no bolso” e reduzir a posição a esses papéis. Segundo o executivo, a diferença entre a taxa interna de retorno (TIR) das ações do segmento e o juro oferecido por título público atrelado à inflação de mesmo prazo ficou menor. Anteriormente, a TIR estava em cerca de 14%, em média, e o juro real em 7%, mas o retorno caiu para 10%, em média, variando entre as empresas.
Por outro lado, o gestor aumentou a posição em Hypera. “Ela fez uma reestruturação grande de capital de giro e isso bagunçou os resultados de curto prazo, mas o segundo trimestre pode mostrar um número mais recorrente. Está barata no nível atual.”
Fonte: Valor Econômico