As empresas taiwanesas investiram mais no Sudeste e Sul da Ásia do que na China pela primeira vez em 2022, disse Wang Mei-hua, ministra de Assuntos Econômicos de Taiwan ao “Nikkei Asia” na terça-feira.
“Acreditamos que a tendência só continuará por causa do impulso das tensões comerciais entre Estados Unidos e China”, afirmou a ministra.
Ela considerou isso um marco significativo nos esforços da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, para se voltar para a região e se afastar da China sob a Nova Política Sul lançada em 2016. Os investimentos de Taiwan nas nações do Sudeste Asiático e do Sul da Ásia, incluindo a Índia, atingiram US$ 5,2 bilhões em 2022, superando os US$ 5 bilhões investidos na China no mesmo período, disse Wang.
Pequim está investigando Taiwan por supostamente erigir barreiras comerciais e disse que sua investigação será concluída um dia antes da eleição presidencial de 13 de janeiro, uma medida que Wang disse ter “motivação muito política”.
A China comunista nunca governou Taiwan, mas vê a ilha de 23,5 milhões de habitantes como seu território e não descartou o uso da força militar para tomá-la.
Pequim denunciou repetidamente o governo Tsai e o favorito à presidência, Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (DPP), por defenderem a soberania de Taiwan.
“Na verdade, em todas as eleições presidenciais, a China utiliza vários métodos para tentar influenciar as eleições de Taiwan”, disse Wang, referindo-se ao uso de restrições comerciais por parte de Pequim para coagir os eleitores a escolher o seu candidato preferido. Ela destacou o fato de que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, alertou o presidente chinês, Xi Jinping, para não interferir nas eleições de Taiwan.
“Prevemos que os meios de pressão econômica da China só aumentarão, ao invés de diminuírem”, alertou a ministra.
Em agosto, o governo chinês acusou Taiwan de violar o Acordo de Cooperação Econômica Bilateral (ECFA) ao impor restrições aos produtos chineses. Pequim ameaçou acabar com as tarifas preferenciais para produtos taiwaneses acordadas no âmbito do ECFA, num aviso velado aos eleitores taiwaneses.
Alguns, incluindo os partidos da oposição de Taiwan, estão preocupados que a investigação possa levar ao encerramento total ou parcial do ECFA, mas Wang disse que o impacto de tal medida seria relativamente menor.
“O volume de comércio entre Taiwan e a China é realmente muito grande. Em 2022, o nosso volume de exportações para a China foi de US$ 185,7 bilhões, mas pelo ECFA foi de US$ 20,6 bilhões”, disse Wang. “Se o ECFA fosse extinto, o impacto seria relativamente pequeno em termos do nosso volume total de exportações para a China, mas afetaria indústrias mais tradicionais.”
Para além das ameaças do ECFA, Pequim apertou ainda mais os parafusos recentemente, ao proibir mais produtos agrícolas taiwaneses e ao lançar investigações nas fábricas da Foxconn Technology depois que seu fundador, Terry Gou, ter anunciado a sua candidatura à presidência de forma independente.
A decisão de Pequim de aumentar o escrutínio sobre Gou, apesar de querer laços mais estreitos com a China, e as suas táticas de pressão minam os apelos dos candidatos presidenciais da oposição Hou Yu-ih (partido Kuomintang) e Ko Wen-je (Partido Popular de Taiwan) para relações econômicas mais próximas com a China.
Gou desistiu da disputa na sexta-feira passada, o que poderia ajudar a consolidar os votos da oposição.
O porta-voz do DPP, Cho Kuan-ting, disse que a investigação comercial é a forma de a China atingir Wang, a mulher mais graduada no governo de Tsai e, possivelmente, a ministra mais importante fora das pastas de defesa e segurança nacional. O seu trabalho envolve supervisionar as áreas críticas da segurança econômica e energética, bem como o comércio, a indústria, os investimentos estrangeiros e, principalmente, o setor de semicondutores de Taiwan.
Com formação em advocacia, Wang é funcionária pública de carreira e exerceu o cargo de diretora-geral do Gabinete de Propriedade Intelectual até 2016, altura em que foi promovida a vice-ministra dos Assuntos Econômicos.
Os crescentes investimentos de Taiwan no Sudeste e Sul da Ásia são um legado do qual a administração em exercício se orgulha. “Não falamos sobre ‘redução de riscos’ naquela época [em 2016], mas o princípio é o mesmo: não coloque todos os ovos na mesma cesta”, disse Wang, referindo-se à Nova Política Sul.
Os principais fornecedores de tecnologia de Taiwan aceleraram seus movimentos para diversificar fora da China após a escalada da guerra comercial entre Washington e Pequim em 2018. Durante esse período, muitos clientes dos Estados Unidos pediram a seus fornecedores que desenvolvessem capacidade em Taiwan e em países do Sudeste Asiático, como Vietnã, Tailândia e Índia, diante da turbulência geopolítica.
A tendência tornou-se ainda mais óbvia este ano, disse Wang, salientando que os investimentos no Sudeste Asiático e na Índia por empresas taiwanesas atingiram US$ 4,3 bilhões nos primeiros nove meses de 2023, em comparação com apenas US$ 1,26 bilhão para a China no mesmo período.
“Com a guerra comercial entre Estados Unidos e China, surgiram discussões sobre produtos eletrônicos relacionados à segurança cibernética, que vão de servidores a produtos de rede”, disse Wang, acrescentando que os pedidos de clientes americanos e europeus para se afastarem da China poderão ter efeito.
Taipei já segue de perto os controles e regras de exportação dos Estados Unidos, e a chamada Lista de Entidades de Washington – essencialmente sua lista de banimento comercial – serve como modelo para a cadeia de fornecimento de tecnologia de Taiwan, especialmente o setor de semicondutores, disse Wang.
“Estudamos muito de perto as regras de controle de exportações dos Estados Unidos, uma vez que as nossas empresas utilizam muitas tecnologias originárias dos Estados Unidos”, disse Wang, acrescentando que o governo americano também envia os seus especialistas em controle de exportações a Taiwan para explicar os detalhes dessas regras.
No mês passado, o governo dos Estados Unidos reforçou ainda mais os controles de exportação, restringindo as vendas de chips de inteligência artificial do grupo americano Nvidia para a China, bem como limitando mais exportações de equipamentos de produção de semicondutores para países como China, Vietnã e Oriente Médio, mas excluindo Israel. Equipamentos de produção de chips são cruciais para que as empresas aprimorem suas capacidades de fabricação.
Taiwan logo seguirá essas medidas. Neste ano, o governo publicará uma lista de tecnologias críticas que devem ser protegidas, disse recentemente o chefe do Conselho de Segurança Nacional, Wellington Koo, ao “Nikkei Asia”.
Fonte: Valor Econômico

