A mão pesada contra o Brasil no tarifaço promovido por Donald Trump pode adiar o fechamento de transações realizadas por fundos de private equity e venture capital no país, que têm mostrado recuperação nos últimos 12 meses.
De abril a junho, os investimentos realizados por fundos de private equity somaram 16 operações, ou R$ 6,8 bilhões, o maior valor desde 2019 para o período e um crescimento de 750% em relação ao ano passado, quando foram fechadas 17 transações. No ano, houve 34 transações, que totalizam R$ 13,4 bilhões.
“Pode haver congelamento de decisões, com os investidores esperando ficar mais claro o que vai acontecer”, avalia Priscila Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap).
A executiva lembra que o aumento da tarifa de importação para produtos brasileiros para 50% pelo governo dos Estados Unidos não afeta apenas os exportadores, mas também setores mais voltados para o mercado doméstico como o de saúde. “A questão tarifária pode gerar mudanças de preços globais. No setor de saúde, por exemplo, os medicamentos possuem componentes que são importados.”
Segundo ela, o investidor estratégico estrangeiro ainda está avesso a olhar o Brasil, mas ao mesmo tempo o cenário traz um momento favorável para compras, já que os preços estão favoráveis.
No segundo trimestre, o setor de energia representou 54,5% do volume investido por fundos de private equity. Em abril, o fundo canadense CDQP pagou R$ 5 bilhões pelos ativos de transmissão da Equatorial, maior transação realizada no período.
Já a indústria de venture capital mostrou uma desaceleração, sem relação com o tarifaço, ao menos por enquanto. Os investimentos desses fundos totalizaram 20 transações, que somaram R$ 1 bilhão, queda de 60% frente ao registrado no mesmo período do ano passado e o menor volume desde 2019, dado mais antigo da Abvcap.
Os setores de TI e serviços financeiros continuam dominando as transações, representando 46,93% e 32,77% do total respectivamente. Segundo a executiva, depois do boom visto em 2021, com o aumento das alocações de fundos globais, o valuation das empresas caiu com o cenário de juros altos e muitos empreendedores decidiram adiar a realização de novas rodadas para não serem muito diluídos.
Os fundos globais de venture capital, segundo ela, continuam olhando investimentos no Brasil, mas os cheques não estão tão grandes quanto os do período entre 2019 e 2021 e estão preferindo coinvestir com gestoras locais.
Além disso, o aumento do prazo para os desinvestimentos dos fundos faz com que caia o volume de recursos novos no mercado disponíveis para investimento.
O número de venda de participações envolvendo fundos de private equity totalizou 13 transações no segundo trimestre , que totalizaram R$ 1,5 bilhão. Já os desinvestimentos por parte de fundos de venture capital somaram 14 saídas , que totalizaram 140 milhões.
“Apesar do mercado desafiador para saídas, continuamos verificando vendas para estratégicos e no mercado secundário, de fundos vendendo para outros fundos”, diz Rodrigues.
Para o segundo semestre, a presidente da Abvcap espera a manutenção das participações de fundos de private equity e venture capital nas transações de M&As, apesar do cenário macroeconômico de maior incerteza. “É importante a gente ver mais saídas dos investimentos para que as gestoras possam fazer mais captações. Hoje, o ciclo está mais truncado, com os fundos demorando mais para desinvestir dos ativos”, diz.
Fonte: Valor Econômico

