13 Mar 2024 GUILHERME GUERRA
No futuro, usaremos computadores de rosto. Essa é uma das previsões da futurologista Amy Webb, fundadora e presidente executiva do Future Today Institute, conhecida por apontar previsões estratégicas para executivos e tendências de longo prazo do mercado de tecnologia. No sábado passado, ela subiu ao palco do South by Southwest (SXSW) 2024, festival de inovação, cinema e música que se estende até o próximo fim de semana em Austin, nos EUA, para falar sobre como devem ser nossas vidas nas próximas décadas.
Segundo Amy, presenciamos hoje um “superciclo de inovação” que deve mudar a Humanidade. Ao contrário de outras revoluções, como a industrial ou elétrica, esta nova onda é turbinada por três tecnologias: inteligência artificial (IA), aparelhos conectados e biotecnologia. “Isso vai literalmente transformar a existência humana.” Ela fez sete previsões para os próximos anos:
RESPONSABILIDADE DA IA. Nos próximos 12 a 18 meses, empresas de tecnologia como OpenAI, Google e Anthropic vão desacelerar investimentos em IA para corrigir erros nessas ferramentas e conter eventuais danos.
Amy aponta que, mais de um ano após a popularização dos geradores de imagem como Midjourney e DALL-E 2, esses modelos ainda apresentam vieses considerados pouco diversos, com predomínio de pessoas brancas. “Consertar esse problema é desafiador, porque os incentivos dessas empresas, hoje, estão em dar velocidade e escala a esses modelos de IA.”
Se medidas não forem tomadas, um “evento de deepfake” pode surgir, afirma Amy. Isso significaria que ferramentas de IA, turbinadas por robôs em redes sociais, poderiam criar fotografias e vídeos irreais, causando pânico social.
ADEUS, LLM. Os modelos amplos de linguagem (LLM, na sigla em inglês) são a tecnologia por trás de ferramentas como ChatGPT. Trata-se de um conjunto de texto e imagens que ensina a IA a receber e entender comandos, bem como gerar conteúdo.
Em breve, porém, os LLM devem ser substituídos por uma versão mais completa: os modelos amplos de ação (LAM). Esses sistemas devem trazer não só texto e imagens da web, mas informações sensoriais, para definir o que deve ser feito em seguida.
O LAM é mais eficiente ao se antecipar a ações do usuário, o que pode torná-lo mais útil para tarefas do dia a dia. Esses modelos devem dominar os dispositivos de IA que já começam a chegar ao mercado, como o R1 e o Ai Pin, da Humane.
COMPUTADOR FACIAL. Os “computadores de rosto”, como diz Amy Webb, já estão aí: o Vision Pro, da Apple, é o maior exemplo disso. “Imagine um Vision Pro daqui a 18 edições. Vai ser um computador em seu rosto.”
A futurologista aponta que esses dispositivos vão dominar nossas vidas, turbinados por dezenas de sensores e inteligência artificial. Isso vai permitir que leiam nosso corpo e nossas intenções.
Amy diz que no futuro a tecnologia pode levar a um social scoring, com indivíduos ranqueados a partir de pontuações sociais. “Essa é a próxima etapa do capitalismo.”
BIOLOGIA GENERATIVA. Os avanços em IA vão permitir que a máquina consiga fabricar substâncias orgânicas, como criação de moléculas, proteínas, remédios e até tecidos. “Vamos poder gerar nova biologia. E isso pode significar novas terapias, novas formas de combater as mudanças climáticas.”
ORGANOIDE INTELIGENTE. O avanço da biologia generativa vai permitir que a inteligência artificial crie tecidos orgânicos que, em última instância, vão substituir os componentes de silício que abastecem os chips e processadores eletrônicos. Segundo Amy, esses organoides inteligentes vão replicar tecidos orgânicos e vão conseguir transmitir informações. Isso vai permitir a popularização da biocomputação com células humanas. “Vai demorar um pouco, mas eventualmente esses sistemas vão superar a computação tradicional.”
O superciclo de inovação apontado por Amy Webb já começou. Turbinado pela inteligência artificial, o movimento vai alterar a dinâmica da economia mundial e como as sociedades se organizam.
Ecossistemas de dispositivos conectados, que vão de smartphones a eletrodomésticos, vão gerar dados para alimentar essas IAs. “No passado, os superciclos eram definidos por uma tecnologia. Isso não acontece mais”, diz Amy, citando a chegada da internet, a industrialização e a eletricidade. Agora, são três saltos de uma vez. “Isso vai literalmente transformar a existência humana”.
‘GERAÇÃO T’. Amy diz que, ao fim desse superciclo, uma nova geração de pessoas vai nascer. Até lá, no entanto, somos todos parte da “geração T”, a geração de transição. “Todos que estão vivos hoje fazem parte dessa grande transição.” •
“No passado, os superciclos eram definidos por uma tecnologia. Isso não acontece mais. Agora, são três saltos de uma vez. Isso vai transformar a existência humana” Amy Webb – Future Today Institute
O REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DO ITAÚ
Fonte: O Estado de S. Paulo

