Por Marta Watanabe, Valor — São Paulo
05/12/2023 11h04 · Atualizado há 4 horas
A surpresa positiva da atividade econômica no terceiro trimestre fez economistas colocarem viés positivo para o desempenho esperado do PIB em 2023, com estimativas que podem ficar mais próximas do 3% no ano.
O PIB do terceiro trimestre cresceu 0,1% em relação aos três meses anteriores, na série com ajuste sazonal, segundo divulgação desta manhã do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio acima da mediana das 71 projeções coletadas pelo Valor Data, que indicava queda de 0,2%.
Dentro das revisões habituais no período para a série histórica, o IBGE revisou o resultado anual de 2022 para cima, de 2,9% para 3%. Os resultados do primeiro semestre de 2023 também foram alterados. O primeiro trimestre deste ano ficou com alta de 1,4% (ante 1,8% anterior) e o dos três meses seguintes, para 1%, antes em 0,9%, considerando a variação trimestral, com ajuste sazonal.
O desempenho do terceiro trimestre, aponta Gabriel Couto, economista do Santander, implica transporte estatístico de 3% para o PIB de 2023, “Assim, a nossa previsão de crescimento do PIB de 2,5% para 2023 está atualmente em revisão, com riscos inclinados para cima”, diz, em boletim divulgado pelo banco esta manhã.
A condições financeiras continuam em níveis criticamente restritivos, o que se reflete no contínuo enfraquecimento dos investimentos fixos, diz Couto. Contudo, ressalta, o consumo das famílias continuou a demonstrar uma elevada resiliência. “Do lado da oferta, apesar da confirmação de uma desaceleração ampla, todos os setores superaram as nossas expectativas, significando uma resiliência generalizada para a economia brasileira.”
Rodolfo Margato, economista da XP, avalia que o resultado do PIB do terceiro trimestre “não foi uma surpresa significativa, embora positiva”. A corretora esperava queda de 0,2% nesse período, em relação aos três meses anteriores, na série com ajuste sazonal.
A impressão inicial, aponta, é de que o PIB de 2023 vai crescer algo como 3%, também devido à revisão altista do IBGE para agropecuária. Margato diz que a XP deve fazer uma análise mais completa do PIB, mas “fica já algum viés de alta em torno da nossa projeção de 2,8% para o PIB de 2023, talvez um crescimento na casa de 3% tenha uma probabilidade maior após a divulgação dos dados do terceiro trimestre.” Olhando para 2024, a XP mantém estimativa de desaceleração, com alta de PIB de 1,5% com menor contribuição relativa da agropecuária e avaliação de que demanda irá gradualmente perdendo força.
No terceiro trimestre, diz Margato, a surpresa em relação ao estimado pela XP decorreu em grande medida de desempenho mais forte que o esperado em serviços de intermediação financeira e também serviços industriais de utilidade pública.
Pelo lado da demanda, Margato destaca também o desempenho mais forte do consumo das famílias, mais uma vez registrando resiliência do consumo privado mesmo com condições de crédito apertadas e alto endividamento das famílias.
“Observamos ao longo em 2023 alívio na inflação de curto prazo e aumento da renda real disponível das família que sustentou o consumo e mais uma vez observamos isso”, diz Margato em divulgação distribuída hoje pela XP. Houve também, diz, contribuição positiva do setor externo, dentro do esperado. Do lado negativo, mais uma queda dos investimentos. “Do lado da demanda permanece resiliência do consumo das famílias e do outro enfraquecimento dos investimentos, em linha com a política monetária contracionista.”
Guilherme Sousa e Étore Sanchez, da Ativa, destacam que o desempenho divulgado para o PIB agregado do terceiro trimestre teve como efeito a revisão da projeção da corretora para o PIB de 2023, de 2,5% para 2,9%, “sob reflexo de uma resiliência do agropecuário e “retorno” dos setores da indústria e serviços”. A casa revisou também a perspectiva do PIB de 2024, de 1,3% para 1,5%.
Os dois economistas destacam, entre as surpresas positivas do terceiro trimestre, o avanço nos segmentos de serviços em ala de 0,6% ante os três meses anteriores, com ajuste sazonal, e alta da indústria de mesma magnitude, descolando bastante do que indicavam as pesquisas de alta frequência de serviços e de indústria do IBGE [PMS e PIM].
Em linhas gerais o número do terceiro tri, dizem Sousa e Sanchez, traz otimismo por si, mas ainda não denota um crescimento estruturalmente robusto da economia, ainda mais para 2024, visto que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) apresentou queda no terceiro trimestre de 2,5% ante os três meses anteriores.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, diz que por enquanto a corretora não vai alterar o cenário, mantendo a projeção de crescimento do PIB de 3% em 2023 e de 1,4% para 2024. Ele destaca que no PIB do terceiro trimestre os setores que performaram bem são os que os analistas têm dificuldade de acompanhar e por isso não chega a ser tão grande a surpresa. Pela indústria, aponta, o avanço foi puxado, principalmente, pelo setor de utilities (energia elétrica, saneamento e afins), que subiu 3,6% no terceiro trimestre contra os três meses anteriores, com ajuste sazonal.
“Apesar da surpresa, não estou convencido que os números alteram o cenário de atividade fraca. Acho que o consumo, de fato, surpreendeu positivamente. Mas olhando os dados de oferta de forma desagregada, o recuo dos investimentos e das importações, pela ótica da demanda, me fazem crer que os dados são mais condizentes com um cenário de PIB fraco”, diz Borsoi.
05/12/2023 10:59:43
Fonte: Valor Econômico

